Capítulo 39

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Luan



Eu me surpreendi com a visita inesperada  do guardião da família. Ele se dispôs a sair da casa dele,da vida perfeita que ele mantinha e veio atrás  de mim,do menino que roubou a neta dele,do colo protetor que eles a envolviam.  Foi difícil  lidar com a saudade que eu sentia dela. Numa noite,depois de tomar uns goles de cerveja com meu tio no estábulo, eu liguei pra ela,mas não tive coragem de falar nada. Eu queria apenas ouvir a voz dela,e me lembrar de como era bom ouvir o som que ela emitia ,voltar a invadir meus tímpanos. Meu tio me chamou de fraco,depois  que desliguei a ligação.  Ele me disse que se eu a amava,eu tinha que ir atrás  dela,e esquecer as mágoas. Disse também que mulher não  tem paciência  de esperar o homem se resolver,e que se eu perdesse muito tempo com os meus questionamentos eu iria encontrá-la atracada ao ruivo. Era o que eu temia que acontecesse.  Enchi a cara ,depois  daquela conversa. Depois dela,ele se sentiu obrigado a me colocar na cama. Sorte que meu pai não  me viu. Fiquei mau humorado no dia seguinte,cheio de dor de cabeça, não  pela ressaca, mas por pensar de mais. Eu lutava contra mim mesmo. Era duro se mostrar arrependido e disposto a mudar,e se desculpar. Seria tão  mais fácil  se ela viesse atrás  de mim. O problema é  que ela veio,o ruivo veio,o avô  dela veio e eu me esquivei de tudo o que ouvi e enfiei na minha cabeça  que eu estava certo e que o mundo que se ferrasse  por isso. Eu que me ferrei. Realmente toda história  tem dois lado. Eu tinha que entender o que meu coração dizia. E ele gritava por ela. Por minha menina de cabelos ruivos. Eu decidi que merecia dar uma chance para ouvi -la. Mas ouvi -la de verdade,sem amarras,sem pre-conceitos,sem autoritarismo. Só eu e ela,num local neutro. Sai do meu quarto,depois de um banho tomado. Peguei as chaves da caminhonete de segunda mão que usávamos para transportar os fardos de fenos,sacos de milhos, E outras coisas nas quais necessitavam de transportes. As levei comigo,enquanto seguia até a porta. Abri a porta,e me deparei com o meu tio,escorado na caminhonete.

— Onde você pensa que vai?
— Indagou-me.

— Resolver umas pendências. — Me aproximei do carro e ele riu.

— Garoto,volte pro quarto. Você não está acostumado a beber. — Me puxou pelo braço.

— Eu sei me cuidar. — Puxei meu braço de sua mão e ele me soltou.

— Eu sei disso. — Puxou as chaves da minha mão. — Amanhã também é dia de resolver as pendências. — Passou seus braços por meu ombro. — Ela não vai fugir. — E eu acabei desistindo, e voltei com ele até o quarto. Voltei a me deitar,e adormeci rapidamente. No dia seguinte,eu desisti de ir,tava sem coragem. Eu temia a rejeição que eu teria dela. Os dias foram passando,meu pai piorou,teve que ser internado e eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse ele. A Lena estava abatida,e  me partia o coração toda vez que eu a via chorar. Meu tio segurou as pontas da Fazenda,ele se atolava em trabalho e eu ia da Fazenda pro hospital,do hospital pra fazenda.

— Ele vai ficar bem. — Me disse,a Helena. Enquanto estávamos parado ,do outro lado da sala observando ele,enquanto dormia.

— Eu sei que vai. — Eu queria acreditar nisso. Eu me segurava nisso.
Depois de alguns dias,recebi uma ligação  desesperada da Helena,eu estava na fazenda ajudando meu tio,nessa hora.  Eu não  podia abandonar tudo o que ele manteve estável, para passar vinte e quatro horas ao lado dele. Eu tentava me manter forte, eu tentava ser responsável como ele sempre me dizia pra ser. A tonalidade que ela disse meu nome,e o planto que me deixou ouvir em seguida ,só  me dizia uma coisa,ele havia nos deixado. Ele não  aguentou.

— Ele se foi...— Foi a única  coisa que ela me disse. Eu queria acreditar que ele tinha ido apenas a algum lugar pra matar a saudade, pra almoçar ou quem sabe resolver algum problema da clínica. Era isso que eu queria acreditar. Esse "ele se foi",Não  parecia que era pra sempre. Sempre tem O "Ele já  voltou". Onde eu correria até  a porta e o abraçaria. Ou,me encostaria  na batente da porta,e acenasse pra ele,indicando  que eu ainda me mantinha vivo e bem,e ele viria até  mim e me puxaria  pra um abraço carinhoso. Eu cresci com o carinho dele,com os conselhos,com as histórias que ele me contava da minha mãe. Quem sabe ,era a hora deles voltarem a ficar juntos. Ele me deixou a Helena. Mais eu também  temia que ela também pudesse me deixar. Eu não  era nada dela. Era apenas uma sombra,do homem que ela amava. Não  sou ele,e nem tenho pretensão  se ser.  Eu sabia que ele iria partir,  cedo ou tarde. Eu só não estava preparado pra receber essa notícia. Meu tio me abraçou forte,tão forte que eu me senti sufocado. Ele chorava descontroladamente. Parecia um menino. O levei comigo até  a casa dele,minha tia me recebeu bem e confortou o marido quando descobriu que ele havia perdido o único  irmão. Eu voltei pra minha casa,passei pelo estábulo, segui pela estrada de pedras,  a noite começava a dar as caras. Minha lágrimas começavam a saltar dos meus olhos, eu continuava a andar. Passei pela mangueira que tínhamos, sorri ao me lembrar que aquela foi a primeira árvore que eu subi,e da bronca que levei do meu pai  depois que cai dela, e quebrei meu braço. Eu olhava pro céu e pensava,será que ele tá lá? Tá lá agora,me olhando?

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