Vinte e nove

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×Samyra×

Fiquei observando a doce Emi dormindo agarrada a uma boneca meio esquisita. Nunca fui uma garota de gostar de bonecas. Achava ridículo essa história de brincar de dona de casa.
Sinto alguém se aproximando de mim e viro de repente.

_Assustada?_Era Sabrinne e ela estava perto demais.

_Não, senhora._Digo sentindo um leve tremor interno._O Senhor Albert foi no quarto da sua irmã e já volta.

_Eu não perguntei do Albert._Ela rebate._Mas obrigada por me informar.

Ela olha por trás de mim diretamente para a garotinha.

_Vai ficar com você?_Ela aponta pra garota.

_Sim. Irei cuidar dela a pedido do Senhor Albert._Respondo em um tom de voz suave.

_Certo._Ela olha para as unhas._Você está bem?

Estranhei a pergunta.

_Sim. Obrigada por perguntar.

_Hm...

Ela vira-se e vai embora rebolando no seu vestido justo.

Mas por que ela perguntou se eu estava bem?

Lembrei-me de uma coisa: Eu não sei quais são os poderes de muita gente nessa casa. Principalmente o de Sabrinne.

_Aqui estão as coisas dela._Albert entra carregando umas malinhas e olha pro meu rosto._Aconteceu alguma coisa?

_Na-Não._Repreendo-me por gaguejar._Vou levá-la no braço e depois venho buscar tudo isso.

_Mande alguém vir buscar. É melhor pra você. Tem certeza que você está bem?

_Eu gostaria de saber os poderes de cada um de vocês._Digo de uma vez._Se não for lhe incomodar, claro.

_Amanhã pela manhã, depois do café, podemos conversar._Ele põe as mãos nos bolsos._Não sabia que era tão curiosa.

Pego Emi nos braços e saio do quarto de Albert. Desço a escada com cuidado e vou até o meu quarto. Entro colocando o dedo indicador nos lábios pedindo silêncio. Coloco ela numa cama vazia do lado de Liv e cubro-a.

_Que garotinha linda._Liv sussurra._Vai ser a mascote dos doadores.

Todos riem baixinho e resolvemos ficar do lado de fora do quarto. Sentamos todos juntos para conversar.

_Como foi a volta de vocês às suas casas?_Otávio pergunta.

_Eu estava morrendo de saudades do meu pai._Vera diz sorrindo._Abracei tanto aquele velho ranzinza...

Todos ficaram comovidos com a forma que ela falou e eu não evitei chorar. Enxuguei rapidamente, mas foi tarde demais.

_E como foi seu dia, Samy?_Fabricia pergunta.

_Sei lá, terrível._As lágrimas voltam._Nunca imaginei que meus pais fossem ficar tão felizes e eu tão triste com tudo isso. É doloroso você dar seu sangue, literalmente, para deixá-los felizes e não ter um apoio dos mesmos. Meu pai sabe do meu trabalho e nem uma palavra de carinho eu ouvi.

Deixei as lágrimas descerem forte e recebi diversos abraços. Estava doendo, sabe? Eu estava dilacerada por dentro. Mas eu tinha que ser forte. Eu precisava ser forte. Continuamos conversando naturalmente e eu parei de chorar. Liv e Felipe são os únicos que não tem ninguém por eles.
Quando nos demos conta, já tinha anoitecido. Resolvemos tomar um banho e jantar. Depois de tomar banho e me arrumar, pedi pro Gabriel buscar as coisas de Emi no quarto do Albert. Ele foi e voltou rapidinho. Dei um banho nela e levei-a comigo pra jantar. Ela sempre muito sorridente e simpática com todos. Quando viu comida na mesa, arregalou seus lindos olhos castanhos e se podia ver o brilho neles.

_Pode comer, tia Samy?_Ela pergunta apontando pro prato com sopa.

_Claro, meu anjo._Sorrio pra ela._É seu. Pode comer.

_Essa menina é um doce._Fabricia diz colherando sua sopa.

Comemos todos conversando sobre a vida, planos e etc. De repente, Emilly fala algo curioso.

_Eu nunca tive mamãe e nem papai._Ela enfia a colher cheia de sopa na boca._Quem me dava comida era os Resistentes. Eu chamava eles de irmãos.

Todos olharam espantados para a garotinha.

Droga!

_Essa menina é da Resistência?_Nina pergunta abismada.

_Na-Não! Claro que não._Tento soar convincente._Criança né, gente? Vamos relevar!

Terminamos de comer e tentei manter Emi o mais longe possível desse assunto. Os outros foram para algum lugar restando apenas eu, Emi e Vera.

_Que difícil hein?_Ela pergunta._Você tem que controlar o que sai da boca dela.

_Eu sei._Olho pra Emi._Não sei como abandonaram uma coisa linda dessas. Você já pensou no quanto a Resistência pode ser tão cruel como os vampiros? Deixaram-na sozinha onde ela foi encontrada.

Vera torce a boca e faz um olhar penoso sobre a Emi. É fato que ela foi deixada pra trás. Quando viram que ela era lenta e que não acompanhava o resto do grupo, optaram por deixá-la. Isso! Provavelmente presumiram que não iriam matar uma criança indefesa e acharam melhor deixá-la. Mas no que ela pode ajudar daqui de dentro? Será que essa garotinha é parte de um plano dos resistentes?
Tentei afastar esses pensamentos ao vê-la brincando com a sorvetinho, a tal boneca feia. Mas isso não queria deixar de rondar minha cabeça. E se essa inocência que ela demonstra for falsa? E se esse papo de ser órfã for apenas encenação? E se esse menina estiver sobre algum feitiço de bruxa?
Eu definitivamente vou enlouquecer!
Ficamos observando ela brincar em silêncio e logo ela adormeceu nos meus braços. Com a ajuda de Vera carreguei ela para o quarto. Era tão legal ver a Alícia carregando a Emi como se fosse uma pena. Mas comigo era doloroso.
Alguns doadores conversavam entre si e outros já dormiam.

_E você e o Felipe?_Pergunto na cama de cima do beliche._Vocês estão...

_Apenas rolando uns beijinhos._Ela sorri travessa._Acho justo eu me divertir um pouco estando nesse lugar tedioso.

_Cuidado pois se Alícia estiver mesmo apaixonada por você, não queira ver uma mulher com ciúmes._Falei séria._Seja cautelosa! Ainda mais com uma vampira que tem uma super força...

Ela sorri e se enrola pra dormir me desejando boa noite. Confesso que demorei bastante pra pegar no sono. Diversas coisas ficavam me atormentando. Os meus pais, a Resistência, os vampiros, a Emilly, o Albert...
Tudo isso não queria me deixar dormir. E isso estava começando a incomodar.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora