Capítulo 38

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"Foi você que me mostrou quem eu sou e me ensinou como permanecer pelo que eu sei que é real. Agora estou respirando pela primeira vez e estou deixando tudo isso para trás. Eu virei a ser o que eu sou por sua causa."

[It Was You, 12 Stones.]

Fiquei acordado enquanto admirava a beleza da mulher que dormia ao meu lado da cama. Não consegui parar de pensar no tamanho da minha felicidade em tê-la ali e muito menos na noite que tivemos. Suspirei contente com os últimos acontecimentos. A minha vida estava entrando nos eixos, agora só faltava resolver a questão da minha casa.

A minha casa...

Levantei-me e andei por todos os cômodos. Os quartos, a sala, a cozinha... Todos com lembranças tão marcantes, da minha infância até o começo da minha fase adulta. As lembranças que eu construí com Elisa em diversos momentos, desde as tardes livres em que éramos somente amigos até a noite anterior, em que pertencemos um ao outro sem qualquer barreira. A casa que foi o palco de uma vida feliz: a vida da minha família.

Sentei-me no meu sofá e fiquei relembrando todos os momentos que eu tive ali. Todas as gargalhadas, as frustrações, os momentos de choro, tudo o que me ligava àquela casa. À minha casa.

Suspirei tristemente, pensando que eu estava correndo o risco de nunca mais ter qualquer lembrança ali. Que a minha casa seria de outra pessoa, que construiria toda uma vida ali, encobrindo os mais de vinte e cinco anos de história da minha família naquele lugar. Não consegui evitar um pranto silencioso, que liberava a tristeza que começava a me consumir.

Como eu poderia estar feliz sabendo que em quarenta dias eu poderia nem pisar mais naquele lugar?

Não havia resposta, apenas tristeza. Chorei durante um bom tempo, até que decidi levantar e ir até a cozinha. Deveria ter alguma por ali. Eu lembrava que havia uma escondida. Assim que achei, a coloquei em cima do balcão.

Abri a garrafa, coloquei o conteúdo no copo e fiquei ali, observando, como se eu fosse encontrar ali a resposta para tudo.

— Eu realmente não acredito que você vai fazer isso. - Elisa disse, fazendo o meu coração quase sair pela minha boca.

- Que susto. - murmurei.

Elisa se aproximou e sentou ao meu lado. Percebi que seus olhos estavam rasos d'água e respirei fundo.

- Não depois que nós...

Virei-me em direção à Elisa e enxuguei as lágrimas que ela havia deixado escorrer. Não era para ela estar naquele estado, não depois da noite incrível que tivemos.

- Ei, eu não ia beber. - respondi com sinceridade. - Calma, meu amor. Não precisa chorar. Está tudo bem.

Abracei-a enquanto ela tentava controlar as lágrimas.

- Então por que há um copo com uísque aqui? - perguntou. A sua voz saiu abafada porque o seu rosto estava afundado em meu peito.

Afastei-a por um momento e respirei fundo antes de responder.

- Porque eu precisava lembrar de tudo o que eu passei para me tornar uma pessoa forte. E que, caso eu perca a minha casa, eu vou superar. Porque agora eu sou forte o suficiente para aguentar o baque. - respondi, enquanto observava o líquido que fez parte dos últimos cinco anos da minha história brilhar contra a luz. - Eu estava me pondo à prova quando coloquei esse copo de uísque à minha frente. Porque foi essa a bebida que me fez esquecer os meus problemas da forma mais errada que existe, porque só me colocou em mais problemas ainda. Eu não ia beber, eu só... Eu só estava reafirmando a minha força de vontade.

Dê-me amorOnde histórias criam vida. Descubra agora