10. Dia de Folga.

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ASSIM QUE caminho de volta para casa começo novamente à pensar, normalmente a parte da noite mantêm a minha mente mais pensativa ou ativa mesmo

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ASSIM QUE caminho de volta para casa começo novamente à pensar, normalmente a parte da noite mantêm a minha mente mais pensativa ou ativa mesmo. Ainda mais quando tanta coisa está passando pela minha cabeça. A Vi fica no parque ainda, eu me levanto e começo a andar de volta. E de novo penso no que eu vou fazer, de uma certa forma, a minha vida tomou um rumo que eu nunca pensei que tomaria, a minha mãe ficou doente e os filhos a abandonaram, junto com o marido, ela perdeu o emprego dois meses antes de descobrir a doença, por sorte eu ainda trabalhava, ganhava pouco, mas trabalhava, e se não estava no trabalho eu estava na faculdade. A minhas mãe sempre me disse que tinha orgulho de mim, que eu sempre seria muito amada por ela, até os seus últimos dias de vida.

      Chego em casa, a Lori já está dormindo, com fones de ouvidos que, na verdade, dá para escutar a música lá do corredor, me aproximo da cama dela e toco nos fones para tirá-los.

      — Mana? — ela resmunga, remexendo-se nas cobertas.

      — Sim.

      — Eu... — Ela levanta e senta, encostando na cabeceira. — Quer dizer, lembra quando éramos pequenas e você dormia na minha cama, porque eu tinha medo de dormir sozinha, aí você deitava do meu lado e cochichava que tudo ia ficar bem? Pode fazer isso de novo? Me diz que tudo vai ficar bem?

      Eu aprendi que às vezes não podemos falar o que as pessoas precisam ouvir, e sim o que elas querem ouvir, eu podia falar tudo o que ia acontecer com a nossa vida dali em diante, mas eu sabia que isso magoaria mais ainda a Lori. Sei que ela sente falta de quem era antes, de quem éramos, da nossa família, mas dizendo o que ela precisa ouvir eu vou magoar ela. Então opto pelo caminho mais fácil.

      — Sim, Lori, vai ficar tudo bem, pode acreditar. Tudo vai dar certo no final. — Me sento na cama dela e faço carinho em seus longos fios louros.

      — Você dorme comigo essa noite?

      — Ah, claro, Lori. Claro.

      Ela sorri e revelou os dentes brancos, mas mais do que isso, ela mostra um sorriso sincero e nesse momento eu vejo uma criança, me lembro de Lori quando era criança. Com uns cinco anos. Uma menina linda, loirinha, correndo pela casa com suas bonecas, ela era uma verdadeira barbiezinha, linda, fofa e gentil. Nesse momento, eu vejo no olhos de Lori que ela deseja, tanto quanto eu, ser aquele criança indefesa e inocente, na qual acreditava que tudo poderia melhorar, como um beijo de mãe em um machucado.

      Faço o que ela pediu, deito em sua cama e abraço ela. Por mais que eu saiba que nada do que eu digo faz sentido ou simplesmente não vai acontecer, eu faço como ela, fecho os olhos e acredito. Assim como quando jogamos uma moeda na fonte, jogamos ela com tanta fé que nosso desejo será realizado que não ligamos para o que realmente está acontecendo, apenas queremos que o nosso desejo se realize. Por mais bobo que seja, como uma bicicleta, um chicletes ou uma bola de basquete.

      Demoro para dormir. Tanta coisa passando pela minha cabeça. Tantas hipóteses sobre decisões que eu vou tomar na minha vida. Como eu vou reagir a tudo sem prejudicar quem eu mais amo. Durante a noite eu me dou conta de que o certo à fazer é escolher o que a vida me propôs. Também me dou conta de que eu não falei com a minha mãe de que ela vai se curar em breve.

Quando acordo eu estou com uma dor imensa nas costas, a cama da Lori está ficando pequena para mais de uma pessoa. Olho em volta e ela não está no quarto. Ela deve estar tomando café. Vou para o meu quarto e depois tomo um banho, um banho relaxante, quente e tão gostoso que quase me esqueço de sair daqui. Coloco uma roupa confortável, nada melhor do que acordar tarde e tomar um belo banho quente em um dia de folga. Saio do quarto e passo pelo quarto da minha mãe, fico apavorada porque ela não está nele.

      — Mamãe! — grito, batendo a porta do quarto e indo desperada pelo corredor, chego na sala e olho pela janela,  a mamãe e a Lori estão andando pelo gramado do jardim dos fundos.

      Esse jardim está mais morto do que muita coisa, a minha mãe sempre foi boa com plantas, mas depois da doença ela quase nem sai da cama. Antes de tudo, ela plantava tanta coisa que não sabíamos o que era jardim e o que era a casa, não sabíamos o que era flor, vegetal ou fruta. Agora está tudo morto, e o que não está morto, está quase morrendo. Vejo a Lori segurando no braço da mamãe, as duas conversam sobre algum assunto aleatório, mas pelo jeito engraçado.

      — Mamãe! — Assim que me aproximo delas a minha mãe sorri, as minhas lágrimas são inevitáveis.

      — Mana, eu não te chamei porque você dormiu tarde ontem e como eu sabia que você tinha o dia de folga, eu deixei você dormir mais um pouco — Lori diz, enquanto eu a ajudo a encaminhar a mamãe, para sentar em uma mesa que temos lá fora.

      — Mamãe, está tudo bem? — peço, assim que nos sentamos na mesa.

      — Eu estou bem, meu amor. Eu preciso de um pouco de ar, ver as minhas plantas. Que já não são mais as mesmas, mas...

      — Mas logo você vai estar boa para cuidar delas novamente. — Sorrimos. — Hum... Mãe, eu posso te contar uma coisa? — Ela assente. — Me desculpa pelo atraso, de verdade, eu queria ter falar com você antes, mas eu vou meu casar. Isso... isso é bom, não é?

      — Meu Deus, Clary, minha linda. Como isso aconteceu? Quer dizer, eu estou feliz por você. Que bom. Que bom mesmo. Quando vai ser? — A voz dela sai trêmula, mas mesmo assim ela está muito feliz.

      — Tem mais uma coisa, sobre o casamento...

      Eu preciso contar sobre o papai, sobre a proposta, sobre o dinheiro. De verdade, eu preciso enfrentar isso, não posso ser falsa com ela. Nunca.

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Contratada Para Amar | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora