Capítulo 32

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"Vejam! Vejam! Ele finalmente encontrou aquilo que procurava! Ele finalmente está contente! Vejam todos! Vejam todos! Ele está seguindo em frente..."

[Luz do dia. Capítulo 20. Fernando Garcia.]

Eu estava observando Alérci escrever e posso dizer que ele não estava nada contente. Ele já havia jogado vários rascunhos fora, insatisfeito, com raiva... triste. Era isso. Eu não havia notado ainda, mas Alérci carregava uma profunda tristeza no olhar.

— Droga! Nada dá certo! - ele exclamou, frustrado.

- Calma. É assim mesmo que funciona, você só tem que ter paciência. - tentei acalmá-lo. Afinal, não é dessa forma que as coisas funcionam. Nada é instantâneo.

Alérci respirou profundamente três ou quatro vezes. Ele fechou os olhos e, quando os abriu, pensei tê-los visto rasos de lágrimas prestes a serem derramadas.

- Eu não sei se acredito nisso. - resmungou.

- Alérci... - hesitei. Mas como eu poderia ter certeza de qualquer coisa? Poderia ser só mais algum dilema comum, como uma nota baixa na escola ou a falta de amigos. Afinal, Alérci era apenas um adolescente. - Você está bem?

E ele suspirou. E suspirou mais uma vez. Encarou o teto e respirou fundo.

- Não. Estou com problemas. - ele respondeu, olhando para qualquer lugar, menos para mim.

Talvez estivesse envergonhado ou chateado. Ou os dois, sei lá. A única coisa que sei é que Alérci não emitia a mesma ironia de cinco minutos atrás.

- Você quer conversar sobre isso? - eu realmente estava preocupado. O que fizeram com esse garoto, afinal?

- Sim, eu... acho que sim. - respondeu e direcionou o seu olhar para mim. Era um olhar sofrido, amargurado... triste.

- Estou escutando. - incentivei-o a desabafar.

E o que eu ouvi me deixou triste pelo meu amigo. Ele realmente sofria de dor de coração partido. Uma das dores mais profundas que se pode carregar.

- Ela disse que não quer mais nada comigo. Disse que eu acabaria sendo influenciado por minhas raízes, que eu, provavelmente, encontraria uma cigana por quem eu me apaixonaria. Pelo amor de Deus, quem ela pensa que eu sou? Eu sou adolescente, mas tenho caráter. Eu tenho vergonha na minha cara! - ele desabafou. - O pior de tudo é que eu chorei na frente dela. Fernando, eu implorei para Olívia não me deixar... e ela simplesmente virou as costas e se foi, deixando-me sozinho para sofrer.

Você entendeu o dilema do Alérci? Ser cigano não é nada fácil. Você sofre preconceito e as pessoas logo o classificam como vagabundo ou mão-leve. E Alérci, sendo um aspirante a escritor, sofre mais preconceito ainda.

Ele foi o primeiro de seu clã a querer frequentar uma escola. Ele foi o primeiro também a querer se estabelecer em um lugar por mais tempo do que o considerado necessário, de acordo com as suas tradições. Alérci foi o primeiro a ter amizade com os gadjês (os não-ciganos), que, no caso, somos Elisa, tio Alberto, tia Milena, Pedro, Aline, Alegria (ela adora o Alérci até mais que o próprio pai) e eu. Ou seja, Alérci é praticamente considerado a desonra do seu clã.

E a coisa só piorou quando ele se apaixonou por uma gadjê. Tudo bem, não há nada de errado nisso. Sinceramente, eu sou a favor do amor e não me importo com essa coisa de cor, credo e posição social diferentes, mas eu entendo que deva ser difícil para alguém de dezesseis anos suportar esse tipo de diferença. Ainda mais com a pressão que os pais fazem quanto a isso.

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