"Dentre todas as coisas que existem, o amor é o que tem a capacidade de fazer sofrer e fazer sorrir ao mesmo tempo. Depende do ponto de vista."
[Segundo, Fernando Garcia.]
Acordei ao sentir leves cutucões em meu ombro. Os meus olhos semi-abertos encararam uma Elisa com um sorriso no rosto.
— Por que você não dorme no quarto? É mais confortável do que esse sofá. - Elisa me repreendeu pela imprudência. - Sem contar que você vai acordar todo dolorido.
Na verdade aquele sofá não tinha nada de desconfortável. A minha coluna estava muito bem e eu também estava muito bem.
- Talvez você tenha razão. - estendi a minha mão para Elisa. - Me ajuda a levantar aqui, por favor?
Ela segurou a minha mão e eu a puxei para junto de mim, no sofá.
- Ei! - Elisa protestou. - O que você está fazendo?
Sorri ao olhar nos olhos dela. Sorri mais ainda ao notar que meu coração se encheu daquela coisa que eu sinto todas as vezes que estou com Elisa: amor.
- Sabe, eu não sei como você fez isso. - eu disse, ainda com um sorriso grudado nos lábios. Elisa estava deitada de bruços em cima de mim, devido ao meu puxão. - Mas você conseguiu salvar a minha alma, sabia?
Vi a sombra de um sorriso em seus lábios e os seus olhos ficaram mais brilhantes devido ao acúmulo de lágrimas. Afaguei os seus cabelos e os tirei do seu rosto, colocando-os presos atrás de sua orelha.
- Eu não salvei a sua alma. - ela retrucou. - Você se deixou ser salvo, meu a...
Elisa interrompeu a sua fala e desviou o olhar. Eu sorri novamente, porque o meu coração, embora ainda estivesse com um pequeno buraco negro, era preenchido de felicidade ao constatar que eu era amado.
- Vem cá. - levantei, puxando Elisa. - Eu quero mostrar uma coisa para você.
Levei Elisa até a sacada do apartamento e peguei o caderno que eu estava usando. Sentei-me de frente para ela e abri na página em que parei de escrever.
- O que é isso? - Elisa perguntou, curiosa, inclinando-se para frente afim de bisbilhotar o que era que tinha no caderno.
- Isso é o que eu fiz enquanto você dormia. - respondi, tomando fôlego e afastando o caderno das vistas da minha curiosa preferida.
Na verdade, eu havia começado a escrever uma outra coisa, mas havia um momento em que o que eu recitaria para Elisa ficou martelando em minha cabeça.
Elisa ficou animada. Seus olhos faíscavam em expectativa e suas mãos se moviam, ansiosas.
- Tudo bem, vou ficar quietinha enquanto você estiver lendo. - ela me ofereceu um sorriso arrebatador.
E a felicidade me preencheu novamente.
Eu estava há menos de dois meses de perder a minha casa, o único bem que os meus pais me deixaram, mas, mesmo assim, eu estava feliz. Era estranho pensar nisso, mas tive a impressão de que a minha felicidade estava apenas começando e não estava diretamente ligada à minha casa.
Limpei a garganta e comecei a falar.
- Não espere pelo segundo seguinte para retomar as rédeas da sua vida. Não espere pelo segundo seguinte para saber o que você quer de verdade. Não espere pelo próximo passo, pelo próximo fato. Não espere que as coisas aconteçam sem nenhum esforço. Não espere por amores perdidos ou por amores impossíveis. Não espere, apenas não espere. Vá em frente, abra os olhos. Observe o mundo pelas diversas perspectivas e caminhe em direção ao futuro. Viva. Apenas isso, viva. E não espere. Porque quando você espera, você para, fica estático. E não vive.
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Dê-me amor
RomanceFernando Garcia é um escritor que já fora famoso, mas agora, devido à toda a sua crise de bloqueio criativo, que já dura nada mais que cinco anos, se vê falido, afundado em dívidas e no álcool, seu atual companheiro a quem confia suas mágoas e princ...