Capítulo 21

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O caminho para casa estava durando uma eternidade. Nós morávamos na mesma cidade, no mesmo bairro, a diferença era que cada família residia  em um quarteirão diferente.

Para chegar na minha casa, teríamos que passar em 3 quarteirões. O quarto era o que morávamos.

Mas não foi isso que aconteceu. Meu tio entrou no segundo quarteirão.

E a única pessoa que morava lá era minha vó Lucinda, a mãe de meu pai. Ela morava só, pois meu avô Tadeu,  casou-se novamente com uma mulher de 23 anos.

O carro mal tinha parado de andar, mas meu pai pulou para fora, invadindo a casa da minha vó nas pressas. Meu tio encostou a cabeça no volante pensativo. Aquilo estava muito estranho. Queria muito saber o que realmente estava acontecendo. Até que eu tomei uma atitude.

- eu vou descer.

- Não Emmica! - disse meu tio.

- porque não?

- porque daqui a pouco seu pai chega. Não tem precisão de você descer!

- mas eu quero ver minha vó! Estou com muita saudade dela!

- Não dá Emmy!  Espere aqui.

- puta que pariu! - gritei irritada. - porque você não quer deixar eu sair da droga desse carro? O que tem demais lá dentro que eu não posso ver?

- Não tem nada. Mas você não vai sair desse carro até seu pai chegar. - concluiu.

- aaahgh foda-se  - abri a porta do carro e corri. Ele tentou me segurar mas não conseguiu. Minha mãe que esperava comigo no carro não mexeu nenhum músculo para me segurar. Acho que ela estava esperando essa minha atitude.

Entrei na casa da minha vó, sorri. Aquela casa sempre foi linda.
Uma pintura cor creme na parede,
e os móveis todos de madeira mesmo.

Não era agomerado, nem MDF.
Era antigos móveis rústicos.

Vários retratos nas paredes e centros, quando eu era pequena, gostava de brincar que aquela casa era meu castelo.

Subi as escadas que dava aos quartos, passei a mão no corrimão da escada admirando cada detalhe dali.

Até que escutei um choramingo. Achei estranho.

Estava vindo do quarto de minha vó.

Fui em direção ao quarto tentando dar passos silenciosos, o que era impossível pois o piso era de madeira, e quando pisávamos ele rangia.

Mas consegui chegar ao quarto. A porta estava entreaberta e pela
fresta da porta pude ver o que se passava lá dentro.

Senti uma pontada no meu coração quando vi aquela cena.

Minhas lágrimas começaram a cair incontrolavelmente. Para mim uma parte do meu mundo naquele momento tinha acabado.
Minha tia gemima estava de joelhos no chão e com as duas mãos no rosto e chorando muito.

Tia germana estava encostada na parede com os olhos inchados de tanto chorar. Estava pensativa.

Meu pai estava sentado na cama de minha vó segurando a mão dela.

E a própria estava cheia de aparelhos, estava respirando pelo tubo e com aquela máquina que medir os batimentos cardíacos de lado.

Me desesperei mais quando vi que ela estava careca. Foi daí que cai em prantos e corri para o banheiro me trancando lá. Chorei bastante. Dentro de mim estava uma tristeza imensa. Incontrolável. Me encolhi no canto da parede e fiquei ali chorando, exalando minha dor.

Eu não sabia o que fazer. Meu coração doía muito. Em pensar que estou perdendo minha avó.

Me levantei do chão e fui em direção ao espelho.

- Isso é tudo culpa sua! - gritava em prantos para meu reflexo no espelho.

Foi então que comecei a dar socos no espelho, e gritando para mim mesma.
- sua idiota! Sua idiota!

Foi quando o espelho quebrou e cortou minhas mãos.

- Droga! Droga! - dizia com ódio de mim mesma. - Porque? Porque tem que acontecer isso comigo? - me perguntava entre soluços. - porque a minha vó?

Caí no chão e chorei mais ainda. Chorei bastante. Como nunca tinha chorado antes.

- Deus! Se você é tão bom como dizem, Porque você tem que levar a minha vó!? Justo a minha vó! A pessoa que eu mais amo, depois de papai. Porque Deus!? - falava sozinha entre soluços.

Depois de ter chorado muito mesmo,  me deu um sono daqueles.

É interessante que quando você chora muito, a primeira coisa que te dá é sono.

E ali no chão frio do banheiro, com muitas lágrimas no rosto, adormeci.

A Inimiga da Morte Onde histórias criam vida. Descubra agora