Sessenta e dois

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×Albert×

Chegamos na Romênia no início da noite do outro dia. Só paramos pra abastacer, comprar alguma comida e usar o banheiro. O que no máximo durou vinte minutos.
Por enquanto que eu me identificava para os vampiros que protegiam a casa do Héctor, Vera não tirava os olhos do livro de bruxa. Vi ela fazendo várias coisas incríveis e até parecia que aquele livro foi feito pra ela.

_O Héctor liberou. Entrem.

Segui com o carro até a garagem e estaciono. Respirei fundo e apertei com força o volante.

_Seja cautelosa. Não podemos dar bandeira._Sussurro._Lembre-se que estamos aqui pra proteger a Samyra. Seja sempre cautelosa, por favor. Não quero salvar mais ninguém. Isso é um tédio.

Ela sorri e faz um feitiço pra esconder o livro dentro da sua mala. Saímos do carro e já somos interceptados por uma mulher, uma vampira pra ser mais correto.

_Siga-me. O mestre os quer bem.

Assentimos e seguimos a vampira. A casa do Héctor tinha uma energia tenebrosa. Arrepiou até a mim que sou vampiro. A entrada dava de frente a um corredor imenso iluminado por candeeiros. A vampira abre um imenso portão e agora estávamos indo em direção a um grande salão bastante decorado. Várias cabeças de animais empalhados, móveis rústicos e um toque sombrio. A vampira nos deixa sozinhos e some.

_Albert, sobrinho!_Ouço a voz do tio Inácio me chamando._Você veio mesmo. Você quer morrer?

_Não, tio. Eu quero a Samyra bem.

_Vamos conversar no quarto. Sigam-me.

Ele sobe uma escada enorme e vem mais outro corredor. Que casa enorme! Chega a ser uma tortura fazer tour por aqui. Ele para de frente a uma grande porta e abre-a. Logo nos manda entrar rapidamente. É um quarto consideravelmente grande com uma cama de casal e outros móveis decorativos.

_Qual a intenção de trazer a garota?_Ele aponta pra Vera._O Héctor estranhará sua presença.

_Ela irá me ajudar a levar a Samyra daqui. Ela pode fingir ser minha doadora. Não se preocupe com ela.

_Acomodem-se aqui. A garota pode dormir no chão. Ali deve ter uns colchões pra ela._Ele dirige-se até a porta._O jantar será servido em uma hora. Esteja pronto pra conversar com o mestre. Ainda não sei se o humor dele melhorou. Boa sorte.

Ele vai embora deixando uma tensão sinistra no ar. Héctor já é um ser difícil de conversar, imagine mal humorado...

_Eu preciso de um banho. Se importa?_Vera pergunta mexendo em sua mala.

_Pode ir. Irei depois de você.

Ela pega umas coisas e vai até o banheiro. Aproximo-me da janela e fico observando os cães de guarda do Héctor lá fora à espreita. Não sei como a Salim, Samyra, sei lá, vai conseguir entrar aqui. Não faço a mínima ideia se eles vão invadir tudo isso aqui declarando guerra ou se ela entrará sutilmente. E se a opção escolhida for a número dois, ela provavelmente tem um plano. Um plano que talvez seja infalível.
Pego o celular e disco o número da Alícia. Depois de vários toques ela atende.

_Albert? Meu Deus, ainda bem que você ligou.

_Chegamos em Romênia. Estamos na casa dele, Alícia. Estamos bem, mas preciso que proteja todos aí. Você conseguiu fazer o que pedi?

_Foi difícil, mas consegui salvar os pais da Samyra. Perdi alguns vampiros por isso. E o tio Inácio vai me matar.

_Por que?_Pergunto sentindo um nó na minha garganta.

_Um dos transformados foi morto pelo laser Shulman._Ela suspira._Você sabe como o tio é com esses transformados. Ele não vai gostar nada de saber que ele foi morto pra salvar os pais daquela que quer destruir nossa sociedade.

_Não se preocupe. Ele entenderá._Digo para tranquilizá-la._Como está nosso pai?

Conversei poucos minutos com a Alícia até que a Vera saísse do banho. Despedi-me dela e desliguei a chamada. Vera já estava com o livro em mãos novamente.

_O livro é realmente tão interessante assim?_Pergunto jogando a toalha sobre o ombro.

_Mais do que você imagina._Ela olha pra mim e seus olhos brilham como a lua no anoitecer._Você sabe toda a história de Salim?

Nego e ela bate na cama pedindo para que eu sente ao seu lado. O banho poderia esperar uns minutos. Sentei ao seu lado e assim ela começa a ler uma grande página do livro.
Pouco tempo depois ao terminar de ler toda a história, ela fecha o o livro encarando-me.

_Sentiu?_Ela pergunta ainda me olhando.

_O quê?

_A força dessas palavras. Não é possível que você não tenha sentido a agonia, a angústia de Salim.

_Na verdade essa história me deu uma terrível dor de cabeça._Levanto-me caminhando até o banheiro.

Tranco a porta e me apóio com as duas mãos na pia encarando meu reflexo no espelho. Vampiros modernos se veem no espelho, sim.
Essa mulher tem todo o direito de querer vingança, de querer acabar com a raça do Héctor. Engraçado é que eu nunca me prostrei diante das maravilhas que o Héctor faz. A única coisa que eu levei a sério foi a sociedade. E agora eu estou indo contra ela lutando por uma humana possuída.
Ligo o chuveiro e deixo a água banhar meu corpo. Ainda não entendo porque realmente eu estou indo contra tudo isso pra salvar uma traidora. Quem sabe chamá-la de traidora é apenas um modo de tentar fazer minha mente entender que não estou amando fortemente minha doadora a ponto de morrer por ela. O pior é que isso não está dando certo.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora