fifty eight

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Me concentro somente no som das batidas do meu coração, que ecoavam freneticamente sobre meus ouvidos. 

            Pareciam ser o único barulho naquela sala vazia e fria. Me concentro em manter meu coração batendo. Se é que ele ainda podia bater.

            — Bom — a mãe do Lucas quebra o silêncio, entrando na sala. Ela carregava uma caixa preta de tamanho médio nas mãos. — Isso foi tudo o que achamos, querida.

            Ela caminha até o sofá megaconfortável em que eu estava sentada e estende a caixa para que eu a pegasse. Hesito. Ela sorri, calma.

            — Sabe, parecia importante.

            Dou um sorriso de volta e pego a caixa.

            — Obrigada, Rose. Mesmo.

            Ela me abraça.

            — Eu que agradeço.


Corro para casa, ansiosa para ver o que tinha na caixa. 

            Respiro fundo e despejo-a sobre a minha cama. Haviam 3 cartas, um girassol murcho e um envelope preto. Agarro a primeira carta (elas estavam em ordem) e começo a ler...

"Querida Ay

            Quando você ler isso, eu provavelmente já terei partido. Algumas semanas certamente terão se passado. Dei instruções à minha mãe para que ela te entregasse a caixa e as coisas que haviam nela, como essa carta. 

            Tem coisas que eu não pude te dizer, porque você simplesmente começaria a chorar muito e não deixaria que eu terminasse. Seja forte, Sol. Sinta que estou aí, porque estou.

            Eu não sei dizer como vou conseguir enxergar um mundo no qual não vou poder  nunca mais tocar esse teu rosto. Você é tão fofa e seu sorriso é tão doce... Eu fico todo bobo quando olho para você.

            Se tu soubesse quantas noites eu passo acordado planejando um futuro contigo, morena. E acabo sempre no mesmo lugar. Não consigo ver além da fantasia de te perder, seja pelo tempo ou pela morte. Acontece que eu não mereço você, e mesmo assim a tenho. 

            Eu não vou ver você envelhecer, Amora, nem vou poder te ver vestida de noiva. Essa doença e o meu tempo contado me fizeram abrir mão de tudo o que eu mais quis nessa vida: uma vida com você. 

            Mas você não ficou zangada quando eu te disse sobre isso. Se me lembro bem, naquela noite no jardim da sua escola, você beijou a minha testa e disse que poderíamos viver o infinito dentro dos meus dias contados; quando, por sua vez, muitas meninas teriam corrido de tamanha responsabilidade. Isso fora o quão maravilhosa você é. 

            Preciso mesmo te dizer que encontrei o amor da minha vida por trás da voz cansada que me ligava todos os dias de madrugada? Eu encontrei o amor da minha vida em uma menina de olhos grandes e bochechas rosadas. Eu te encontrei, como amor, e em forma de amor. E espero que a sua essência não acabe nunca. Te amo."


"Amora!

            Eu gostaria de te reencontrar. 

            Eu quero te encontrar nem que seja em um retrato na parede, ou com o seu corpo balançando em uma rede, para vir matar a sede do teu abraço, esse teu pedaço que me chega devagarinho, com o teu cheiro cheio de amor e carinho. Eu sei que logo vou abrir a cortina, para receber o brilho da tua retina, que me fascina e me ilumina, quero acordar deixando o sol entrar, para enfeitar o nosso amor, e até me propor a não deixar o tempo passar, pois eu quero estar sempre ao teu lado, enlaçado ao teu costume, e inebriado pelo teu perfume,com intuito de te conduzir, através do caminho da felicidade, para que o nosso Amor se torne em perenidade.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora