46. Sorrisos.

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1.253 palavras

Música do capítulo: Supermarket Flowers Ed Sheeran (mídia)

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DUAS TORTURANTES horas depois eu acabo abrindo os olhos. Acabei por dormir no ombro de Mike. Até que ele mexe na minha mão. Abro meus olhos lentamente.

— Clary? — ele diz, então eu levanto a cabeça e ajeito meu pescoço. Com dor no mesmo.

— O que foi?

— O médico está vindo. — Nessa mesma hora arrumo-me na poltrona, o que faz-me levantar.

— Familiares de Mary Laís Highgate. — Ele observa uma prancheta e me olha.

— Por favor, podemos ver ela? — Lori pede.

— O que aconteceu? — peço.

— Ela estava indo bem nas quimioterapias, mas durante a noite ela teve uma hemorragia interna seguida de um AVC repentino. Não tem uma lógica para o que aconteceu, nem a medicina explica algumas coisas. Nós sentimos muito, mas ela não resistiu a cirurgia, fizemos o máximo possível. De verdade. — Então ele assina alguma coisa na prancheta e sai.

A minha única reação é não ter reação. A Lori chora mais do que consegue suportar e me abraça forte. Ainda não sinto vontade de chorar, nada, nenhuma gota. O Jack também está chorando, mas eu ainda não consigo. Nem sei se isso é uma reação obrigatória ao se perder alguém. Olho para os lados e o meu pai não está aqui. É óbvio que ele não estaria aqui.

Fico em pé assim que a Lori me solta, o Mike pega na minha cintura e me ajuda a sentar. Ele traz um copo de água e me dá. Não dou nem um gole e o médico volta.

— Clary, Lori e Jack, vocês podem ir ver a mãe de vocês.

A Lori pega no meu braço e o Jack vai na nossa frente, o médico abre a porta e nós três entramos. Ela está coberta até à cabeça por um pano branco, só dá para ver os seus olhos e os seus cabelos que quase não estão mais lá.

Ainda estou parada, na porta. A Lori e o Jack se aproximam dela e pegam em suas mãos. Encaro aquela situação sem que nenhuma lágrima saia dos meus olhos, é difícil descrever a perda de alguém. Inclusive a perda de alguém que é a sua mãe, a pessoa que deu à vida para você e também o fato de que eu cuidei dela durante maior parte do tempo eu cuidei dela.

É realmente difícil aceitar que o sorriso dela não estará mais fisicamente presente. Só nos meus pensamentos. Eu morro de medo de esquecer o sorriso dela. Uma das razões pelas quais eu não gosto de ver pessoas em velórios, não é a última imagem que eu quero ter da pessoa.

Não consigo me aproximar dela mais do que isso. Sinto as minhas mãos tremerem, então a Lori vem até mim e me abraça forte.

Volto para casa com o Mike. Não converso uma palavra com ele. Nenhuma palavra sai da minha boca. Eu não sei como expressar a minha dor. Não sei se eu vou sentir isso quando der um dia, uma semana, um mês ou um ano. Eu não sei se amanhã eu vou acordar com dor de cabeça de tanto chorar ou se vou sonhar com ela a noite inteira. Não sei se vou acordar com a memória do sorriso dela na minha cabeça ou se eu não vou conseguir me lembrar de nenhum de seus detalhes.

Mike abre o apartamento e eu entro, me sento no chão, ao lado do sofá e pego um porta retrato meu e dela em cima das mesinha de centro. Encaro aquela foto e a primeira gota cai em seu rosto. Mike está em pé a minha frente.

— Como ela teve coragem de fazer isso? Como? Eu não acredito que ela fez isso comigo? Que consideração ela teve? Ela não tem o direito. — Levanto-me e ando de um lado para o outro, jogando o porta retrato no chão, vendo ele se estilhaçar em menos de segundos. — Eu não posso aceitar isso, como ela teve coragem? Por que ela fez isso comigo? — grito, não liberando nem dez por cento das minha fúria. A única coisa que eu faço é bater no Mike, bato no peito dele, com a força que consigo.

— Pode descontar a sua raiva, não tem problema — ele diz, assim que eu seguro para não bater mais nele.

— Idiota, Clary, do que adiantaram esses anos todos cuidando de alguém que ia te deixar no final. Do que adiantou? Do que adiantou se importar com alguém que no final das contas não ia ficar tanto tempo com você​? — Conforme eu falo os meus braços se moviam em direção a ele.

Até que Mike segura os meus pulsos e se senta comigo no chão, encostando no sofá. Eu apoio a minha cabeça nele e simplesmente choro o que eu não chorei durante a minha vida toda. Nunca chorei tanto na minha vida. Mike não tenta me impedir, apenas faz carinho no meu cabelo por um longo tempo.

— Eu sei que você está triste. Eu sei que ninguém no mundo pode acabar com a sua dor. Eu queria muito poder tirar a sua dor com um remédio, mas acredite em mim que vamos superar isso juntos, tudo bem? — Ele mexe no meu cabelo e eu apenas assinto.

Alguns minutos depois eu me solto dele. Ficamos sentados um na frente do outro. Ele me ajuda a pegar os cacos do porta retrato, eu o coloco na mesinha. Enquanto ele arruma os cacos eu vou para a cozinha buscar uma sacola para colocá-los. Volto e faço isso.

— Vem, vamos dormir, você está muito cansada agora. — Mike me ajuda a ficar em pé, coloco os cacos no cesto de lixo e vamos para o quarto. Nem brincamos com Arendelle, de fato eu não tenho cabeça para ela agora.

Mike me leva para o banheiro. Ele tira a minha roupa e me dá um banho rápido. Não sinto nada, cada vez que eu abro os olhos eu não sei se a água é do meu olho ou do chuveiro. Ele coloca o meu pijama e me ajuda a deitar na cama.

Olho de relance no celular e são duas horas da manhã. Viro-me e Mike já está dormindo. Sento-me na cama e fico encarando a janela. Eu só consigo lembrar da minha mãe. Do sorriso dela as vezes que ela podia sorrir. Quando ela apanhava e mesmo assim levantava, cuidava dos meus machucados e dos machucados do Jack e depois ia fazer almoço. Eu acho que ela era a pessoa que menos sorria. Pelo menos na frente do meu pai ela não soltava um sorriso. Durante o dia, quando ela ajudava a gente nas tarefas ou quando o meu pai não vinha a noite e nós assistíamos uma comédia, ela sorria com a gente. São esses os momentos que eu estou guardando agora, na minha memória, no canto do meu cérebro que tem uma gaveta especial só da minha mãe. Tipo um memorial. Lembro quando ela descobriu a doença, ela sempre me disse que iria sorrir, sorrir de tudo e para tudo o que meu pai negou à ela.

Lembro-me de todas as vezes que ela sorria enquanto mexia nas flores. Uma vez, quando o nosso pai tinha saído e voltou no outro dia, passamos a tarde inteira no jardim, a Lori tinha quatro, eu oito e o Jack doze, nós corremos durante o dia todo. Esse é o melhor sorriso que eu guardo dela. A minha vontade é de revelar todos esses sorrisos dela em fotos e colocar na estante da minha sala.

Contratada Para Amar | concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora