Naquele dia eu estava voltando para casa sozinha.
Rafa não pôde me esperar, e por mim tudo bem. No caminho, alguns garotos estavam do outro lado da calçada, e fiquei me questionando porque não tiravam os olhos de mim.Procurei algo que pudesse chamar atenção. Nada. Estava começando a ficar zangada quando um deles, o qual reconheci no ato amigo do Marcelo, veio na minha direção.
— Ei, linda. — ele me chama.
Tento não parar, seguir meu caminho. Porém algo nele me intrigou, e fiquei para ouvir.
— Em que posso ajudá-lo? — pergunto.
— Você que é a mina do Marcelo, né? — ele pergunta, sem rodeios.
Sinto meu sangue pulsar forte nas minhas têmporas, meu rosto queimar.
Então é assim que o Marcelo estava falando de mim? Como se eu fosse um objeto de exposição? Um o objeto dele?
— Não. — respondo. — Não, vocês me confundiram. Com licença. — passo por ele rapidamente, tentando sair dali o mais rápido possível.
— Espera! — o garoto grita. — Ele contou pra gente do desafio. O seu nome é Ayra Marchesini, não é? Só queríamos ver se você valia mesmo tudo isso.
Paro de andar. Estava a praticamente três passos dele, de costas. Desafio. Desafio?
— Que desafio? — intrigada, pergunto.
— De ficar com você antes de um tal de... Rafael, né, galera?
Minhas pernas tremem. Sinto que não devia estar ali. Quase começo a chorar quando, em um lapso de loucura, agradeço os meninos e saio. Eu já tinha ouvido o suficiente.
Eu sei, eu sei.
Sei o quanto você queria que vocês tivessem dado certo. Mas sabe de uma coisa? Não é que de repente a vida perdeu a graça só porque ele foi embora. É só que você se descobriu apta e honesta ao abrir mão. Você descobriu que era forte para abrir mão e deixar escapulir aquela pessoa que te dava um calor. Meus parabéns, meu bem.
Eu sabia que se tratando de mim o negócio era dar errado. Era tropeçar, quebrar o nariz, e continuar com o nariz torto. Já foi, já passou.
Como o Marcelo fora capaz? Como ele podia me tratar como objeto para suas conquistas particulares? Me erguer como troféu?
Eu não conseguia olhá-lo. Eu sentia nojo. Por um tempo, acreditei que todos os nossos eu te amo tinham servido para algo. Que tinham construído o que quer que a gente tinha. Mas é aquele ditado, meu bem. Errou uma vez, erra duas, três...
Não dá pra salvar quem não te pede ajuda, Ayra.
Pensei em contar ao Rafa, mas tive medo das proporções que isso poderia causar. Então guardei para mim, durante um fim de semana inteiro. Aquilo latejando. Mas eu aguentei, e, quando vi o Marcelo na segunda, eu percebi que na verdade, eu estava com pena dele.
Pessoas assim não merecem nosso ódio, merecem apenas o nosso esquecimento.
Eu estava com pena do Marcelo porque eu finalmente percebi o tipo de pessoa que ele era e estava se tornando.
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Menina, maré.
RomanceEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...