twenty five

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Eu sempre fui muito segura quanto a fins.
     
            A relação acaba, cortam-se os laços, e vida que segue. Eu acho que eu nunca tive nada palpável, nunca me envolvi de fato emocionalmente com alguém. Por isso sempre me senti tão certa e segura quando me via boiando nessa volatilidade. 

            Mas, pela primeira vez, eu não quis ser tráfego. Eu quis ser ponto de chegada. O ponto de chegada dele.

               Eu só não queria vê-lo indo, e me ver ficando. Eu só não queria ter que ver o cheiro, a voz, as marcas, os trejeitos... Virando borrão. Sinto saudades. 

            Mas, de qualquer maneira, e apesar de doer, muito obrigada por me fazer ver que não tenho domínio nenhum sobre minhas emoções, e que sinto, desesperado, despretencioso, livre.

               E que bom que sinto.

               A dor era a única certeza de que era real. Ou melhor, de que foi. Algumas semanas após o meu pesadelo, o qual não deixei o Rafael saber, ele terminou comigo o que nós nem tínhamos começado.

               [Nós não fomos feitos para durar. Mas, de qualquer modo, foi bom dançar com ele.]


Não quero levar mágoa, não. Nem raiva. Nem nada disso que impregna na gente quando o fim é nos revelado, e é doloroso demais. 

               Porque houveram bons momentos. Quero ficar levinha, sem pensamentos sobre o que poderíamos fazer/ser/ter, ou não. Já foi, já passou, não é?

            — Ay, você tem que descer e ir se arrumar. — minha mãe pediu no 3° dia após o fim.

               Afinal, será que uma coisa pode acabar sem nem ter acontecido? Ou, se pode, deveria doer tanto assim?

            — Vamos. Por favor, filha. Você consegue.

               Enterro a cabeça no travesseiro. Eu não queria voltar a cena. Tudo ainda doía. Mas eu não queria dar esse gosto ao Rafael. Não queria deixar ele saber que eu estava vulnerável. Eu queria seguir forte, sempre mais forte.

            Cair às vezes é bom.

            — Desço em 5 minutos. — eu disse.

               É tão difícil esquecer algo que você não quer esquecer...


Tento abrir a caixa de mensagens. 

               Alice: "Bom dia, vai pra aula hoje? Estou com saudades, Ay. Todos estamos. (ele é um idiota, você consegue sair dessa assim como passou por coisas piores outras vezes. Ele é só uma gota, e você é oceano.) Me responde, amiga. :("

               Depois de o Rafael ter decidido que não daríamos certo, eu precisei de uns dias para me recompor. 

               Sei que eu não deveria me sentir assim por algo que nós não tínhamos, mas, o que doeu de verdade, foi ver ele se tornando aquilo que eu temia, aquilo que eu tinha certeza de que ele não seria. A vida tem dessas.

            Mas a rasteira havia sido forte e covarde. Eu emergi lentamente, não voltei a superfície.

               Eu sei, eu sei. A morada que eu fiz nele agora afundava sob nossos pés.

               Embora toda a confusão de sentimentos que eu estivesse sentindo naquele momento, a paz me cercava de certo modo, por saber que que eu dei o meu melhor. Mas ele escolheu serpentear por todos os obstáculos e não atravessou ponte, nem oceano, nem uma mísera poça por mim.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora