Capítulo 29

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Pérola






— Vô! — O chamei, assim que entrei na sua casa. Fechei a porta e seguimos para a cozinha de onde um cheiro delicioso saia. — Nossa,que cheiro bom. — Suspirei e logo puxei uma das cadeiras para me sentar.

— Pérola! —  Sorriu ao me notar,mais não parou de soltar  o macarrão que estava  na panela,em cima de uma das bocas do fogão. — Até que enfim você veio me ver! — Constatou  meu avô, como se eu fosse uma daquelas netas desnaturadas. Eu revirei os olhos e joguei a minha cabeça para trás em um riso frouxo.

— Vô, desculpa. — Pedi e ele sorriu.
— Eu andei um pouquinho ocupada com os estudos. — Menti e ele sabia disso. Ele assentiu  e retirou a panela do fogo e o desligou. Em seguida  jogou a massa no escorredor que estava dentro da pia e o lavou em água  corrente.

— Filha, quer me ajudar com o molho? — Eu assenti e fui logo abrindo a geladeira para pegar alguns ingredientes para ajudá-lo. O Miguel começou a descascar o abacaxi e prepará-lo para fazer um delicioso suco.

— Cuidado para não  se cortar. — O Miguel assentiu pro Vô.

— Vô,como o senhor está? — Ele respirou fundo e eu me arrependi de tê-lo perguntado. — Deixa pra lá, o senhor não  precisa me falar nada.
— Justifiquei e ele assentiu e começou  a temperar a massa.

—Eu tô bem melhor,do que estava ontem e os demais dias. — Me disse.

— Vô, cadê  o liquidificador? — O indagou o Miguel,vasculhando  os armários.

— Quebrou. — O Miguel bufou. — E agora? — Murmurou.

— Tem que pedir pra vizinha. — Ele disse e o Miguel logo saiu da cozinha. Na certa,foi pedir emprestado  como o Vô havia dito.

— E as suas aulas de músicas?
— Indagou-me. —Está  gostando?

— Muito. Um dos meus professores é um rapaz que trabalha na lanchonete perto da loja da minha mãe. — Contei e ele achou engraçado. Não  demorou muito para que o Miguel voltasse com o aparelho em mãos. O ajudei a colocá-lo na mesa,já  que por pouco ele quase o deixou cair. Ele mesmo fez o resto,bateu os abacaxis cortados  em cubinhos ,com água e açúcar. Depois  o passei pela peneira de plástico e o deixei terminar. O gelo ficou por conta do Vô. O pedimos para ele nos contar sobre os casos que ele pegava quando trabalhava. Eu o via contar,e seu rosto mudava. O meu avô  sempre foi apaixonado pelo seu trabalho,era lá  que ele se sentia confortável e útil.

O macarrão  já  estava pronto,o molho a bolonhesa feito por mim e o suco pelo Miguel. Meu avô nos pediu para que montássemos a mesa. Coloquei os talheres e os pratos. O Miguel pegou a jarra de suco da geladeira e a posicionou no centro da mesa,meu avô  em seguida pousou sobre a mesa a tigela de molho e a de macarrão  com os seus pegadores. Nos sentamos,o meu avô na ponta e o Miguel e eu ,um na frente do outro. Meu avô  sorriu,feliz pela mesa farta e pela companhia  dos seus netos tão  queridos.

— Tô  cheio de fome. — Murmurou o Miguel já  puxando um dos pegadores de cima da mesa e o levando a tigela de massa. Meu avô  deu um tapa de leve em sua mão  e ele encarou o Vô.
— Vô! — Esbravejou e meu avô  o fuzilou com os olhos.

— Primeiro vamos fazer nossas preces. — Seu Sidney nunca foi um homem muito religioso, porém a convivência com os meus avôs paternos ,da parte do meu pai Erick, após  a perda da vó  Marina ,ele pegou isso pra ele.

— Desde quando o Senhor reza? — O indaguei achando graça  da situação.

— Desde agora. — Nos disse. — E eu não  rezo,eu oro. — Justificou e eu assenti. Fechei meus olhos,e chutei o Miguel para que ele fizesse o mesmo. Meu avô  fechou os dele em seguida, percebi quando abri os meus rapidamente para olha-los.
— Senhor... — Emendou ele. — ... obrigada por esse alimento que tens nos dado. Obrigado pelos meus netos,obrigado pelo dia de hoje ,no qual tive o prazer de ver a luz do dia mais uma vez. Eu sou grato por tudo que tens me dado,e que o senhor venha enviar esse mesmo alimento para aqueles que não  têm nesse momento...

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