Capítulo 37

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"Ela pode ser a bela ou a fera. Pode ser a fome ou a abundância. Pode transformar cada dia em um paraíso ou em um inferno. Ela pode ser o espelho dos meus sonhos. Um sorriso refletido em um rio. Ela pode não ser o que ela parece dentro da sua concha."

[She, Elvis Costello.]


Havia acabado. Aquele ciclo da minha vida havia se completado. Finalmente. Eu finalmente estava livre. Eu finalmente havia conseguido tapar todos os buracos negros do meu coração. Tudo bem que ainda havia sequelas desses cinco anos de sofrimento: o alcoolismo, as minhas dívidas, o meu bloqueio criativo... Pensando bem, acho que podemos riscar a parte do bloqueio criativo, já que a minha criatividade estava começando a ser desbloqueada.

Tudo isso graças a Elisa.

- Obrigado. - eu disse para ela, enquanto ainda a encarava com uma admiração incrível.

Elisa franziu o cenho e me encarou de volta, confusa.

- Pelo o quê? - perguntou, me fazendo sorrir.

Ela estava especialmente linda aquela tarde. Os seus cachos estavam livres, emoldurando o seu rosto, e os seus olhos estavam em um tom mais claro de azul. Os seus olhos... Os mais lindos que já vi. Os mais doces também. Os meus olhos preferidos.

- Por tudo. - respondi com um sorriso ainda maior que o anterior. - Por me aguentar reclamando da vida durante tanto tempo. Por me levantar nas horas em que eu estava no chão. Por me amar. Por me ajudar a recuperar o que eu era antes da Alice ter ido embora.

- Eu faria tudo de novo. - ela sussurrou, chegando perto o suficiente para que eu pudesse sentir o seu perfume.

E eu percebi que os apelos que Alice exercia sobre mim já não existiam mais porque outra pessoa se tornou apelativa de uma forma mil vezes maior. Todos os seus sorrisos, as suas caretas e feições eram tão graciosas que me faziam sorrir feito um bobo apaixonado.

E, de fato, eu era um bobo apaixonado. Bem mais que apaixonado, eu amava Elisa com todo o meu coração, ele agora era completamente dela.

- Eu sei que sim. - eu falei, aproximando-me também.

Elisa sorriu quando percebeu que eu já apoiava as minhas mãos em sua cintura. Ela sabia o que eu faria. Oras, até você sabe o que eu faria naquele momento.

E eu fiz. Beijei Elisa como se fosse a primeira vez, porém com todo o amor que eu sentia por ela. Com tudo o que eu sentia por ela de uma forma tão grande, tão surpreendente, que havia se tornado uma extensão do que eu era. Havia se tornado uma parte de mim. Uma das melhores.

Quando encerramos os nossos beijos, Elisa sorriu como uma bobona e me abraçou. Percebi que ela havia ficado corada, o que me fez gargalhar.

- Eu não acredito que você está envergonhada. - disse, com uma outra gargalhada presa em minha garganta.

Ela me deu um beliscão no braço e me ofereceu um sorriso divertido.

- Eu não tenho culpa. - ela deu de ombros. - É totalmente involuntário.

Olhei para ela mais uma vez e suspirei. Senti o meu coração bater rápido e o meu estômago dar cambalhotas. Passou a ser assim desde o momento em que eu me vi apaixonado por Elisa. A necessidade de tocá-la e reafirmar que ela era real. Que ela estava ali, ao meu lado.

- Eu te amo. - disse, entregando de vez o meu coração para ela.

Não havia mais nada que me fizesse sentir mal por ter o seu amor. Eu a amava. Eu a amava como nunca amei qualquer outra mulher. Era aquele amor maduro que as pessoas costumam almejar durante toda uma vida. Era aquele tipo de amor que supera as barreiras. Um amor insistente, um amor forte. Era um amor compreensivo. Ele não era um amor sufocante e nem mesmo um amor que fazia mal. Era a melhor forma de amor que existe: o amor que traz felicidade, amizade, completude. Ele não roubava nada de mim, nem de Elisa. Pelo contrário, ele adicionava e fazia com que eu me tornasse uma pessoa melhor.

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