fico tonta.
— está... está...
— desde janeiro eu venho tratando de um... de um câncer. nos ossos.
deixo o buquê cair e levo as mãos à boca, segurando os soluços do choro. Lucas parecia com dificuldades em falar.
— desde março eu não vou para à escola. por isso não quis te falar onde eu estudava aquela vez, e sempre mudava de assunto quando você perguntava da minha escola. me perdoe por isso, querida.
eu não conseguia raciocinar. eu chorava tanto.
— dois meses atrás — ele falava. — eu comecei a fazer um tratamento mais... delicado. os médicos temiam que o pior viesse a acontecer antes mesmo, mas eles conseguiram um tempo a mais pra mim.
— você... você não me contou, Lucas. eu fui tão... tão idiota com você. — eu falava, entre lágrimas.
— ah, meu amor. você não tem culpa de nada. eu queria poupar você, Ayra. queria que tivesse uma vida feliz. mas aí eu me apaixonei e envolvi você nisso.
— não... não... — eu falava, entre os soluços.
Lucas me puxa pra perto e me abraça forte. choro com a cabeça em seu peito, e em pouco tempo percebo que ele também chorava.
— não sabe como eu senti sua falta. em como eu queria te dizer aquilo. eu não suportaria ver você fazer planos comigo sendo que eu iria estragar todos eles. eu te amo demais pra isso. você entende?
concordo com a cabeça.
— o meu câncer sempre regredia. eu tive meses em que estava 90% e meses em que estava a menos de 30. por exemplo, mês passado, quando descobriram quanto tempo eu tinha... o câncer já tomava 85% do meu corpo.
— quanto... quanto tempo você tem? — sussuro.
— 3 meses, querida.
me aperto contra o peito dele, tentando conter os soluços.
tudo doía tanto...
— eu não queria machucar você, Ayra. eu queria te ver feliz, mas isso não vai acontecer nunca enquanto você estiver comigo.
levanto a cabeça e seguro a cabeça dele com as mãos, beijando todo o seu rosto molhado de lágrimas.
— você nunca me machucou, Lucas. você é a melhor pessoa que eu já conheci...
ele deita acabeça no meu colo, enquanto nós dois chorávamos em silêncio.
— eu não quero que você vá embora. — digo, de olhos fechados.
— você não sabe o quão apavorado eu fico quando penso que daqui a alguns meses não mais poder ver essas suas bochechas rosadas...
dou um beijo na testa dele.
— me leva com você, Lucas. eu não pertenço a um mundo onde não ficaremos juntos.
ele entrelaça os dedos nos meus.
— eu não quero morrer, Ayra. eu não quero...
limpo algumas lágrimas dos olhos dele.
— eu te amo. eu te amo. eu te amo. eu te amo. eu te amo... — repito.
— eu te amo mais ainda...
olho para o céu.
— desde que eu te conheci — Lucas diz. — eu percebi que havia algo de único em você. fora a capacidade de enxergar luz onde só há trevas nas pessoas, você tem dom de alegrar tudo à sua volta. isso é o que eu mais gosto em você e espero que nunca mude. é. espero que você nunca mude por ninguém. quando me contou pela primeira vez do seu ex, eu pensei comigo o quão idiota aquele cara tinha sido com você. se eu tivesse você nas mãos como ele um dia teve, eu não largaria você nunca. mas, a única coisa que eu invejo nele de verdade, é que quando eu não estiver mais aqui, Amora, ele ainda vai ver o seu sorriso. ele ainda vai estar aqui. e vocês podem voltar, meu bem. ele pode te mostrar que mudou e você pode voltar a sentir a mesma coisa, ou não. mas, eu não tive essa chance. eu nunca vou ter a chance de te pedir em casamento, de dormir do teu lado e de ver nossos filhos. de ler os seus livros... de terminar com você e depois começar do zero...
ele parecia se destruir para me dizer tudo aquilo. e eu queria tanto reemoldurá-lo... enxugo algumas lágrimas.
— não sei ao certo se você precisa de mim ou se precisa de alguém. — ele continua. — não sei se me agarra quando tudo está escurece por me querer por perto ou se é por ter medo do escuro. não sei se você me ama pelo que eu sou ou pelas coisas que eu posso vir a ser.
— ah, meu amor...
— talvez eu nunca atinja as suas expectativas. talvez eu nunca te proteja do escuro e talvez eu não possa fazer você feliz do jeito que eu queria.
dou um pequeno sorriso em meio a lágrimas.
— não posso te salvar de si mesma. não posso te salvar de mim. — ele diz. — mas, meu bem, eu te dou um aval. um vale fuga. quando as coisas ficarem pesadas, só te peço que me imagine com você. na verdade, queria que soubesse que eu vou estar sempre com você, te enchendo o saco.
dou uma risadinha.
— meu coração mudou quando você me tocou e me fez perceber que nós, seres, humanos, estamos em constante mudança. — ele diz.
então, Lucas me ergue no colo e me abraça mais forte, enquanto eu permaneço de olhos fechados, tentando guardar na memória a noite mais linda e trágica da minha existência.
— eu te amo hoje. — ele sussura no meu ouvido. — amanhã você será outra pessoa. e nós nos apaixonaremos de novo. como se fosse a primeira vez...
eu deixo que ele me abrace enquanto choramos. porque mesmo sendo o único capaz de me destruir daquela maneira, ele também era o único capaz de me salvar.
— não morra, por favor, por favor...
ele beija a minha cabeça.
— ah, meu bem...
***
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Menina, maré.
RomanceEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...