Capítulo 30

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Pérola




Comi  o suficiente para me satisfazer. Meu irmão só  faltou comer a tigela também. Meu avô  ria do Miguel. Ele havia se sujado todo. Assim que terminamos o nosso almoço, eu ajudei meu avô a retirar as louças da mesa. As deixei dentro da pia,aguardei a jarra de suco, que por milagre ainda tinha bastante  líquido. Puxei da pia,a esponja que estava dentro do pote de sabão  pastoso,me preparando para lavar toda louça  suja.

— Filha...— Chamou-me. Poucas vezes ele me chamava assim,mais eu gostava. — Quer sobremesa?
— Indagou-me.

— O senhor quer? — Ele riu.

—Eu quero. — Disse o Miguel,voltando pra cozinha com a camisa em mãos, e um pano molhado que ele tentava passar na camisa para tirar a sujeira do molho que ele havia deixado cair em cima.

— Sorvete? — Murmuou e nos assentimos.

— Sorvete,seria ótimo.— Nos disse.
— Então  vamos. — Chamou-nos. Larguei  a esponja no pote ,sequei minhas mãos  no pano de prato e meu avô  me abraçou e seguimos juntos,até  a saída  da casa. O Miguel nos seguia.  




Alguma horas depois




Estávamos sentados em uma das mesas de uma sorveteria,não  muito longe da casa do Vô. Meu avô  terminava seu sorvete de maracujá, o Miguel terminava o seu de chocolate e eu lambia o meu sorvete de casquinha no sabor de brigadeiro. 

— Isso aqui é uma delícia.
—Murmurou o Miguel, raspando com a colher a calda da taça  de vidro.
— Eu quero outro. — Nos disse,ainda de boca cheia. — Pérola! — Eu o olhei e ele sorriu,e logo abriu a boca e me mostrou seu sorvete derretido.

— Cadê a educação que meus pais lhe deram? — O repreendi, mais ele deu de ombros  e soltou um arroto em seguida.

— Você  é  um caso perdido.
— Murmurei e ele achou graça.

— Que tal irmos visitar a minha mãe  na floricultura? — Olhei para o Vô e o vi mexendo no seu sorvete. — Vô?
— Toquei em seu braço e ele me olhou. — O que houve? — Ele sorriu e tomou uma colherada de seu gelado.

— Só lembrei da Marina. — Me disse. — Ela adorava esse lugar. O de maracujá era o seu preferido. — Ele sorriu,voltando a mexer no sorvete que derretia.

— Sidney! — Ouvimos uma voz masculina chamar nosso avô. Olhei para trás  e vi que se tratava de um homem da idade dele. Porém  o seu oposto. Ele era magro ,cabelos negros,na certa tingidos para mascarar a verdadeira idade.Usava uma roupa que lembrava o uniforme antigo da corporação onde meu avô passou os melhores anos de sua vida. — Meus pêsames. — Meu avô  assentiu. — Eu fiquei sabendo a pouco tempo,o que houve. Eu estava viajando,não  fazia idéia  que a nosaa Marina havia ido embora.

—  Tudo bem. Não  tem problema.
— Disse meu avô, ao moço  que estava em pé, nos olhando. — A Marina não  iria gostar de choradeira. — O homem sorriu.

— Vou visita-la,um dia desses. — Nos contou.

— Ela adorava flores de pétalas  pequenas. — Meu avô  contou.

— As amarelas eram as suas preferidas.  — Meu avô  assentiu.  — E a Gisele,tá  lindando bem com isso?

— Creio que sim. Todos nós estamos tentando superar. — Meu avô  deu um meio sorriso forçado.

— Foi bom te ver. — Meu avô  assentiu.

— Até. — Ele acenou para mim e acariciou os fios escuros do Miguel que não  gostou muito de ter seus cabelos bagunçados  por um homem. O homem,nos olhou mais  uma vez antes de seguir seu caminho.







Luan






Retirei o carro do estacionamento e segui direto para casa. Deixei o carro na guardado na garagem e abri a porta. Encontrei a lena sentada no sofá de pernas cruzadas,presa no telefone. Ouvi ela falar o nome do meu pai,e logo percebi que ela falava com ele. Ela queria ter certeza de que ele estava bem,o suficiente para ficar sem ela por alguns dias.

— Trouxe nosso almoço.  — Sussurrei e a Lena assentiu. Deixei as embalagens em cima da mesa de centro e beijei a sua testa rapidamente.  — Vou tomar um banho rapidinho. Eu já  volto. — Ela assentiu e eu segui para as escadas. As subi pulando alguns degraus. Caminhei com pressa até  o meu quarto e assim que abri a porta me surpreendi ao vê-lo arrumado. Meu violão  estava ao lado da cama. Entrei e me sentei,o puxei do chão  e o ajeitei em meu colo. Coloquei uma de minhas mãos  no braço  do violão  e a outra mão  tocou algumas cordas. Logo ouvi algumas notas exalarem seu som e sorri ao me lembrar do dia que toquei no quintal da Pérola. O dia em que aquela ruivinha invadiu meu coração e ocupou  todo o espaço  livre que antes havia. Me perdi em meus pensamentos,toquei uma música, sonhei acordado com ela. Voltei a minha realidade assim que ouvi a voz  da Lena me chamando.

— Luan! — Gritou meu nome com urgência. — Já  tomou banho?

— Vou tomar agora. — Devolvi o violão  para o lugar que estava e  me coloquei de pé.  — Eu acabei me distraindo.

— Não  demora. — Pediu-me. — Eu tô  faminta. Abri  a porta do meu armário  e puxei da gaveta uma roupa fresca .Peguei uma bermuda de tecido mole e uma camiseta em um tom claro. Logo segui para o banheiro com as roupas em mãos. Tomei uma  ducha rápida e extremamente gelada,já que lá fora o dia já esta castigando. Sequei meus fios de qualquer jeito  e voltei a descer as escadas  com pressa. A Lena não  estava na sala. Segui para a cozinha e a encontrei terminado de preparar uma jarra de suco.

— Agora sim,podemos almoçar. — Me disse,e eu assenti. Ela pegou a jarra de suco e a levou para sala e depositou a jarra na mesa,junto de nosso almoço. Eu levei os copos e logo me senti no chão. A Lena abriu a embalagem de isopor da marmita dela e começou  a come-la.

— Isso a que está delicioso!
— Murmurou de boca cheia.Ela não tinha esse costume de burlar a etiqueta, só quando a fome a consumia por inteira, como hoje.

— Verdade. — Assenti,enquanto enfiava uma colherada da minha comida na boca. — Eu estava morrendo de  saudades das iguarias italianas do tio. — Confessei e a Lena sorriu.

—Tá  passando fome na fazenda?
— Eu sorri e neguei.

— Não. — Afirmei. — E que a comida é diferente. — Contei. — Tudo que comemos lá, e plantado lá ou criado lá.

— Matou as saudades do Artur? — Indagou-me.

— Um pouco. — Confessei. — Vou marcar com ele de vim almoçar  aqui,com a gente. — Ela assentiu.

— Ele vai adorar. — Concordou. — E nem vai pensar em negar. Ele te ama.— Murmurou.

— Eu também  o amo. — Lhe disse.

— Isso saiu meio gay, sabia? — A Lena riu. Achando graça da situação.

— Eu sei, e não ligo! — Voltei a mastigar  a minha comida. — O tio é  um pedacinho nosso,da nossa família. Meu segundo pai. — Falei com orgulho.

— É  bonito essa relação  de vocês  dois. — Contou e eu a agradeci  por isso.

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