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— Ele pergunta de você. Sabe, se você está bem.

            — Ah.

            — Essas coisas. Ele parece preocupado, com saudades.

            — Saudades? Olha, ele não sabe o que é saudade, muito menos no plural. Não sabe mesmo. Com licença, Lorena.

            — Ei, espera. Não, não chora, não. Vem cá.

            Ela me alcançou e me abraçou.

            — Eu... Eu...

            — Eu sei. Dia infernal.

            Aqueles conjuntos de dias em que tudo o que você quer é ser entendida, ouvida e abraçada.

            — Oi. Tá tudo bem? Você tá tão quietinha. E suas mãos estão meio frias. Você tá com frio?

            Miguel. O amigo da minha primeira grande decepção amorosa, lembra?

            — Elas geralmente ficam mais frias quando eu estou triste.

            — E por que você está meio triste? Dessa vez?

            — É. Dessa vez. Eu...
           
            — Você não pode nem falar que já está chorando. — ele completa, brincando. — Já entendi essa parte.

            Dou uma risadinha leve.

            — Também. Bela observação. Mais alguma? — desafio. Haha.

            — Hmmmm, seu nariz fica vermelho chora.

            — O nariz de todo mundo fica vermelho quando chora. Essa não vale.

            — Ahhh — ele ri, desapontado. — Por quanto tempo vai desviar da pergunta?

            Aff.

            — Não estou desviando de nada. Que pergunta, mesmo?

            — Não gosta de demonstrar que está triste também, anotado.

            — Ai. — eu era mesmo bem previsível.

            — Conte.

            Ele apoia o rosto nas mãos para ouvir. Acho bonitinho.

            — Mi, eu queria que desse certo. Sabe, que eu conseguisse fazer dar certo. Mas eu nunca pareço suficiente para alguém, para fazer alguém ficar. Eu nem sei se existe mesmo esse tal de amor.

            — Quem te deixou assim, Ay?

            — Nada vai. Nem eu sei o que estou sentindo direito. E isso tá doendo.

            — E você se importa com isso.

            — Não, não... É que, poxa. Complicado demais isso. Continua me decifrando, é mais fácil para me entender de verdade.

            Ele vem para frente e segura as minhas mãos.

            — Não preciso adivinhar mais nada sobre tudo em você. Já sei o bastante. Ei, você já parou para pensar que alguns amores simplesmente não são certos para alguém? Você é nova, é linda. - ele fica vermelhinho. - Uma hora, vai dar certo. Alguém vai fazer dar certo.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora