twenty nine

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Você deixou de amar a rosa porque ela tem muitos espinhos, ou porque existem flores mais bonitas no jardim?

             — Bom dia, filha. Tá melhor? — minha mãe me pergunta no dia seguinte.

             — Com dor de cabeça, mas sim.

             — Rafa já foi. Ele nem quis tomar café...

              Paro.

             — Espera. Rafael dormiu aqui? — pergunto.

              Minha mãe me olha confusa.

             — Sim, amor. Ele quis ficar até você se acalmar, mas você pegou no sono e ele não quis ir embora... Achei que por você tudo bem. — ela fala.

              Concordo com a cabeça e preparo o meu café.

              Era sexta. E a festa da Alice era amanhã.

             
Talvez demore...

              Há algo belo e altruísta em deixar ir. Em abrir mão. Em seguir.

              A gente percebe que tem amor próprio e sabe cuidar de si quando passa a abrir mão de coisas ou pessoas só pelo fato de elas não te fazerem bem. A gente percebe que amadureceu quando tocar no nome, sentir o perfume, viver uma data... Já não dói mais. Eu, sinceramente, não via a hora de ver o Rafael se tornando uma lembrança distante.

              "— Eu não."

              Fala sério, ele era um idiota. Um idiota que me partiu todinha.

              

Gosto de amor como gosto do meu café: forte e puro.

              O teu (quase) amor, e o teu (quase) café me deixam com um gosto estranho na boca, Rafa. Você não acha que eu mereço mais do teu pó ou coração?

              Teu amor é fraco como teu café.

                            ***

O dia da festa.

              Alice nos acordou cedo e fomos para o salão cuidar dos cabelos e fazer a maquiagem. Quando coloquei o vestido, fiquei parada na frente do espelho por um tempo. O vestido realçava as poucas curvas do meu corpo. Meu cabelo estava solto e cacheado somente nas pontas mais claras.

             — Ay... Você está linda! É a menina mais linda da festa! — Alice diz quando me vê.

              Dou um sorriso radiante.

             — Amiga!!! Você está uma verdadeira princesa! — eu digo, dando palmadinhas nos ombros dela.

            O vestido da Alice era cor rosa-bebê. Era cinturado e pomposo. Era um dos vestidos mais lindos que eu já vi. Alice estava realmente uma princesa.

             — Vá caçar o teu par, garota! — ela me empurra.

             — Lice, estou nervosa... — falo, fazendo biquinho de choro.

              Grr. Eu era um neném grande.

             — Vai dar tudo certo, amiga. Ele vai se arrepender do que fez quando ver você assim...maravilhosa!

              Dou um sorriso nervoso.

             — Isso! — ela diz. — Sorria e aproveite a festa, meu bem.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora