03. Mentira

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— Lori! — Viro-me, apavorada, solto a faca no chão, tento pegar, mas com o lado errado, então corto dois dedos

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— Lori! — Viro-me, apavorada, solto a faca no chão, tento pegar, mas com o lado errado, então corto dois dedos.

      — Do quê você estava falando? — Ela me parece um pouco desconfiada, se Lori escutar alguma coisa eu estou ferrada, não porque ela não pode contar e sim porque ela não sabe lidar com mentiras, Lori pode ter todos os defeitos do mundo, mas não sabe mentir.

      — O que você ouviu? Quer dizer... Me fala, por favor — peço, apavorada, enquanto pego a faca que caiu no chão e rezando para ela dizer que chegou agora.

— Tudo. Com quem vai se casar? Por quê? — Ela vem e senta-se em uma das cadeiras mais próximas a mim, eu estou ajoelhada vendo o sangue em meu dedo, trêmula.

— Lori, pega um pano para mim, já conversamos, mas antes eu preciso resolver isso. Vem. — Pego a manga do casaco e envolvo os cortes antes que sangre mais. Levanto e lavo-o enquanto ela busca a minha caixa de curativos. — Obrigada, mana.

      Faço os curativos — que estão bem mais fundos do que eu pensei —, e ela senta à mesa novamente, puxa as mangas da blusa de lã que eu dei à ela, eu pego uma das cadeiras e sento à sua frente. Tudo o que eu mais queria era que ela não tivesse escutado nada disso, mas, como eu disse, mais pessoas dando a sua opinião eu acho que vai facilitar na minha decisão. Eu espero.

      — Agora me conta. Tudo.

Enquanto eu conto tudo, ela me encara profundamente​ com aqueles olhos verdes. Primeiro conto à ela que nosso pai chegara. Depois falo que ele me fez uma proposta.

— Mas, mas, ele está bem? Como ele está? Papai!

Papai e Lori sempre foram carne e unha, ela é a caçula, a que o papai dava tudo e não negava nada, nem mesmo um balão de festa. Por mais que tudo isso aconteceu, eu creio que o sentimento de amor entre pai e filha ficou bem aceso dentro dos dois. Eles são iguais, não só emocional, mas fisicamente também. Se olham de um jeito lindo. Quando papai saiu de casa, Lori tinha apenas doze anos e eu dezesseis, Jack iria fazer vinte anos em dezembro. Cada um de nós tem quatro anos de diferença um do outro.

— Mas, o papai, ele está bem, Clary? Me responde?

— Ele parecia bem, quer dizer, não sei, ele entrou, me deu oi, pediu onde todos estavam, eu contei sobre a mamãe, sobre você e sobre o Jack e...

— O que você disse sobre mim? — me interrompe.

— A verdade, Lori, apenas a verdade. — Ela parece muito desapontada. Talvez pelo fato de que desde que o papai foi embora ela não é a mesma ou porque sabe que a reação dele seria de desgosto ao saber o que a filha se tornou.

— E.. e o que ele disse?

— Que não esperava isso de você, que ele se orgulha de mim, que sente pena da mamãe e que não queria que Jack tivesse ido embora.

— Eu sempre soube que você era perfeita. — Ela abaixa a cabeça e eu sinto que está chorando.

— Claro que eu não sou perfeita, Lori, olha para mim, olha o que eu sou, uma Jornalista fracassada que vai ter que casar com alguém por dinheiro.

—Clary, você é perfeita, sim, você fez faculdade, trabalhou muito para pagar, além disso, fez um curso extra de enfermagem para cuidar da mamãe, já que não tinha condições. Olha para mim e para o Jack, deixamos a mamãe de lado, ele e a noiva moram em Nova York e nem ligam para a mamãe, eu saio todos os dias, também me importo com ela, mas não sei cuidar, eu nem mexo com ela porque sei que você sabe fazer isso melhor do que qualquer um.

Ela está prestes à chorar de novo quando algo acontece e ela simplesmente​ seca as lágrimas. Ergue a cabeça e provavelmente sairá hoje à noite para afogar as mágoas em uma bebida qualquer, em um bar qualquer.

— Está bem, Lori, pense o que quiser, mas eu preciso focar em outra coisa agora. — Ela pensa em se levantar, mas fica na cadeira e me olha com profundidade novamente.

— Sobre isso, o casamento. O que vai fazer a respeito?

— Na verdade, o papai disse que o casamento vai acontecer quer eu queira ou não e está marcado para setembro, ou seja, temos seis meses para o casamento. Papai disse que eu vou ser obrigada a me casar. Provavelmente uma força maior me impede de tomar as minhas próprias decisões. — Reviro os olhos.

— Como assim, você vai ter que se casar querendo ou não. Isso... isso é possível? Ele te deu duas opções e as duas dão no mesmo buraco?

— Exato. Ele me disse que eu tenho até amanhã para pensar, mas eu não entendi o fato de me dar dias para pensar sendo que o resultado será o mesmo. Eu só não sei quanto tempo essa merda de casamento vai durar. Nem sei se vai dar em alguma coisa.

— Eu sei que você vai tomar a melhor decisão e vai saber como lidar com isso. Eu estou do seu lado, Clary.

É a primeira vez na vida que eu vejo os olhos verdes da Lori se encherem de água até transbordarem. Ela pega as minhas mãos por cima da mesa e, sem dizer nenhuma palavra, me olha no fundo dos olhos. E nesse momento eu percebo que ela confia em mim. Ela confia em mim para ajudar a mamãe.

— Tudo isso vai ser pela mamãe, Lori. Eu prometo que não vou decepcionar ela. Eu prometo.

Nos levantamos e ela me abraça, tão forte que eu sinto os meus ossos estalarem. Gosto de ver que a Lori tem sentimentos pela nossa mãe, mesmo depois de tudo tudo o que ela foi capaz de dizer no passado, mas não podemos culpá-la, afinal, ela só tinha doze anos quando o papai saiu de casa e dezoito quando a mamãe descobriu que estava com câncer. Ela era uma criança, não sabia o que estava acontecendo, então achou que xingar seria a porta para tudo. Aos quinze anos ela começou a tomar remédio escondido para depressão e de vez em quando acabava se dopando e ficava em coma por dias. Mais tarde, aos dezoito anos ela descobriu a bebida e as péssimas amizades, desde então ela sai todas as noites e bebe feito uma louca, então é bom saber que por uns minutos ela fez parte da vida da mamãe, pelo menos depois que a vida dela virou de ponta cabeça.

— Obrigada, Lori. Pode ir descansar, eu vou fazer o almoço agora.

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Contratada Para Amar | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora