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                                                                  1 ANO ANTES.

A gente cobra reciprocidade quando gostamos de alguém.

            Queremos sempre que ele nos coloque em primeiro lugar, como fazemos com ele. E apenas desejamos esse amor que damos de graça.
  
            Mas você já parou para pensar que ser o amor que não corresponde também dói? Pois é.
  
            Imagina só, você, que mal sabe lidar com os próprios sentimentos, se ver responsável pelos de uma outra pessoa. Quando alguém gosta de você, você tem um compromisso com o coração dela. Não uma obrigação.
  
            E hoje eu estava me sentindo assim.
  
             — Oi, linda!
  
            Rafa, novo aluno da sala. 

            Não sei a que ponto percebi que ele estava indo rápido demais. Tudo bem que eu também sou rápida demais, mas acontece que eu não sei lidar com os sentimentos de alguém que passam a ser meus de repente.
  
            Quando você já foi machucado de verdade, sabe que machucar os outros é errado. E não deseja isso para mais ninguém.

            — Ah, oi, Rafa.
  
            Respondi depois de pensar um pouco.
  
Anotem:
   • A melhor forma de dispensar uma pessoa não é com desprezo. Demore à responder!
  
             — Ufa, finalmente a crush respondeu!

            Ah, merda. Pô...
  
            Dou uma risadinha fraca e viro para frente. Tento, sem sucesso, me concentrar na aula que nem começou.

   • Tente parecer ocupada.


            — Tá bem? — ele pergunta um tempo depois.
  
            — Ah, tô.

            — Que bommmm.

            — Ela não está não. Está de tpm, cuidado. — Alice, minha melhor amiga, diz, entrando na conversa.

            — Poxa. Como vamos nos casar  assim? — o Rafa pergunta.
  
            Se eu tivesse facões na mão, estariam em cada pescoço daquela sala.
  
             — Nos casar?! Fala sério! Nós não vamos nos casar, NUNCA, pare de dizer isso. Que saco.
  
            Ah, tudo bem que eu possa ter sido exagerada, mas gente, cansa quando você dá mil motivos para a pessoa parar e ela continua no mesmo erro!
  
            Tentei atingi-lo de uma forma direta, mas ele, infelizmente, não se atingiu e caiu na risada. Estão vendo como é difícil? Puta merda.

            Puff.
 
             — Nós vamos nos casar, sim. — ele insiste.
 
          Eu juro por Deus, eu senti uma vontade enorme de bater aquela cabeça dele na parede. Nós tínhamos tido apenas 3 conversas na vida, e ele queria casar comigo.
  
            "Nós não vamos nos casar, seu demônio!! Eu gosto de outro, você mal entrou aqui. Se toca."
  
            Às vezes meu subconsciente é malvado.
  
            Respiro fundo. Não faça besteiras.
  
             — Não, não vamos. Que ideia mais ridícula. Eu estou na-mo-ran-do.
  
            E aí, euzinha aqui, como sempre, compliquei a minha vida. EU NÃO ESTAVA NAMORANDO.
            Mas se bem que se ele acreditasse nisso, seria uma boa forma de dar um fora, educado, meninas.

• Pareça estar enrolada em um relacionamento.

• Ou chame ele para fazer macumba, a maioria deles sairia correndo, certeza.

            Foi o que eu tentei fazer uma semana antes, mas ouvi algo do tipo:
  
            "— Poxa — risada nervosa.  — isso seria legal."
  
            Filho da puta.
            Ele ficou quieto ao ouvir que eu estava namorando outro cara. Uau. Consegui, né?
  
            Alice me lançou um olhar do tipo: "tá, como vamos arrumar um namorado para você?"
  
A) eu não tinha um namorado.
  
B) eu não tinha um pretendente.
  
C) eu não queria ter um namorado.

            Às vezes devemos ter mais empatia com os outros. Nos colocar mais no lugar deles, isso se aplica ao amor não correspondido por você. Sabe aquele carinha que vive correndo atrás de você? Que te empresta a borracha, ou te dá um pedaço do sanduíche? Ou até se oferece para levar a sua caneca de volta para a cantina? Ele tem sentimentos. Como nós também temos.
  
            Ele também deve chorar, se não já ter chorado, por uma paixãozinha de escola.
            Por isso eu reconheci que dar um fora daquele jeito no Rafa não foi uma boa ideia. E por isso eu vou conversar com ele na segunda e esclarecer tudinho. Ele merece pelo menos a minha sinceridade, né?
  
            Isso me lembrou da vez em que eu me apaixonei por um carinha imaturo. Sempre, né?
 
            — Mas eu gosto de você!!! — eu repetia e repetia, em meio a lágrimas. (Deus, eu já passei por cada coisa.)

            — Eu tô ligado. Mas eu não posso continuar alimentando o que nem deveria ter posto no prato. Foi mal.
  
             Aquilo doeu como 15 tiros na cara. Tá, talvez nem tanto, eu gosto é de dramatizar. Sorry.
  
            Mas acontece que eu sei o quanto dói ser o amor não correspondido.
  
            

Dormir todos os dias com uma dúvida na cabeça, fazer de tudo por alguém e não receber nem um pouquinho de sentimento. Porque é por ele que somos motivados à tudo, já reparou?

  
            Damos tudo de si em uma prova para ver os olhinhos apertados de orgulho da nossa mãe. Lavamos a louça porque queremos ouvir um: "ahhh, obrigada, filha!!" e raspamos o prato para ouvir um: "parabénssss!!", ah, como mocinhas, passamos horas em frente à um espelho nos arrumando para ouvir um: " você está linda."
  
            O sentimento do outro por nós nos simples gestos, nos motiva a ser mais. Mas e quando não é recíproco?
  
            Se tem uma coisa que eu aprendi nessas minhas paixões rasas, é que reciprocidade não se deve ser cobrada. É espontânea.
  
            Quando o outro vê o seu esforço e paixão, ele sente prazer em retribuir.

        Não cobre amor de quem não sabe amar.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora