Capítulo 24

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"E eu caminharei na água. E você me pegará, se eu cair. E eu me perderei nos seus olhos. Eu sei que tudo vai dar certo."

[Storm, Lifehouse.]


Minha respiração falhou e eu temi ter a terceira parada cardíaca depois de ouvir aquelas palavras saírem dos lábios de Elisa.

Palavras que ficaram ecoando em minha cabeça.

E, finalmente, como eu poderia sobreviver sabendo que o cara que eu amo não respira mais?

Como eu poderia sobreviver sabendo que o cara que eu amo não respira mais?

O cara que eu amo.

Eu amo.

A sensação de estar em queda livre se apoderou de mim.

Não era ruim, muito pelo contrário. Eu me senti vivo. Eu senti o meu sangue correr nas minhas veias e o meu coração bater forte de uma forma que eu jamais senti na vida, nem mesmo com Alice. E antes que a sensação de adrenalina acabasse, eu me senti flutuando. Sendo puxado para cima com uma leveza que eu nem sei como descrever.

Internamente eram essas as sensações que eu tive, mas por fora eu estava em choque. Porque a informação me atingiu como um soco e aquele sapo que estava em minha garganta parecia ter aumentado de tamanho.

— Fernando? — Elisa pareceu preocupada. Seus lábios e suas sobrancelhas estavam igualmente franzidos, seus olhos cintilavam de uma forma diferente, e o medo de tudo isso ser o início do fim da nossa amizade me fez querer encolher os ombros e fingir que eu não ouvi nada do que ela me disse. — Você está bem?

Eu respirei fundo. Não era como se isso resolvesse muita coisa, mas eu realmente precisava de ar naquele momento. Então eu fiz o que qualquer outra pessoa no meu lugar não faria naquela situação. Eu desviei o assunto.

— Eu só estou um pouco cansado. — Olhei para as minhas mãos. Não queria ter que olhar para a expressão decepcionada e muito menos para o olhar triste que eu sabia que Elisa estava carregando.

Seria demais para mim.

— Tudo bem, eu... eu vou deixá-lo descansar enquanto o médico não volta com a sua alta. — Eu pude notar a decepção e a tristeza em sua voz. E eu engoli a seco quando senti os seus lábios tocarem a minha testa. — Só... descansa. Daqui a pouco eu o levo para casa.

E quando ela atravessou a porta, deixando para trás o aroma do seu perfume, apenas uma palavra ecoava em minha mente.

Covarde.

Suspirei. Minha consciência nunca está do meu lado quando eu tento fazer a coisa certa. Afinal, como eu poderia ter algum relacionamento amoroso com Elisa mesmo sabendo que eu não era completo? Que eu era torto? Que com toda a certeza do mundo havia alguém lá fora que deveria ser ideal para ela? Alguém capaz de fazê-la feliz?

Como ela poderia querer algo com alguém como eu, que se embriagava para tentar esquecer outra?

Como ela poderia me amar? A mim, que havia dado apenas dor de cabeça e decepção para ela?

Torturei-me com todos estes questionamentos enquanto o médico, cujo o nome eu nem me dei ao trabalho de perguntar, não voltava com a minha alta. Eu estava angustiado. Eu a queria tanto em minha vida. Eu a queria tanto para mim. Mas eu também queria tanto que ela fosse feliz.

Eu estava perdido. Não saberia lidar com isso. E quando o médico voltou com a minha alta, percebi que o meu tempo havia acabado.

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