Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)

Cinquenta e oito

×Salim/Samyra×

Yanka tinha os olhos vidrados em mim e parecia que estava com medo. Talvez porque ela nunca me viu tão obstinada em algo. Foram séculos planejando minha vingança que ao meus olhos nunca iria acontecer.

_Salim, o Héctor já deve saber da sua existência._Ela aproxima-se._Seu corpo atual não é resistente. Provavelmente não aguentará muito tempo. Ainda queres seguir com vingança?

_Você não entende!_Berro com as mãos na cabeça._Elas sabem onde meu filho está. Você não sabe o que é ser mãe. É sacrificar-se só pra saber que o filho está bem. E eu topo qualquer sacrifício.

Yanka assente de contragosto e senta no chão. Meus olhos estão inundados de lágrimas. Se não fosse aquele miserável...
Nesse momento a porta é aberta e a tal Claire metida a besta aparece.

_Já tem sua resposta, Salim?_Ela cruza os braços.

_Sim, tenho._Caminho lentamente até quase encostar meu nariz no dela._Como vamos chegar até o Héctor?

_Sabia que o instinto materno falaria mais alto._Ela diz caminhando por entre o quarto._Iremos hoje à tarde até Romênia. Temos bastante humano pra servir de distração por enquanto que entramos no pardieiro dele. Colocaremos você lá dentro e é só acabar com ele. Simples e fácil.

_Por que não mandou as cinco bruxas batalharem contra ele?_Pergunto confusa.

_Elas se sacrificarão pra mandar o Héctor pro inferno. Os anos fizeram dele um ser muito forte capaz até de vencer a morte._Ela olha pra mim com ódio._Aquele cretino pode voltar a viver em questões de minutos se não o enviarmos ao inferno. Não se preocupe. Elas farão o que tem que ser feito e você faça a sua parte. Estarei esperando você no final com o paradeiro do seu filho. Quem sabe ele não estará lá pra te receber...

Ela abre a porta e sai do quarto deixando meu coração agitado. Depois de todo esse tempo eu só queria vê-lo de longe e poder contemplar sua beleza.
Mas a chance de poder abraçá-lo me faz querer chorar de emoção.

_Salim, não se deixe ser levada pelas palavras desta mulher._A voz de Yanka me faz voltar a realidade._Lembre-se que seu filho já tem outra família. Ele já recebeu o amor de outras pessoas. E quem sabe ele não queira o seu.

_Como ousa a dizer isso?_Grito apavorada._É o MEU filho! Não importa quem seja a mãe ou o pai provisório dele. Ele é meu! Foi colocado dentro de mim. Fruto de um amor ilusório com o Héctor. Se possível eu mato quem se opor a isso.

_Tudo bem, Salim. Não irei discutir isso com você. Já vi que os séculos que passaram não te fizeram refletir em nada._Minha amiga tem uma voz tristonha.

_Melhor não discutir mesmo._Paro um pouco sentindo um mal estar._Nossa, estou meio enjoada.

Sentei-me um pouco e fiquei respirando profundamente. Que estranho...
Pode ser efeito colateral por estar me apoderando de um corpo muito frágil. É só isso mesmo! Claro, com certeza!

...

Desperto com a porta abrindo-se e me ponho de pé rapidamente. Claire se aproxima de mim e me encara.

_Você está pálida._Ela constata._Vamos! Está na hora de irmos. E sem gracinhas ou nunca saberá onde seu filho está.

_Não precisa me lembrar disso._Falo chateada._Um pouquinho de comida até que eu aceito. De preferência pavão tostado. Amo pavão tostado.

Caminhamos para fora do quarto e Yanka vinha logo atrás.

_Não se comem mais pavão._Ela revira os olhos._As vezes eu esqueço que você não é deste século.

Não se comem mais pavão? Nossa, não sabem o que estão perdendo.
Saímos por um grande corredor escuro e quando vi a claridade do sol caí debruçada.

_Levem-na!

Senti uns braços me erguendo e me puseram dentro de uma grande lataria com rodas. Pensando bem... Eu sei o nome disso. Carro, isso! Ainda bem que eu posso ter acesso a algumas informações armazenadas no cérebro dessa garota.
Logo o carro se move e Claire joga um saco nas minhas pernas.

_Isso se chama salgadinho._Ela soletra me fazendo parecer uma idiota._Come!

Abro o saco com magia e me delicio com essas maravilhas amareladas. Nossa, me senti no céu. Ofereci a Yanka que recusou.

_Já me entupi de comida humana demais._Ela diz com cara de nojo pro saquinho._Tenho saudades das raízes das arvores, das folhas de mangueira...

Sinto meu estômago revirar e paro de comer o salgadinho. Não faz nem 24 horas que tomei conta desse corpo e as reações já começaram? Tenho que ser rápida.

_Ninguém vai sentir falta dessa garota?_Pergunto apontando pra mim._Tenho a leve impressão que ela é um alguém que faz falta.

_Já me certifiquei disso._Claire sorri olhando pela janela do carro._A insuportável da Samyra está com meningite precisando ser isolada de todos. Ninguém poderá vê-la portanto ninguém saberá de nada.

_Cruel!_Yanka praticamente rosna._Você não tem noção do quanto ela é importante pro Albert. Ele irá insistir pra vê-la.

_Já me certifiquei disso também. Assim quando pegamos você, ele estava saindo do hospital._Seus olhos passam da Yanka pra mim._O Albert é muito parecido com a mãe. Só gosta do que não presta...

Ao falar esse nome, meu coração bateu mais rápido do nada. Acho que ele é muito importante pra essa garota. Sinto o quanto ela está agitada aqui dentro, mas ainda não dei abertura pra ela se comunicar comigo. Será que faço isso?

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