fifty two

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— que horas são?

            — faltam 6 minutos pra 00:00, Amora.

           — estou com um pouco de sono.

           — se quiser, pode tentar dormir. caso não consiga, pode me ligar de novo. estou com uma insônia fodida. — Lucas diz.

           — eu sei como é. você está bem?

            — estou sim. eu posso ver você amanhã?

            — eu tenho aula, senhorito. — digo, meio triste.

            fazia menos de uma semana que eu havia saído com o Lucas, mas eu já sentia uma saudade danada.

            eu queria vê-lo. queria muito.

            — poxa. — ele responde, com voz triste.

            — e você? vai faltar de novo?

            a linha fica muda por um tempo.

            — meia-noite, Ayra.

            — meia-noite, Lucas.

            deslizo a tela de bloqueio do celular e vejo que eram exatas 00:00. fazia tempos em que eu não fazia o clichê pedido da meia-noite. mas desde que o Lucas passou a me ligar antes de dormir, eu estava gostando de pedir as coisas aos deuses e à todas as coisas superiores deste mundo.

            — tomara que a gente possa se ver logo... — ele fala.

            — nós vamos. eu prometo.

            — você já sentiu medo? mas, medo de verdade. sem ser essas coisas que mulheres  sentem por baratas.

            dou uma gargalhada.

            — mulheres tem medo de baratas porque são pragas nojentas, o que já é dito na bíblia. e porque gostam de colocar ovos em vaginas. mas, respondendo a tua pergunta, eu já senti medo sim.

            — eca, meu Deus! agora até eu tenho um sentimento parecido por baratas. — ele responde, e posso imaginar um sorriso bobo em seus lábios.

            — pois é, meu garoto. e você? já sentiu medo? — eu pergunto.

            — eu estou com medo agora, Amora. mas não quero parecer vulnerável para você. nem para ninguém. 

            — do que é que você está com medo?

           — eu estou acostumado a perder pessoas. eu não quero perder você. sinto que você é diferente das pessoas que conheci e não quero estragar isso te contando meu medo. por isso eu o guardo pra mim. na hora certa, você irá saber. prometo.

            — promessa é dívida.

            — promessa é dívida.

            — não vou pressionar você, Lucas. sei que deve ter seus motivos para não me contar tudo agora, e eu respeito isso. apenas... conte comigo. quando quiser me falar, estarei pronta para ouvir.

            — eu queria mais tempo...

            — todos nós queríamos mais tempo, Lucas. 

            ele da uma risada abafada.

            — eu queria mais tempo do que vocês.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora