Capítulo 5

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     Paramos num bairro de classe baixa, onde algumas crianças brincavam umas com as outras na rua, e poucos carros circulavam. Homens mal encarados fumavam encostados ao murro de um sobrado mal acabado, enquanto nos olhavam com cara de poucos amigos.
       Estaciono o carro sobre os protestos de Alfie bem na frente deles, que olharam interessados cada centímetro do carro. Alfie olhou-os desconfiado, recebendo um olhar raivoso de cada um dos quatro homens.
      Saio do carro fechando-o logo em seguida.

-Pode deixar dona, não vamos roubar nada! - diz um careca com tatuagens que provavelmente cobriam quase 90% do seu corpo.

-Eu sei. Se ele sumir, se considerem homens mortos! - Ameaço, entrando no prédio a frente acompanhada.

-As vezes penso que te falta um parafuso a menos, ameaçar um cara com quase o dobro do seu peso e altura?! - indaga indignado.

    Até eu meu caro...

-Aquele é o tipo de homem que late mas não morde... - explico.

-Como sabe?

-Um palpite.

-Quer dizer que se eles não fossem esse tipo de homem, corríamos o risco de levarmos uma boa surra daqueles gigantes?

-Isso mesmo...

      Subimos as escadas até o terceiro andar, já que aparentemente o elevador não funcionava mais, e batemos duas vezes na porta antes de um homem jovem abri-la com cautela.

-O que querem?! - indaga seco.

-Willi Beadley?

    Ele permanece em silêncio nos analisando.

-O que desejam?

-Temos um pequeno servicinho pra você... - diz Alfie.

     O homem pareceu concordar e deu passagem para sua simples casa. Sem muito tempo para poder pensar sobre o que realmente estava acontecendo, meus olhos encontram Alfie enforcando o suposto Willi contra a parede. Sua expressão carregava pura fúria.

-Você tem três minutos pra me responder! Quem te mandou e por que?!

      Beadley começava a ficar roxo pela falta de ar, mas Alfie parecia nem se importar com isso. Temendo pela vida do homem, fui obrigada a interferir no interrogatório.

-Se o matar ele não vai falar! - digo.

     O jovem é jogado no chão enquanto tenta recuperar o ar que lhe foi tirado. Alfie apenas o olhava, ainda com ódio .

-Agora pode falar!

-Não vou dizer nada a vocês, idiotas !! - pragueja.

-Escuta aqui! Eu tô tentando segurar essa fera pra que ela não te esmague! - me refiro a Alfie. - Mas se você não abrir logo essa boca ele vai acabar com o seu coro! E acredite! Vou fazer questão de ajudar!

    Willi fica em silêncio por alguns segundos, para só depois, como um bom covarde, abrir o bico.

-Ducler me mandou...

-E por que?

     Ele tenta levantar, mas meu movimento brusco faz com que volte a sua posição.

-Eu preciso buscar uma pasta... - Explica.

    Olho para Alfie e ele acompanha o garoto , e segundos depois, voltam junto trazendo a tal pasta.

-O que tem aí? - pergunto.

-Eu costumo anotar tudo sobre as minhas missões...

     A tal pasta era bem grossa, o que me fez imaginar quanto sangue já não foi derramado por esse monstro.
      Depois de algum tempo ele finalmente explica em voz alta o conteúdo do objeto.

-Sim, foi Ducler mesmo...

-E por que? Pra que matar todas aquelas pessoas? - pergunta Alfie.

      Esse comentário me fez deduzir, talvez o porquê do interesse dele neste caso.

-Não era para mata-los. Pelo que sei, Ducler sabia que iriam interferir, e o nosso objetivo foi garantir a presença da encomenda lá dentro. Mas algo deu errado, e meu irmão acabou morrendo junto com outro rapaz enquanto tentava impedir que ele saísse.

-Como? - pergunto confusa.

-Como não conseguimos manter a encomenda lá dentro, nós sabíamos que Ducler nos mataria pela falha... Então meu irmão tentou impedir o rapaz de sair, para que assim pareça que alguém morreu... Para só depois matar e enterrar quem realmente ele queria. Por isso, estou nesse maldito lugar! Fugindo como rato daquele idiota! Se me pegarem, posso me considerar um homem morto.

-E quem era essa encomenda? - pergunta Alfie.

      Beadley volta sua atenção para o caderno lendo o nome em voz alta.

-Natasha Brook Morgan.

    Arregalo os olhos  em espanto.

  Quer dizer que a culpa de tudo isso é minha? Agus morreu no meu lugar?

     Sinto as lágrimas tentarem pular dos meus olhos, mas me esforço em me manter firme. Não podia chorar. Não ali. Não agora!
       Alfie me encara, também surpreso , com uma mistura de sentimento que não conseguia distinguir em seus olhos.

-Vamos! - diz. - E lembre-se, não diga isso a ninguém! Tenho certeza que Ducler adoraria saber sua localização. Então bico fechado que não entra mosca!

(...)

    Subimos pelo elevador em silêncio até o nosso andar. Nenhum dos dois se designou a falar nada, até porque ambos estávamos surpresos e impactados.
      Não consigo tirar a ideia da cabeça de que a culpa de Agus estar morto é minha. Talvez se nunca tivessemos nos conhecido ele ainda estaria vivo.
        Sinto minhas mãos pesadas por sangue que não é meu, e minha cabeça latejante enquanto minhas pernas fraquejavam um pouco. Alfie não parecia tão indiferente ao que sentia.
    Entramos no apartamento de vagar e todos nós olham curiosos, mas ao mesmo tempo espantados por Al e eu estarmos juntos e naquele estado. Sem esperar nenhum questionamento ou perguntas, me dirijo ao meu quarto sendo seguida por Alfie, que fecha a porta ao entrar.

-Pode me deixar sozinha? - indago, o mais calma e serenamente possível.

-Não. Antes tenho algumas perguntas pra  te fazer!

-Não vou responder nenhuma.

-Natasha o...

-JÁ DISSE QUE QUERO FICAR SOZINHA! - grito. Tendo certeza que quase o prédio inteiro ouviu.

      Ele bufa irritado e sai batendo a porta atrás de si.
      Deito na minha cama encarando o teto e pensando nos últimos acontecimentos.
       Apesar de saber que a culpa era inteiramente de Ducler, não posso deixar de me sentir culpada. Se o plano dele realmente tivesse dado certo, talvez Agus ainda estivesse vivo e eu... Bom... Morta. Mas pelo menos não viveria mais com essa culpa.
        Já estava tarde quando descidi sair do quarto para comer algo antes de dormir. Ainda não entendo como meus amigos conseguem  sobreviver sem comida, a geladeira está totalmente vazia e como sempre, a única coisa que encontro são bolachas.

Agente Morgan 2Onde histórias criam vida. Descubra agora