Menina, maré.

forty six

Eu posso te contar um segredo?

            Tem sido você desde que eu fechei os olhos naquela noite quente de 31 de dezembro exatamente a meia-noite quando desejei coisas melhores e maiores para a minha galáxia que há muito tempo não via uma nova luz e então ela surgiu bem ao longe, com cheiro de pólvora e um visual excitante que te deixa confusa sobre correr da luz ou ir em direção à ela.

            Eram fogos de artifício mas eles me lembram de você.

            Eu me lembro que até então eu fazia pedidos aleatórios e incertos, como se eu duvidasse das coisas que a vida poderia me oferecer porque já estava tão acostumada com catástrofes que virei uma. E, meu bem, eu raramente via o sol por entre os pequenos traços de luz. Mas eu sabia que ele existia. E então meu sol foi você.

            Eu te chamava de amor-cometa porque eu sempre gostei da palavra cometa. E você era como um, em tese.

            Eu acreditava que no dia em que nos conhecemos eu iria seguir minha rotina normalmente. Iria para a aula e depois voltaria para casa sem nenhuma novidade.

            Mas aí você acenou para mim naquela tarde chuvosa de fevereiro e eu não sentia aquilo desde 31 de dezembro quando fechei os olhos e desejei algo sem nem saber o que.

            Olhe bem no fundo dos meus olhos quando me ver agora. Já fazem 9 meses desde 31 de dezembro. Mas eu ainda sinto o arder dos fogos de artifício que por um momento não pareceram tão distantes.

            Eles pareciam queimar dentro de mim.

            E naquela noite eu desejei você. E você foi o primeiro desejo realizado em um milhão de anos.

            Eu ainda não havia cruzado o meu olhar com o teu quando o meu mundinho perdeu as cores no ano anterior mas eu senti que você viria. Porque as pessoas são como arco-íris depois da chuva e você foi o meu. Yeah, por um tempo você foi o meu arco-íris.

            Eu estava consciente do peso de ser alguém que leva outros alguéns nas costas mas eu quis te levar comigo quando acenou pra mim e sorriu como se já me amasse.

            Eu quis parar tudo ali e dizer o quanto eu sou grata a Deus e aos deuses do mundo todo por terem atendido as minhas preces.

            Então eu me deixei levar pelo impulso e levemente levantei a mão esquerda por ser o que chamamos de canhota funcional, e acenei para você com a mesma energia, transmitindo a mesma paz.

            Mas eu sabia que aquilo era algo tão único que eu seria incapaz de refazê-lo com qualquer outra pessoa. E dói pensar que o que é único é único e nunca vai deixar de ser.

            Eu gostava de te contar sobre os meus problemas e de ouvir o que você faria se fosse eu por um dia. Você dizia que eu era dramática por acreditar que meus problemas eram monstros a me engolir mas eu não me zangava com você. Eu gostava de você quando era verdadeiro comigo.

            E você foi quando teve que ir embora. E eu, no fim, entendo a sua ida.

            "você foi embora por eu ser caos iminente?", eu te escrevi.

            Naquele 31 de dezembro eu não fazia ideia de que você seria tão importante para mim. Eu não fazia ideia de que acenar para você no meio da chuva me faria ser apaixonada pelos traços da sua maçã do rosto.

            Eu não fazia ideia de que quando eu fechei os olhos à meia-noite, a vida estava me mandando você. E eu sou grata à ela, mesmo que ela tenha te levado de volta.

            Eu te amei de maneira tão intensa que quando deixei de amar, não pude amar mais ninguém. O que é único é único. E nós somos únicos.

            Esse é o meu segredo. Você é estrela mas eu sou a galáxia

todinha.