Capítulo Quatorze

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Pedro ☕

Eu tinha o gosto dela na boca, doce e fresco como uma manhã de primavera.
Meu corpo ainda parecia sentir o calor do seu e isso me atormentava.
Eu devia ter detestado nosso contato,só havia lhe beijado para lhe punir e calar sua boca que só me dirigiam ofensas,mas quando provei o sabor de seus lábios cheios, só consegui sentir desejo.

Praguejei e soquei a superfície dura da parede,encostei a cabeça nos braços e permaneci assim alguns minutos, esperando que meu corpo voltasse ao normal e o desejo pela maldita professora passasse.

Era perturbador me sentir tão atraído pela mulher,desde criança fui ensinado pelo meu pai a odiar aquela gente, as vezes ele me tratou de maneira dura para que eu desenvolvesse o mesmo desprezo que ele sentia por aquela raça,e ali estava eu, queimando de desejo por uma mulher negra.
Uma mulher que me desafiava e que possuía uma língua ferina e um temperamento dos infernos.

Meu membro forçava contra o jeans,me fazendo ansiar por te-la novamente em meus braços e desfrutar de bem mais que apenas um beijo.
Mas eu pretendia lutar contra aqueles sentimentos.

Um batida na porta me distraiu,endireitei o corpo e falei um "entre" mau humorado.
Meu filho parou no umbral,o curativo e as manchas roxas em seu rosto voltaram a me perturbar ,Benjamin era maduro para sua idade,desde cedo fora criado para ser um homem independente,com seus dezesseis anos era mais responsável do que muitos homens adultos,mas vê-lo ferido e envolvido em brigas de rua me enchiam de descontentamento.
Talvez eu devesse ter sido mais superprotetor em relação a ele.

Quando Susana morera,Ben ainda era muito pequeno,o destino havia lhe privado do carinho da mãe e sei que isso lhe fizera falta.

-Posso falar com o senhor?
Assenti e ele entrou cauteloso,seu nervosismo era tangente.
- Não precisa ficar nervoso filho, não estou bravo contigo, apenas preucupado.

Eu estava mais bravo comigo por não ter evitado aquilo.
-Eu sei pai, mas eu queria lhe contar o motivo de ter brigado,quero que saiba por mim e não pelo Lucas Schumacher.
-Foi com ele que brigou?
Benjamin confirmou, e não precisou dizer mais nada, o garoto dos Schumacher fora quem viera falar para meu pai que Ben andava de namoro com a filha de um antigo conhecido, uma menina negra.
Certamente ela fora o motivo da briga.
-Me conte.
Falei,pronto para confirmar minhas suspeitas.
Benjamin começou a falar e o escutei em silêncio.

Lorena 🌞

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Lorena 🌞

Demorei um bom tempo sob o chuveiro,deixei a água quente acalmar meu espírito confuso.

A lembrança do beijo não deixava meus pensamentos, bastava fechar os olhos para reviver tudo novamente,o desejo primitivo que fez com que me abandonasse nos braços daquele homem odioso e logo depois a forma como ele me humilhara.

Da forma que me deixei dominar,bastou um beijo para ele ter poder sobre mim.
Aquele sentimento de abandono, que experimentei nos braços de Pedro era desconhecido para mim, desconhecido e assustador.
Eu nunca mais permitiria que um homem tivesse aquele poder sobre meu corpo.

Desliguei o chuveiro e sai do box, um grande espelho ficava atrás da porta do banheiro,enquanto me secava observei meu reflexo.
Meu corpo cheio de curvas,meus lábios cheios, meus cabelos volumosos e cheios de cachos.
Toda minha herança étnica.

Eu tinha muito orgulho das minhas raízes africanas,jamais me envergonhei da cor da minha pele ou de meu cabelo,que haviam me feito sofrer preconceito desde que era apenas uma criança e nem sabia o que era a descriminação.

Eu havia vencido o preconceito,quando muitos me disseram que eu não conseguiria, que a cor da minha pele seria sempre uma barreira, eu simplesmente ignorei e segui em frente.

E agora eu caíra sem reservas nos braços de um homem preconceituoso e machista,um tipo de homem que sempre desprezei.

Pedro era a personificação de tudo o que eu detestava e mesmo que seu beijo tivesse feito acender em mim sensações nunca experimentadas,eu o manteria afastado.
Mesmo que agora vivêssemos na mesma cidade.

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