Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)

Sessenta e um

×Salim/Samyra×

Quando chegamos na Romênia já era manhã do outro dia. A viagem foi exaustiva e tediosa. Fiquei ouvindo a Claire repetir milhares de vezes o seu plano como se eu fosse uma débil mental. Descemos do carro de frente a uma grande casa antiga, mas muito conservada. Seguimos para dentro da mesma acompanhadas de Claire e outros homens. Nem sinal das cinco bruxas.

_Por que me vestiram dessa forma?_Pergunto sendo refletida em um grande espelho que tinha na sala._Parece tão ultrapassado pra esse século.

_Quero fazer o Héctor lembrar de você exatamente assim. E não se preocupe que estaremos com vestes assim no dia._Ela aponta pra escada._Subam e escolham um quarto. Já iremos ver vocês.

Deixei Yanka ir na frente e fui seguindo-a. Ela ainda parecia muito aborrecida comigo. Ficamos no terceiro e último quarto. Era o único que tinha duas camas. Sentei-me no colchão e dei alguns pulinhos.

_No meu tempo não eram tão macios assim._Falo sorrindo._Deve ser um sonho dormir três décadas num negócio desse.

_Hm.

_Ei?_Chego perto dela._Você ainda está chateada comigo? Por favor, diga que não.

_Você vai acabar machucando-se com isso tudo. Além de envolver seu filho e essa garota que você possuiu o corpo. Você acha que vai acabar bem?

_Você parece muito preocupada com essa garota._Torço os lábios._Não gosto disso.

Nesse momento a porta é aberta e Claire aparece.
Ela aponta pra Yanka e uns homens vão até ela pegando-a.

_Pra onde vão levá-la?_Me coloco na frente impedindo-os de levá-la._O que querem com ela?

_Não vamos enfraquecer você. Precisamos de uma certa quantidade de magia e usaremos a vinda dela._Claire cruza os braços._Melhor você sair da frente ou nunca irá ver seu filho.

Muito relutante saio da frente deixando eles levarem-na. Yanka me dá um último olhar e abaixa a cabeça. Rasgo o vestido no meu próprio corpo soltando um grito estridente que estremeceu a casa. Procuro por roupas no guarda-roupa e só encontro roupas medievais. Que horríveis! No meu tempo eu só usava isso nas convenções ou nos festivais. Raramente usava no dia a dia. Mas fazer o quê? Só tem isso. Escolho um de cor preta com algumas pedrarias na barra da manga e no colarinho. Fico andando de um lado pro outro totalmente ansiosa pro meu encontro com aquele verme. Decido sentar e meditar um pouco. Concentrar poder sempre é uma boa opção. E eu vou precisar.

Sou tirada do meu estado de concentração quando a porta é aberta. Abro os olhos vendo um dos homens que acompanha a Claire colocar uma bandeja recheada de coisas perto de mim. Ele me observa e depois sai. Ataco a bandeja assim que a porta fecha. Eu estou enjoada e faminta demais. Muita fome. Em poucos minutos a bandeja estava vazia. Sinto o vômito subindo a garganta e corro pro pequeno banheiro dentro do quarto. Acabo fazendo a maior meladeira na pia.

_Que diabos eu tenho?_Falo irritada lavando o rosto.

Uso magia e limpo toda a bagunça que fiz. Encosto no balcão e tento me concentrar pra tentar saber o que de fato eu tenho. Tento e nada. Tento novamente e nada. Desisto de tentar e olho no espelho.
Lembro-me da garota aprisionada dentro de mim. Eu pedi ajuda a ela e agora estou negando isso.

_Não é certo._Sussurro passando a mão na sua pele macia do rosto.

Fecho os olhos e permito que ela comunique-se comigo. Abro os olhos e vejo que um dos meus olhos está da cor dourado e o outro azul.

_Pode falar, garota._Sussurro olhando pro espelho._Desculpe por demorar a fazer isso. Pareces uma boa menina. Não mereces nada disto.

_Você precisa se vingar do Héctor mesmo? Não tem como descobrirmos onde seu filho está?

Sua imagem é refletida no espelho só que agora com os dois olhos totalmente dourados. É uma bela garota.

_Depois que eu invoquei as forças da natureza pra proteger meu bebê, o preço foi que eu jamais o identificaria. Eu posso estar frente a frente com ele, mas não o reconhecerei como filho. Será como se eu fosse cega para o amor materno._Digo triste._Essa é minha única saída pra conhecê-lo. Sinto muito...

_Entendo. Então se alguém o apresentar como filho, você o reconhecerá?_Assinto._Como?

_A natureza dará um sinal.

Nesse momento a porta do banheiro é aberta e o reflexo some.

_Falando sozinha, Salim?_Claire pergunta com um sorriso zombeteiro._Venha, quero te apresentar uma amiga.

Olho pela última vez no espelho e vejo que meus olhos estão azuis novamente. Ajeito o cabelo e sigo-a. Descemos a escada e de longe vejo uma mulher de pé.

_Salim, essa é a Margot._Ela nos apresenta.

_Devo dizer que é um prazer ou um desperdício de tempo lhe conhecer?_Estendo a mão debochada.

_Deixo ao seu critério._Ela aperta minha mão._Iremos lhe colocar dentro do pardieiro do Héctor. Fizemos uma magia poderosa pra ele não lhe reconhecer. Mesmo que ele já saiba que essa garota está possuída por você, ele não vai lhe reconhecer de imediato. Mas isso tem um tempo. Por isso seja rápida.

_O que eu tenho que fazer antes de matá-lo?

_Interpretar.

Elas começam a me explicar tudo que preciso fazer antes de matá-lo. Irei interpretar para que os outros não me reconheçam também. Ele tem amigos e eles são como uns cães de guarda pro Héctor. As horas passaram-se rapidamente e eu iria entrar no castelo hoje à noite. Fiquei conversando com elas até o início da noite. Eu estava ansiosa, mas eu não podia deixar isso atrapalhar os planos.

Respira, Salim! Já está quase na hora de você entrar e acabar com o desgraçado que deu fim a sua vida.

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