33. Caos

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Os últimos três dias foram horríveis. Não tive outra alternativa a não ser ligar para Cristal e contar tudo o que descobri, afinal de contas, havia pouquíssimo tempo para elaborar uma maneira menos danosa de disparar a bomba e me obriguei a recorrer ao método mais rápido. Ela ficou extremamente furiosa ao saber da traição de Melinda, mas não esboçou nenhuma surpresa. Decidiu que contaria tudo para o irmão e daria um jeito de fazer isso sem que o príncipe cometesse assassinatos.

Horas depois, Cristal ligou para me contar como as coisas se desenrolaram e, apesar de seu palpável alívio, o tom de voz da garota denotava certa melancolia. Cameron, depois de destruir as próprias mãos esmurrando um saco de boxe, ficou trancado em seu quarto e não quis falar com ninguém. Antes que o sol nascesse, deixou o palácio e sumiu do mapa. Desligou o celular e saiu sozinho, de carro, sem motorista ou seguranças.

Passou a segunda-feira inteira sumido e faltou aula. Enquanto sua família agonizava de um lado, eu agonizava do outro. Tentei distrair a minha cabeça na biblioteca, mas minha mente não parou um sequer segundo. Fiquei criando um milhão de teorias que terminavam em mortes tenebrosas. Passei uma metade do dia ligando para o palácio de Goldencage e outra metade recebendo telefonemas de Cristal, em busca do paradeiro do irmão.

Na terça-feira, quando fui para o café da manhã, lá estava Cameron: sentado nos fundos do refeitório, cabisbaixo, mexendo no celular. Logo notei suas mãos enfaixadas e meu coração se repartiu diante da cena. A expressão dele, por outro lado, estava impassível. Apesar da vontade avassaladora de atravessar o recinto e ir falar com o príncipe, me contive e fiz a refeição com meus amigos. Quando terminei, fui imediatamente ligar para Cristal e avisar que o garoto estava na escola.

Fizemos todas as aulas juntos, como já é rotineiro, mas resolvi me manter em silêncio durante o dia inteiro. Cameron também não esboçou disposição para conversar, o que apenas contribuiu para que eu continuasse quieta, respeitando o espaço dele. Na quarta-feira, ele se sentou sozinho em todas as refeições e continuou sem falar comigo. Na quinta-feira, eu já estava prestes a entrar em colapso.

De uma maneira inexplicável, havia uma necessidade avassaladora de falar com Cameron me devorando por dentro desde o dia de seu sumiço. E, antes que eu conseguisse pensar direito, decidi que ia cruzar o refeitório e confrontá-lo.

Agora, enquanto faço isso, encontro-me um pouco arrependida, mas não posso simplesmente dar meia-volta, pois o príncipe está com os olhos cravados em mim, já que percebeu que estou indo em sua direção. Minhas pernas parecem querer falhar, mas me esforço para manter a caminhada. É difícil fazer isso sendo observada e lembrar que beijei o príncipe há apenas alguns dias (e fui imediatamente rejeitada) torna tudo um pesadelo.

— Oi. — digo, puxando a cadeira ao lado dele e me sentando. Faço isso rápido, antes que haja qualquer protesto que me impeça. Cameron, no entanto, permanece impassível. — O que está acontecendo?

Ele fica em silêncio, mas o encaro durante todo o período que se mantém calado, até que a situação se torne constrangedora ao ponto de fazê-lo suspirar. Não quer conversar, mas sabe que vou insistir. Ótimo.

— Preciso de espaço pra processar algumas coisas. Só isso.

— Que tipo de coisas?

Ele me encara. As olheiras escurecendo seus olhos azuis me causam arrepios. É de partir o coração vê-lo nesse estado, embora o troglodita mereça ser estapeado por sua burrice.

— Melinda e eu terminamos. E... — Ele se recosta na cadeira, desviando o olhar. — Bom, antes que você pergunte o motivo, já que não consegue controlar essa sua maldita curiosidade, terminamos porque ela estava me traindo. E, além disso, descobri mais algumas coisas sobre o passado dela, nada agradáveis, envolvendo a minha irmã.

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