five

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Enzo Barbery está em um relacionamento sério.

            Por um minuto não sinto o chão, agora liso, sob os meus pés. Sinto meus dedinhos dos pés suarem, meu estômago revirar. Tento me concentrar. Eu não podia nem correr dali. Nem gritar. Eu estava presa.
            Era surreal. Não, não estava acontecendo. Não comigo.
            Mas estava, e eu precisava despertar desse sono negro e procurar algum abrigo. Um lugar onde eu possa chorar e gritar, onde ninguém me conheça. Onde eu possa ser eu, e não essa menina forte que eu fingia ser.
            Mas esse era o problema. Esse lugar tinha nome, endereço e agora uma namorada.

            Corro para o banheiro. Tiro o celular repetidas vezes do bolso do short.
            Não, era tudo brincadeira deles. Queriam nos trolar. Haha. Danadinhos! Eu quase caí, viu?

            Mas não era. E eu tinha certeza.

            Sento no chão do banheiro me lembrando das palavras que ele havia me dito na noite passada.

            — Você vai se arrepender de ser infantil e ignorante. Não quero NUNCA mais nenhuma mensagem sua. Te desejo sucesso e felicidade!

            E agora isso? Que diabos eu estava fazendo da minha vida?
            Imaginei que viriam lágrimas seguidas  de soluços por horas. Mas em vez disso vieram algumas lágrimas, e eu chorei em silêncio por alguns minutos. No chão do banheiro. Ahhhh...

            Despertador. Era a manhã seguinte. Raios de sol invadiram o meu quarto. Será que ninguém via que eu estava triste? Qual é, nos dias que estou assim eu gosto de chuva e sorvete.
  
            Mas eu tinha que levantar. Existia um mundo lá fora, lugares para conhecer e pessoas também. Eu não podia desanimar ou me culpar por não ter sido suficiente para o Enzo. Se eu fosse suficiente para mim, não precisava ser para mais ninguém.

            Algumas pessoas entram na nossa vida não com o propósito de ficar. São como lições. Algumas boas, algumas nem tanto. Mas todas ensinam de sua maneira. Algumas passam por você para simplesmente te ensinar a não ser como elas.
  
            A vida te deixa em pedaços, para quando você se remontar enxergar que algumas peças não são mais necessárias.
  
            Eu me prendi ao Enzo? Não. Eu me prendi a o que eu achava que ele era. Eu sentia medo de perdê-lo? Não. Eu sentia medo de ficar sem sentir nada por ninguém.

   "Ah, ela não tem coração."
   "Elsa."

            Vai toma no teu cu, coleguinha. Obrigada, continuando.
  
            Gostar de alguém não é  necessário para se sentir vivo. Você pode ser feliz sem depender dos outros, sabia?
  
            Eu era apaixonada por ele, até me conhecer.
  
            Naquela manhã eu me permiti ver o quão fraca eu era quando se tratava do Enzo. O quanto ele podia me atingir. E achei errado, ô se achei! Ele não tinha o direito de me machucar. Eu dei isso à ele. Ali, de bandeja, junto com o meu coração.
  
            E estava na hora de pegá-lo de volta.

            O ruim de contar para as pessoas sobre quem você gosta, é que quando essa pessoa começa um relacionamento  (que não seja com você) as pessoas perguntam. Perguntam inúmeras vezes.
  
            — Mas ela? Aquela vaca! Credo, Ay.
  
            — É. Ela sim.
  
            — Como ele pôde...
  
            — O que, meninas?
  
            — O Enzo. Traiu a Ay.
  
            — Traiu nada. Nunca tivemos nada. — rebato. 
  
            — Mas iriam! - Eliza diz, rápido. 
 
            — Quem fez o quê?
  
            E assim foi a tarde todinha. Eu contava os minutos para dar 18h e ir para casa. Será que ninguém ali via que eu precisava chorar? Que eu.precisava de abraços? No plural ainda. E talvez de alguns girassóis, também.

  
   "29/10 (2015)

            Okay, Enzo. Um pouco mais de meia hora, ou menos. A dor da noite já está chegando, e eu estou com tanto medo. Meu medo sempre foi uma "nada-supresa" para você.
            A verdade é que você me faz feliz. E eu não sei onde encontrar essa felicidade agora que você foi. Eu não sei se você a levou, ou se deixou-a por aqui, para que em dias piores que esse (se houverem) eu a ache. Isso é muito você. Sempre tentar me dar o melhor. Eu queria estar com você agora. Na sua casa. Você nunca me disse como ela era de verdade. Em algumas das suas fotos eu vi que o piso da cozinha é cor palha, o resto fica por conta da minha imaginação.
            Sabe que eu gostaria de estar com você, aí, agora. Eu não me preocuparia com depressão e noradrenalina dopaminada, e nada de tarefa de matemática. Eu sentiria o cheiro do aroma da comida que a sua mãe estaria fazendo, enquanto brincava com o Chico lá fora. Me parece tão simples, mas é um sonho. Queria ver o lugar onde você cresceu, o lugar ode você dorme, o lugar onde você come ou assiste TV. Eu adoraria ouvir você falar de basquete, e só tentaria organizar na minha cabeça o jeito maravilhoso e difícil que é amar você.
             Essas cartas são tão dramáticas. Vou ter que queimar todas depois.
            Não entendo como para mim isso está sendo tão difícil. Eu queria ouvir você me chamando de "meu desastre", assim, só mais uma vez...
            Eu já tinha alguns planos para te tirar da cabeça. Sentar e escrever. Dormir sem ficar 2 horas pensando (porque eu sabia que você viria na minha cabeça). Só existe você em cada parte de mim. Consigo imaginar você rindo da minha confusão.
            A vida passa de modo inconstante. Com guinadas estranhas e calmarias arrastadas. Fico feliz que você tenha sido a melhor guinada que eu poderia dar. Você vai voltar?
            Eu acredito que você pode me enxergar por trás desses meus olhos castanhos sem graça e ver uma menina pela qual vale a pena voltar.
            Eu morri cada segundo desses. Morri por querer tanto uma pessoa.
            Prefiro escrever para você do que te procurar. Me parece de bom tamanho, meu pequeno grande anjo, saber que está tudo bem com você. Eu posso aguentar mais. Eu espero que você durma bem hoje.

   
                    
                                       Ay Marchesini. "



Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora