— O Jack me ligou hoje — digo, enquanto descasco alguns legumes.
— Como, quer dizer... o nosso irmão?
— Pois é. Que milagre, não é? — Ela assente e dá risada. — Ele parecia tão diferente, se bem que faz muito tempo que eu não ouço a voz dele. Ele parece maduro.
— Mas o que ele disse?
— Ele falou que queria ver a gente, a mamãe, por que o casamento está perto e acho que ele deve trazer os convites, talvez, não sei, mas eu disse a ele que ele falaria comigo antes de falar com a mamãe.
— O que você quer falar com ele primeiro? — A expressão de Lori é meio indecifrável. Não sei bem se ela está aceitando ou repreendendo aquilo. — Quer dizer... por quê?
— Porque eu tenho que falar umas coisas para ele antes, relaxa, mana, são só uns assuntos particulares, mas eu prometo que eu trago ele aqui para ver vocês.
— Tudo bem.
— Agora, vamos. Nós temos que terminar a sopa para dar para a mamãe. — Me levanto com todos os legumes descascados. — Coloca esses aqui para refogar enquanto eu faço a carne.
— Tá bom.
É uma das primeiras vezes em que eu e a Lori estamos realmente conversando e nos dando bem. As minhas boas lembranças com ela são até quando tínhamos oito ou nove anos, quando brincávamos de casinha e ela amava ser a minha filha — porque eu me inspirava na minha mãe, ela se inspirava em mim —, e na maioria das vezes que nossa mãe saia para trabalhar, e o Jack não estava em casa, eu cuidava dela, fazia almoço e arrumava a casa. Não muito diferente do que eu faço hoje em dia.
É engraçado o fato de eu ter vinte e quatro anos e não poder tomar as minhas próprias decisões sobre a minha vida. Ser mais do que adulta, formada, mas não poder tomar as minhas próprias decisões. Pode ser estranho e as pessoas podem pensar que é ridículo, mas com a família que eu tenho essa foi a minha única opção. Eu garanto que quase qualquer um na minha situação faria o mesmo. Seu pai sai de casa para morar com a amante. Sua mãe tem câncer. Seu irmão mais velho sai de casa e vai para o outro lado do país. Sua irmã mais nova não para em casa, e quando para: está bêbada. Eu poderia muito bem ter deixado a minha mãe de lado e ir viver a minha vida. Poderia ter achado um emprego e conseguido um dinheiro, mas não é nada fácil quando você é recém-formada. Ah, como eu queria que as coisas fossem mais simples, mas já que eu não pude escolher a minha família a dedo, eu só preciso aceitar tudo, tentar dar a volta por cima e pagar a cirurgia da minha mãe.
— Clary? — Lori me chama.
— Sim — respondo.
— Você está longe, está pensando em quê?
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Contratada Para Amar | concluída
RomansaPode a vida de uma garota virar de cabeça para baixo por causa de um pequeno contrato? Podem as pessoas da sua própria família se virarem contra você? A resposta para essas e mais perguntas é sim. A vida de Clary Highgate vira de pernas para o...