"Livre pra poder sorrir. Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol."
[Lugar ao Sol, Charlie Brown Jr.]
Alérci é um garoto extremamente criativo. Ele consegue transformar todos os seu sentimentos em histórias incríveis e, ao contrário do que pensei, não era nada infantil. Era como um jovem adulto escrevendo sobre seus sentimentos — ele quem disse isso. E eu tive que sorrir.
Nós conversamos muito sobre as suas ideias. Na verdade, não tinha como não se empolgar com as ideias do garoto. Duas horas foram o suficiente para que ele escrevesse um conto impressionante. Duas horas foram o suficiente para que eu percebesse que, ao contrário do que achei, esse trabalho não seria um fracasso.
— Uau! Você é realmente bom com essa coisa de orientador — Alérci diz, realmente agradecido pelas dicas mínimas de escrita que dei à ele. Dicas que as pessoas aprendem na escola.
— Na verdade, eu não fiz nada além de lembrá-lo coisas que você já sabia, mas simplesmente esqueceu — disse, recusando-me a ter mérito por algo que eu nem fiz de fato.
— Mas se você não tivesse me lembrado, eu nunca pensaria nisso. — Ele sorri.
— Claro que pensaria. — Balancei a cabeça em negação e sorri de volta. — E se não pensasse, perceberia com o tempo. A prática nos leva mais próximos da perfeição, e escrever exige, além de uma boa imaginação, prática. E é isso que estamos trabalhando aqui. As pessoas acham que quem escreve é simplesmente possuído por um espírito criativo ou, como eu gosto de falar, inspirado pelas Musas. Mas é apenas questão de praticar até chegar naquilo que você quer. Você evolui na escrita com o tempo até achar o seu estilo. É só você comparar a qualidade da primeira obra de seu autor preferido com a qualidade da última. Tenho certeza que você vai perceber as mudanças de estilo e a maturidade da escrita.
Ele sorri e assente. Então fica encarando a parede, exatamente igual há algumas horas, quando o vi pela primeira vez.
— Sabe, acho que posso me abrir com você — Alérci diz, ainda olhando fixo para a parede, e eu me mexo desconfortavelmente na cadeira. Não entendo o que ele quer dizer.
— Como assim "se abrir"? — pergunto com um leve espremer de olhos. — Você não cometeu nenhum crime, certo? Porque eu não sei lidar com menores infratores.
Ele sorri de minha suposição, o que me deixa mais aliviado. Isso quer dizer que ele está limpo. Ou assim eu espero.
— Não, não é isso. Não sou um criminoso. Minha família é louca, e isso deixou algumas sequelas em mim, mas não afetou tanto assim a minha sanidade mental e nem me transformou em um gangster — ele disse de forma divertida, mas logo tomou um suspiro frustrado. — É só que... eu não sei o que fazer para conquistar a garota da minha escola. Ela nem ao menos olha para mim de outra forma senão como um bom amigo. — Ele sorri sem realmente achar graça, e então murmura. — Ou melhor dizendo, sem me ver como o seu melhor amigo.
Friendzone. Quantos garotos já não sofreram com isso? Eu mesmo já sofri. Mas o que a maioria das pessoas pensam é que essa posição tão indesejada de ser amigo da pessoa pela qual se está apaixonado não tem saída. É algo permanente. Mas tem jeito sim. Há formas de transformar a amizade em algo mais.
— Você ao menos tentou sair dessa situação de apenas melhores amigos? — pergunto, mesmo que no fundo eu já saiba a resposta.
É claro que ele não tentou. Ele é um garoto tímido e, apesar de ter o porte físico que atrai a maioria das garotas, tem cara de ser o CDF da turma.
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Dê-me amor
RomansaFernando Garcia é um escritor que já fora famoso, mas agora, devido à toda a sua crise de bloqueio criativo, que já dura nada mais que cinco anos, se vê falido, afundado em dívidas e no álcool, seu atual companheiro a quem confia suas mágoas e princ...