"Você estava longe, então por que voltou com olhos de verão que não vão entender?"
[Três lados, Skank.]
É impressionante esse sentimento chamado felicidade. Você está ali, feliz, distribuindo sorrisos e, de repente, puff, algo acontece, fazendo com que essa felicidade estremeça e a sua vida vire de cabeça para baixo... Novamente. Não há humor nessa situação, se você quer saber. Não há sarcasmo, tampouco. Talvez haja uma grande dose de ironia, porque, sinceramente, essa situação era muito irônica.
Lá estava eu, acompanhado da minha namorada, em um dos meus restaurantes favoritos da cidade. Eu estava feliz e satisfeito naquele momento. Não que eu estivesse com uma vida maravilhosa. Ainda havia a questão das minhas dívidas, da minha casa, do meu alcoolismo e do fato de eu não ter conseguido desenvolver a minha ideia para uma nova história ainda. Mas, mesmo com tudo isso, eu conseguia sorrir e ter esses momentos de felicidade com as pessoas que eu considerava como a minha família. E então, ainda no restaurante em que estava com a minha namorada, eu reencontro o fantasma que me assombrou por cinco anos.
Digamos que essa não era uma situação confortável.
Elisa continuava encarando o casal, sem nem ter percebido o meu estado de congelamento, de uma forma engraçada. Alice continuava com o sua gargalhada estrondosa, a mesma gargalhada que um dia eu considerei a mais encantadora do mundo, enquanto o seu acompanhante dizia algo que eu realmente não consegui ouvir.
— Eles são fofos juntos, apesar da gargalhada dessa mulher não ser algo muito bem recebido por meus ouvidos. - Elisa disse com o seu lindo sorriso de canto de boca.
Era esse o sentimento! As gargalhadas da Alice não eram tão bem recebidas pelos meus ouvidos como eram antes.
Eu me sentia estranho. Muito estranho, para falar a verdade. Era um sentimento bizarro que me fazia ter pensamentos um tanto quanto peculiares. Eu não sabia o que pensar a respeito disso que eu estava sentindo. Eu não sabia o que pensar da situação. Eu só sabia que algo novo estava prestes a acontecer e, por incrível que pareça, eu estava esperando ansiosamente por isso.
Suspirei e encarei Elisa. Eu precisava me agarrar à algo que me deixasse com os pés fixos ao chão ou eu perderia o controle. Ela estava sorrindo para mim e eu me vi na obrigação de dizer para ela que aquela mulher de gargalhada nada agradável aos nossos ouvidos foi a mulher que me abandonou no momento mais difícil da minha vida.
Agarrei as suas mãos sobre a mesa e as apertei fortemente com as minhas. Elisa levou um susto com o gesto repentino, mas logo retribuiu, embora seu olhar me transmitisse a sua confusão.
- Elisa... - comecei sem saber se isso era o certo a se fazer. Embora a conhecesse tão bem, como se nos conhecêssemos há uma eternidade, Elisa era sempre uma caixinha de surpresas e eu realmente não fazia ideia de qual seria a sua reação. - Essa mulher que está gargalhando agora... Essa mulher é... - suspirei. Deus, como isso era difícil!
- Você está me deixando preocupada. - Elisa disse com aquele franzir de sobrancelhas que eu considerava simplesmente adorável. - Essa mulher é?
Suspirei novamente. Decidi no mesmo segundo que seria rápido, só não tinha certeza se seria também indolor. Apertei mais ainda as mãos dela e depositei um beijo em cada uma delas. Respirei fundo mais uma vez.
- Essa mulher é a Alice. - disse sem nem pensar duas vezes.
~•~•~
A reação de Elisa me assustou um pouco. Ela estava estática, os seus olhos estavam arregalados e sua boca estava entreaberta. Suas mãos ficaram suadas e, logo depois do choque inicial, senti que ela tentava repelir o meu contato.
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Dê-me amor
RomanceFernando Garcia é um escritor que já fora famoso, mas agora, devido à toda a sua crise de bloqueio criativo, que já dura nada mais que cinco anos, se vê falido, afundado em dívidas e no álcool, seu atual companheiro a quem confia suas mágoas e princ...