"Veja o meu exemplo, então. Sou a prova viva de que o amor existe. Ele não é um mito, ele é real. As pessoas é que não são capazes de identificá-lo e nem de senti-lo."
[Tempestade, capítulo 15, Fernando Garcia.]
Eu nunca pensei que seria feliz novamente. Pelo menos não quando eu pensava que tudo o que eu tinha na vida se resumia à minha casa, ao Pedro e à Aline como minha única família e às lembranças de tudo o que já aconteceu no passado. E ainda havia o álcool, que continua insistindo em tentar me derrubar.
Mas a felicidade parecia ter chegado para ficar de vez. A vontade de viver parecia ter se expandido e os sorrisos estavam cada vez mais fáceis.
Eu já não me sentia um ser depressivo/deprimido/deprimente. Eu já não sentia a tristeza tomar conta de mim de uma forma tão profunda quanto antes ao lembrar dos meus pais. Eu estava conseguindo tapar os buracos negros do meu coração, ainda que a passos de tartaruga. Eu estava em paz quase completa.
E Elisa era a grande culpada por tudo isso.
Não estou dizendo que eu havia me recuperado do alcoólismo e nem mesmo que havia superado por completo a morte dos meus pais. Não estou dizendo que eu havia esquecido a Alice e que eu não havia tido recaídas com o álcool. Eu estou dizendo que estava tentando com mais empenho me livrar de tudo isso que me fazia mal, estava tentando pela Elisa, que não merece um namorado e muito menos o melhor amigo tão cheio de problemas quanto eu. E estava tentando por mim mesmo, porque Elisa me mostrou que ninguém pode amar aos outros sem amar a si mesmo, sem querer o bem de si próprio, sem querer, principalmente, a própria felicidade.
Elisa e eu já estávamos namorando há uma semana. Nós não havíamos contado para ninguém sobre o nosso relacionamento, por isso marcamos um jantar com o tio Alberto e a tia Milena. Nós finalmente faríamos o anúncio de que estávamos juntos.
E isso explica o motivo pelo qual Elisa estava tão nervosa. Ela sabia que o tio Alberto soltaria alguma piadinha a respeito disso, mas eu sabia que ele ficaria muito feliz com a notícia. Eu tentei dizer isso para ela, mas tudo o que eu recebi foi um olhar de repreensão.
Se você pensa que Elisa permaneceu aquela garota meiga de quando nos declaramos apaixonados um pelo outro, você está absolutamente certo. Mas a sua doçura não era ofertada em qualquer momento e muito menos em qualquer lugar, a sua doçura me era oferecida em movimentos leves, em sorrisos doces, em olhares demorados e em toques sutis. Ela não era de distribuir beijos em todos os cantos e nem de ficar grudada à mim feito um chiclete. Não que ela fosse desapegada, não é isso, mas Elisa é o tipo de mulher que não gosta de compartilhar os momentos que deveriam ser íntimos com todos à sua volta.
E isso me fez um ser ainda mais apaixonado.
O fato é que ela continuava me repreendendo, me provocando, me lançando olhares reprovadores e me deixando de saco cheio com as verdades que jogava em minha cara. Nós dois continuávamos discutindo por vários motivos e continuávamos curtindo da cara um do outro. Em dois dias de namoro, nós já havíamos tido a nossa primeira D.R., mas, como sempre, Elisa e eu havíamos feito as pazes no minuto seguinte e tudo voltou a ser como se nada tivesse acontecido.
Nós continuamos sendo os melhores amigos do mundo, porém, amigos que namoram.
- Você vai acabar fazendo um buraco no piso se continuar andando de um lado para o outro desse jeito. - eu disse, tentando reprimir um riso que tentava escapar de minha garganta.
Elisa estava em minha casa, totalmente imperativa, morrendo de medo da reação dos seus avós. Fico imaginando como não seria se, ao invés de irmos encontrar o tio Alberto e a tia Milena, nós fossemos encontrar os seus pais. Ela provavelmente estaria arrancando os cabelos.
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Dê-me amor
RomanceFernando Garcia é um escritor que já fora famoso, mas agora, devido à toda a sua crise de bloqueio criativo, que já dura nada mais que cinco anos, se vê falido, afundado em dívidas e no álcool, seu atual companheiro a quem confia suas mágoas e princ...