"Me perco nos seus olhos e mergulho sem pensar se voltarei."
[Você Sempre Será. Marjorie Estiano.]
— Oi. - Alice me cumprimentou, como se nós tivéssemos nos visto no dia anterior. Como se o espaço de tempo que não nos víamos não fosse equivalente a cinco anos. Como se ela não tivesse me abandonado para sofrer sozinho. Como se aquela situação fosse perfeitamente normal.
Bem, não era.
- Oi. - respondi, tentando não parecer mal-educado ou grosseiro.
Aparentemente, eu não tive sucesso.
- Nós podemos conversar? - ela perguntou, um pouco hesitante.
Nós podemos conversar?
Isso era sério? Ai, meu Deus, isso era realmente sério.
- Ahn... - olhei para Elisa, que encarava Alice como se estivesse pensando em diversas maneiras de mutilar o seu corpo.
- É sério, Nando. - ela tocou o meu braço, na tentativa de chamar a minha atenção.
Meu coração parou no meu estômago nessa hora. Que intimidade era aquela? Santo Deus, a mulher desaparece por cinco anos e volta como se não tivesse passado nem duas horas longe!
Virei-me para Elisa e vi seus olhos estreitos enquanto observava aquela cena. Alice ainda com a mão em meu braço e o tratamento íntimo.
Senti-me estranho e, definitivamente, não queria estar na minha pele naquele momento.
Empertiguei-me e retirei a mão de Alice do meu braço delicadamente.
- Acho que ambos estamos acompanhados, como pode ver. - eu disse, dando um passo para o lado para que Alice percebesse a presença de Elisa ali. - Não seria muito educado abandonar as nossas companhias.
- Mas é importante. - Alice insistiu, o que me irritou um pouco. - Nós temos que conversar.
Deus, quem ela pensava que era?
- Er, Fernando, tudo bem. - ouvi Elisa murmurando. - Eu vou embora e... depois nós nos falamos. Vocês realmente precisam conversar. Você sabe disso.
Olhei para Elisa com uma admiração incrível. Que mulher deixaria o cara que diz amar sozinho com a ex para que eles possam colocar tudo em pratos limpos?
Elisa era esse tipo de mulher, porém, ela não iria embora. Ela ficaria ali, ao meu lado.
- Você não precisa ir embora. - ajoelhei-me à sua frente novamente e sussurrei. - Eu quero você ao meu lado. Afinal, você é a minha namorada agora e eu não tenho que esconder nada de você, muito menos o conteúdo dessa conversa. Além disso, tenho certeza que eu iria querer você ao meu lado mesmo se ainda fôssemos apenas amigos. Por favor, fica.
- Tudo bem, eu fico. - Elisa respondeu com um sorriso discreto, mas vi uma pontada de tristeza em seus olhos.
Virei-me para Alice novamente e a encarei.
- Tudo bem, vamos conversar. - respondi, fazendo com que Alice abrisse um sorriso. - Mas Elisa também participará do nosso papo.
Suas feições mudaram e vi o seu sorriso morrer instantaneamente.
- Tudo bem. - ela se limitou a dizer apenas isso.
- O seu acompanhante também pode participar. Eu não me importo. - dei de ombros. - Eu só vou pagar a conta e podemos ir até a praça. Acho que lá é mais reservado.
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Dê-me amor
RomanceFernando Garcia é um escritor que já fora famoso, mas agora, devido à toda a sua crise de bloqueio criativo, que já dura nada mais que cinco anos, se vê falido, afundado em dívidas e no álcool, seu atual companheiro a quem confia suas mágoas e princ...