Sessenta e nove

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×Salim/Samyra×

Depois de ouvir o meu filho, aquele que eu daria a minha vida, falando comigo naquele tom, pedindo pra que eu saísse rapidamente do corpo da Samyra, senti como se meu coração estivesse quebrando. Tanto tempo passei longe dele, tantas noites em total agonia me negando a descansar com sede de vingar o que nos fizeram. E ele me trata dessa maneira. Tudo por culpa dessa garota e desse filho que me anula.

Conversamos bastante sobre a minha imposição em relação a tudo isso. Ele precisa me ajudar a me vingar do Héctor rapidamente e para isso eu preciso da minha fiel protetora. Não posso me meter nessa sem sua ajuda. Ele se propôs a libertá-la e foi efetuar seu plano. Olhando bem ele é tão astuto quanto seu pai. Vera fica me encarando por um longo tempo.

_O que foi, menina? Perdeu alguma coisa aqui?

_Não. É que sei quão grande é seu poder e tenho uma mínima ideia do quanto ele deve ter crescido nesse tempo que você esteve morta._Ela se aproxima._Provavelmente devo ser bruxa como você. Aprendi rapidamente feitiços que nem uma aprendiz de bruxa aprenderia em tão pouco tempo.

_Hm... Realmente você é uma bruxa. Mas o incrível é que você adquiriu isso de alguma forma. Você não nasceu bruxa. Como isso pode ser?

Ela começa a me contar a história de como ela se tornou bruxa paralela com a história de como fui colocada dentro desse corpo.

_Você é bruxa de magia negra, Vera._Concluí._A magia que você usa vai te consumir. Pare ou sofrerá.

Ela me fez jurar que eu não iria contar a ninguém. Jurei. Mas é uma fonte de poder muito perigosa. Ela te dá e depois consome duas vezes mais.
Desconversei pedindo pra ela voltar pro seu quarto pra ninguém suspeitar. Tomei um banho e coloquei o uniforme que o tonto do Héctor pediu pra usar. Rapidamente escuto batidas na porta. Me olho no espelho uma última vez e abro a porta. Minha respiração prende ao ver quem me visitava.

_Você está melhor, Melanie?_Ele pergunta olhando no fundo dos meus olhos.

_Estou, obrigada._Respondo entrando no personagem._Quer alguma coisa de mim?

_Apenas saber porque o Albert te machucou. O que você fez?

Engulo seco procurando algo realmente convincente.

_Eu não me lembro._Respondo._Só me lembro de uma pancada e depois apagar. Se fiz alguma coisa, só ele deve saber.

Ele assente e vai embora em passos lentos. Não posso enrolar por mais tempo. Albert precisa libertar a Yanka rápido ou esse feitiço vai se esvair e serei descoberta. Fico ajudando Dorothy com alguns afazeres na esperança de fazer o tempo passar depressa.

Já é noite quando escuto uma movimentação estranha no castelo. Me direciono até perto da entrada e vejo alguns homens trazendo Claire pelo braço. Ela está desacordada. Provavelmente ela fez um acordo pra contar tudo. Claro, por qual outro motivo ela estaria aqui e viva ainda?
Estou perdida. Sinto uma mão pousar no meu ombro e petrifico.

_O que você quer, Dorothy?_Respondo pondo a mão no coração.

_Odiei esse nome. Pode me chamar de Yanka.

Ao ouvir isso, pulo em seus braços abraçando-a com força. Pego pela sua mão e saio puxando-a pra longe dali.

_O Albert me salvou e me pediu pra te encontrar aqui. Ele deve estar a caminho. Ele ainda desconhece o tamanho dos poderes que tem._Ela segura em minhas mãos._Você quer continuar com essa loucura ou desistir?

_Desistir? Nunca!_Sussurro._Claire está aqui e já deve estar contando tudo ao Héctor. Ele vai querer matar o Albert. Apareceremos na hora certa e começamos o show. Pronta?

Ela assente e me abraça novamente. Pedi pra ela assumir sua forma natural e me ajudar a escolher que roupa usar para hoje. Era um dia especial, de fato. O dia da morte do homem que arruinou a minha vida. Preciso usar preto. É muito característico para o dia de hoje.
Fiquei admirando a forma natural do meu espírito protetor, minha amiga.

Ela é da cor verde claro e com as orelhas um pouco pontiagudas. Olhos brilhantes e corpo bastante curvilíneo. Usa uma roupa muito parecida com as usadas pelas dançarinas da dança do ventre. Ela é realmente muito bonita.
Ficamos conversando por um bom tempo dentro do quarto. Perguntei a ela o que ela fez com a Dorothy e ela só sorriu. Mas tenho certeza que não foi nada terrível.

_Depois disso tudo provavelmente não irei mais te ver._Falo segurando suas mãos.

_É... Sentirei sua falta._Seu tom de voz é triste._Mas foi bom te ver novamente. Como anda sua relação com o Albert?

_Péssima._Bufo._Essa menina tá grávida dele e parece que ele ama mais esses dois do que a mim, a mãe dele! Sei que ele me rejeita mas estou disposta a ajudá-lo. Eu só queria a chance de conhecê-lo melhor.

_Eu te entendo. Melhor deixá-lo viver em paz sem a presença do Héctor. Matá-lo é a melhor coisa que você pode fazer por eles._Ela fica me encarando._Vejo que algo te incomoda. Te conheço melhor que muita gente. O que foi?

_Ninguém jamais pode saber que essa menina está gerando um voudelis. Já pensou se algum seguidor fanático do Héctor depois de vê-lo morto queira dar continuidade com a obsessão dele em dominar o mundo? Essa criança estaria condenada a uma vida terrível. Eu não posso permitir.

Ficamos naquele quarto conversando sobre maneiras de proteger essa criança. Achamos uma, mas era perigosa. Deixarei ela guardada caso precise usar. Espero que não.

_Está estranho essa demora toda..._Yanka diz de olhos semi cerrados._Algo está errado, Salim.

Ela se agacha e põe a mão direita no chão e a esquerda na têmpora. Fecha os olhos e se concentra no que faz. Segundos depois ela abre os olhos sobressaltada.

_Tem algo acontecendo. Vamos logo!

Ela sai me puxando porta à fora. Com certeza estão fazendo alguma coisa contra o meu filho. Ela me leva pra o subsolo sempre com cuidado. Chegamos em um grande salão e estava tudo escuro. Quando Yanka acende uma bola de fogo na mão, tudo se ilumina. Solto um grito e tampo minha boca ao ver aquela cena diante dos meus olhos.

_Não...

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora