Vinte e oito

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×Samyra×

Depois que minha mãe retocou o batom, saímos às compras. Pegamos um táxi e nos direcionamos para um dos maiores supermercados da cidade. Passei o caminho inteiro ouvindo o quanto fazia tempo que minha mãe não tomava um bom vinho e o quanto tempo fazia que meu pai não comia azeitonas.

O táxi para na frente do supermercado e depois de pagar, descemos. O lugar não estava muito cheio pois fazer compras não era um ato corriqueiro para todas as famílias de Nesh. Fomos pegar um carrinho e eu senti um arrepio repentino como se alguém me observasse. Olhei para fora do lugar, mas não vi nada. Eu sempre tive essas paranóias de estar sendo seguida ou observada.

Empurrei o carrinho para a seção de vinhos pois se minha mãe não levasse uma garrafa, ela morreria. Passamos praticamente a manhã inteira dentro daquele lugar e eu já estava exausta. Por um lado eu estava muito feliz em estar fazendo compras novamente. Não lembrava nem qual era o gosto de um amendoim, de um achocolatado, de uns doces específicos...

Passamos tudo no caixa e meu pai pagou todo orgulhoso as compras. Colocamos tudo em um táxi e voltamos pra casa. Ajudei meu pai a carregar as sacolas pra dentro de casa e de repente senti uma tontura fortíssima. Tombei pro lado e acabei caindo no chão.

_Samyra! Meu anjo!_Ouvi minha mãe gritar._Samyra, você está bem?

Minha vista ficou bastante embaçada e parecia que meu cérebro estava sendo chacoalhado.
Quando dei por mim, estava deitada no sofá cheirando um algodão encharcado no álcool.

_Samyra?_Dessa vez era meu pai._Você está bem?

_Estou..._Levo minha mão na testa._Foi só uma tontura. Cadê a mamãe?

_Está fazendo o almoço._Ele deixa o algodão em cima de uma mesinha._Vai tomar um banho pra ver se melhora mais.

Assenti e fui pro meu antigo quarto. Separei a roupa que levei e entrei no banheiro. De repente o banheiro começa a girar e eu ouço gritos desesperadores.

_Não! Não me matem! Não!

A voz ecoava tão forte que meus joelhos fraquejaram. Eu não tinha forças de gritar então fechei os olhos com força pedindo pra isso tudo passar.

_Eu não traí vocês! Não me matem... Não me matem...

Segurei minha cabeça com força e nessa altura eu já chorava. Olho pras minhas mãos e vejo sangue. De repente sinto que vou perder os sentidos e assim tudo se escurece de vez.
Abro os olhos lentamente e vejo que tudo está normal. Olho pras minhas mãos e vejo que não há nenhum vestígio de sangue. Não sei quanto tempo fiquei desacordada, mas ninguém deu conta da minha falta. Termino de tomar banho e saio do banheiro. Visto uma calça jeans, uma blusa azul de botões e calço minha sapatilha preta. Penteio os cabelos e saio do quarto. Me direciono até a cozinha e vejo meu pai sentado à mesa almoçando.

_A mamãe saiu?_Pergunto indo pegar um prato.

_Foi pagar as coisas que compramos fiado e fazer as unhas._Ele leva a colher até a boca._Ela fez bastante coisa gostosa. Pode comer à vontade.

Sério que ninguém nem me esperou pra almoçarmos juntos?

Coloquei a comida no prato e coloquei refrigerante no copo. Sentei do lado do meu pai e comecei a comer.

_Como está por lá? Seu dono é bom?_Ele pergunta me surpreendendo.

_Bom? Não... Longe disso. Mas vou receber um extra pra cuidar de uma criança que está no Palácio._Bebo um pouco do refrigerante._Mais dinheiro vai entrar.

_Eu não disse?_Ele diz de sorriso no rosto._Logo eu vou comprar um carro. Penso até em fazer um primeiro andar aqui nessa casa.

_Hm...

Termino de almoçar e lavo os pratos que estavam na pia. Fiquei pensando na voz que ouvi no banheiro e do meu desmaio. O que será que está acontecendo comigo? E aquele sangue que vi?

Depois de lavar os pratos, vou arrumar minhas coisas. Já são quase 16hrs e eu preciso voltar pra "casa".
Meu pai estava largado no sofá tomando um copo de vinho, que não foi nada barato. Cheguei perto e beijei sua testa.

_Estou indo esperar o carro lá na frente._Olho para seu rosto._Diz a mamãe que eu amo muito ela e que na próxima vez ela fique pra pelo menos se despedir de mim.

_Tá certo._Ele não ousa nem se levantar pra me dar um abraço._Se cuide e seja obediente lá. Faça tudo certo, Samyra. Um beijo, minha filha.

Saio de casa deixando lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Sento na frente de casa e choro bastante tentando amenizar toda essa dor. Eu pensava que iria receber tanto carinho ao ponto de me esquecer que sou uma bolsa de sangue. Mas o que eu recebi foi total desdém. Minha mãe nem sequer perguntou no que realmente eu estou trabalhando. O dinheiro muda tanto as pessoas que chega ser incrível o poder que ele tem.

_Samyra!_Ouço a voz de Vera._O que houve, Samyra?

Abraço minha amiga e choro mais um pouco no seu ombro.
O carro chega uns minutos depois e logo partimos dali. Fiquei abraçada a ela o tempo inteiro. Chegamos lá e eu já estava um pouco melhor. Descemos e levamos nossas coisas para nossa ala.

_Depois eu quero saber o que houve com você._Vera me abraça.

_Tá certo. Fica aí que eu vou buscar a Emilly.

Saí em direção ao Palácio, mais especificamente para o quarto de Albert. Encontro Soraya na sala tomando algo em uma xícara, mas eu passo direto. Bato na porta duas vezes e logo ela é aberta.

_Oi._Cumprimento._Vim buscar a Emi.

_Entre._Ele se afasta um pouco para que eu passe._A garotinha dormiu.

Aproximo-me da cama e aliso os cabelos revoltos da Emi. Tão linda!

_Já arrumou as coisas dela?_Pergunto olhando para ele.

_Hm... Acho que tudo dela está com Alícia._Abre a porta novamente._Espera aqui que eu vou buscar.

Assinto e assim ele sai do quarto provavelmente em direção ao de Alícia.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora