Epílogo

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É engraçado como a vida de uma pessoa muda tanto de uma hora para a outra.

Eu já fui uma pessoa extremamente triste, sem expectativa alguma para o futuro, vivendo o luto pela perda dos meus pais e me arrastando por conta de um coração partido. Sim, eu andava bêbado pelos cantos enquanto sofria por tudo isso. Não havia sentido na vida naquele tempo.

É, eu, um alcoólatra infeliz, que vivia reclamando da vida e chorando de tristeza passei a ser feliz. Muito feliz. Quem diria.

— Então, Fernando, antes de sabermos sobre a obra em si, o que fez você voltar a escrever após tanto tempo? — uma jornalista perguntou.

Estávamos no lançamento do meu novo livro, um livro especial, porque foi fruto da minha superação.

Sorri.

Era assim que eu vivia. Sempre sorrindo, sempre feliz. Era essa a minha realidade após um ano desde que Elisa me falou que teríamos um bebê. Um bebê... É, Pedro estava certo. E riu muito de mim quando soube.

— Bem, como você se chama mesmo? — perguntei.

— Aurora. Aurora Vasconcelos — a jornalista respondeu, com um sorriso.

— Bem, senhorita Vasconcelos, acho que ter reencontrado o amor foi o que me fez voltar a escrever — respondi e olhei para Elisa em seguida. Ela havia ficado corada e, como sempre, eu achei gracioso. — Aliás, o livro fala exatamente disso. O que somos capazes de fazer quando temos amor. E também o quanto podemos ser destruídos quando não o temos.

— E qual é exatamente a história do livro? — um jornalista que estava ao lado de Aurora perguntou — Foi baseado em alguma história de verdade ou...

Respirei fundo. Eu sabia que essa pergunta seria feita por alguém, só não sabia se estava preparado para respondê-la.

— Bem, é a história de um homem que era extremamente feliz com a sua noiva, porém ela o abandonou. Esse foi o gatilho para anos de sofrimento, enfiado na bebida para tentar esquecer. Até que ele encontra uma mulher disposta a ajudá-lo de todas as formas possíveis. E ela ajuda de uma maneira muito importante, a mais importante de todas. Ela o ama, mesmo ele sendo tão quebrado pelos fatos do passado — respondi, sempre olhando para Elisa. Abri um sorriso assim que nossos olhos se encontraram. Chamei-a para ficar ao meu lado, e ela veio com a nossa filha nos braços. — E essa história é baseada em fatos reais sim, senhor...

— Samuel Arantes.

— Senhor Samuel Arantes, essa é a minha história. É a minha história de superação, de libertação e de amor. Porque no fim eu voltei a amar, e em dose dupla. Porque com a minha esposa veio a nossa filha, que é o grande amor da minha vida. — respondi, pegando Esperança no colo e passando o braço sobre os ombros de Elisa. — O que pode ser mais precioso do que isso? O que pode ser mais valioso do que o amor? Veja bem, não estou falando somente do amor entre um homem e uma mulher, mas de todas as formas de amor: amor familiar, amor fraternal, amor entre amigos... Todos eles são importantes e, às vezes, nos esquecemos disso. Eu sei que amor não é tudo. Aprendi isso da forma mais difícil possível. Mas o amor é pelo menos metade da nossa felicidade, não importa de que lugar ele venha.

Vi Samuel e Aurora se abraçarem e sorri ao perceber que eles eram um casal. É, a vida é realmente repleta de surpresas.

Continuei a responder a várias perguntas dos jornalistas e outros escritores que estavam por ali. Sorri ao perceber que havia também leitores e fãs. Reconheci vários deles, dos velhos tempos.

Olhei para Esperança ainda em meus braços e sorri. A única coisa que ela havia herdado de mim foi a cor da pele, mas em todo o resto ela era igual à Elisa. E os olhos eram os mais lindos que eu já havia visto. Os mesmos olhos que me encantaram há um ano e meio.

Esperança... Não poderíamos ter escolhido nomes melhores para as nossas filhas, meu amigo. Alegria e Esperança, Pedro havia me dito quando anunciamos o nome escolhido. E, realmente, não havia nome melhor do que esse.

Bem, o que mais eu poderia dizer? Eu estava feliz de verdade, porque eu amadureci de uma forma impressionante. Tudo bem, eu perdi a minha casa, a casa que eu tanto amei, a casa dos meus pais, mas eu descobri que as nossas lembranças não estão em um lugar, elas são carregadas conosco, em nossos corações. E todas as boas lembranças que eu tenho com os meus pais permaneceriam para sempre em minha memória e, principalmente, em meu coração.

- Então, senhor Garcia. Você está feliz com o lançamento de Dê-me amor? - Elisa perguntou, fazendo com que eu desviasse o olhar da Esperança e o voltasse para ela.

Ela estava linda e ainda fazia o meu coração batucar rápido no peito. Ela ainda causava as melhores sensações do mundo em mim. Eu não poderia afirmar que ficaríamos juntos para sempre dessa forma, mas poderia afirmar que nós sempre nos amaríamos, porque nós sempre seríamos os melhores amigos do mundo. Elisa e eu construímos algo que falta em muitos relacionamentos: companheirismo. E com algo tão concreto assim, é até difícil que qualquer laço seja quebrado.

- Sim, senhora Garcia. Eu estou muito feliz. - respondi com um sorriso. - Com tudo. Com o livro, com o meu emprego e, principalmente, com a nossa família.

Beijei a testa da pequena Esperança e logo depois beijei os lábios de Elisa.

E caminhamos juntos em direção ao lugar em que estava o resto da nossa família: tio Alberto, tia Milena, Pedro, Aline, Alegria e Alérci. Essa era a nossa família, independente dos laços sanguíneos ou afetivos.

E ali eu percebi que ainda não era o fim da minha história. Porque uma história só termina quando não há mais páginas em branco no livro chamado Vida. E no meu livro ainda havia muitas páginas em branco para serem escritas.

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Olá! Aqui estou eu, às 05:30 da manhã (horário da minha cidade), postando o epílogo com aquela dorzinha no coração. 😢 mas é a vida, certo? Ela precisa ter começo, meio e fim. Com os livros não é diferente. Bem, vou deixar isso pros agradecimentos. Ou vai surgir uma lágrima no meu olho. Hahahaha

Dê-me amorOnde histórias criam vida. Descubra agora