Capítulo 19

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"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."

[Carlos Drummond de Andrade]




Elisa resolveu que seria uma ótima ideia chamar o tio Alberto e até mesmo o Alérci para visitarem Alegria no hospital. Eu também acharia, se Pedro não se transformasse em alguém tão possessivo a ponto de querer expulsar até mesmo a mim do lugar de descanso de seus tesouros. Por favor, eu era o tio dessa criança! Era irmão de Pedro e Aline, embora não tivéssemos laços sanguíneos. E, pelo amor de Deus, lugar de descanso? Foi um nascimento ou um velório que houve nesse ambiente para que Pedro falasse dessa forma? Fala sério, esse imbecil queria mesmo me impedir de visitá-las? Não mesmo, não iria permitir!

— Pedro, para de ser tão bastardo! Por que eu não posso visitá-las? Eu sei que Aline já acordou.

— Germes. Eu não vou expor nenhuma das duas aos germes e bactérias que você carrega no seu corpo — ele respondeu como se fosse a única pessoa entre nós que não carregava bactérias no corpo.

— Pelo amor de Deus, a Alegria está em um berçário. Não se entra em um berçário sem estar devidamente equipado, ela não corre risco algum! — rebati com toda a impaciência do mundo — Além do mais, você não é o diferentão que não carrega infinitas bactérias no corpo.

Pedro pareceu pensar um pouco, mas eu vi em seus olhos que ele não iria mudar de ideia. Elisa, tio Alberto e Alérci ficavam alternando seus olhares entre Pedro e eu, tentando decidir quem era o mais sem noção ali. Até que Elisa se pronunciou:

— Ah, pelo amor de Deus, me poupem desse show de criancice!

Voltei o meu olhar para Elisa, que me encarava com a sua típica expressão de quem estava lançando um desafio, fazendo um arrepio involuntário percorrer o meu corpo e chegar ao meu coração em forma de uma batida acelerada. Era incrível como ela ficava linda com essa carranca zangada.

— Parecem dois bobões — Alérci completou, o que fez Elisa soltar uma risadinha e tio Alberto a acompanhar.

Pedro parecia envergonhado por levar uma sutil lição de moral de um garoto de dezesseis anos, porém, eu consegui perceber isso somente graças à minha incrível visão periférica. Na verdade, eu permanecia focado na garota que soltava um sorriso tão gostoso de se ouvir com uma admiração assustadoramente elevada. Acho que ela percebeu meus olhos cravados em si, observando atentamente sua expressão risonha, porque esta se defez e seus sorrisos cessaram, dando lugar a um sorriso envergonhado, daqueles que se oferece com os lábios selados e reduzidos à uma curva sutil. Talvez Alérci e tio Alberto também tenham percebido, porque os vi, ainda com a minha visão periférica, trocando sorrisos cúmplices e logo depois um pigarrear vindo do mais velho.

— Então, meus jovens, resolveremos a questão de forma madura, tudo bem? — tio Aberto interferiu, salvando-me de ser flagrado por meu amigo olhando daquela forma para Elisa — Cara ou coroa?

Olhei para o meu tio com uma careta. Ele e sua mania de resolver impasses na base de uma moeda, literalmente. E o pior era saber que ele achava realmente que essa era uma decisão madura.

— Senhor Alberto, você não está falando sério. — Pedro estava indignado, afinal, em sua cabeça egoísta, ele tinha todo o direito do mundo de barrar as visitas à sua mulher e sua filha.

Tio Alberto arqueou as sobrancelhas e sua expressão ficou séria. Todos já sabiam qual seria a sua resposta. Todos, com excessão de Pedro, que não fazia ideia do quão persuasivo o tio Alberto poderia ser.

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