forty five

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Segundo a Lice, o Rafael estava me olhando no intervalo da escola. Mas não falou comigo. 

            Nem no dia seguinte. Nem nos outros meses, e nos outros depois destes. Eu parei de calcular hoje, mas sei que haverão bem mais. 

           Éramos estranhos.

            Eu não sou princesa, ele é apenas o dragão. E eu já sei como matar todos os meus demônios. E não vale a pena vencer essa batalha, quando a minha vida vale mais do que ser amada de volta.

Há uma parte minha que grita todas as vezes que eu me aproximo de um possível amor, como uma criança mimada. Há uma parte minha que grita para eu pisar no gelo quebrado porque eu sou madura e sei lidar com a dificuldade.

             As decepções travam uma guerra constante e infinita com a esperança. Sorte a minha a segunda parte ser mais forte, baby.

— Sabe que eu tô deixando de te amar né? — eu digo, segurando algumas lágrimas.

             — Cala boca, só um segundinho... — Rafael diz, tapando os ouvidos. 

             — O que quer me falar, Rafa?

            Ele parecia prestes a explodir e a despejar palavras repletas de um amor acabado.

            — Ayra. Eu achava irritante... Quando dizia "então" o tempo todo. Incomodava muito. E eu amo isso. Bom, agora eu amo. Depois da gente se beijar, você encolhe os ombros e diz: "eu tô aqui todos os dias." Eu amo isso. Amo como um fio de cabelo cai perfeitamente pra um lado e você nem repara. Eu amo as veias azuis nos seus olhos. Eu amo seus olhos. Conhecer você, é de longe, a melhor coisa que já me aconteceu. De longe. Se eu fosse um restaurante, você seria o meu prato especial. Mas ninguém ia poder pedir, porque eu ia querer...

            — Cala a boca. — respondo, de olhos fechados, tentando absorver aquelas palavras. — O teu caos quase que me matou literalmente. Você me quebrou, você acabou comigo. 

            Ele abaixa a cabeça, encarando o chão.

            — Olha pra mim — peço. — você me quebrou. Me quebrou de verdade dessa vez. Você com certeza não me amou. Se é capaz de fazer escolhas que possivelmente irão machucar a outra pessoa, com certeza não é amor.

           — Eu achei que você nunca fosse mudar. — ele diz, encarando meus olhos secos e marejados ao mesmo tempo. — Achei que você fosse ser para sempre a garota que gosta da palavra cometa, que gosta de pão com manteiga e mortadela, que gostava de sentimentos.

            — E essa garota ainda vive aqui. Acredite. — respondo, tinha até um pequeno sorriso no meu rosto. — Mas você não me enxergou. Você preferiu me deixar em pedaços e seguir inteiro, e o seu egoísmo me matou. 

            — Ayra. Acorda. Acorda. — ele me encara, imóvel. 

            — Ayra... Ayra, acorda!!! — Alice entra no meu sonho sutilmente.

 
— Meus sonhos estão estranhos, Alice. — falo, me sentando na arquibancada da quadra, ainda meio perdida.

            Ela ri. 
 
                      ——————

Sabe que eu tô deixando de te amar né?

            Desculpas.                    

            O eterno.                      

            Uma garota,

            chamada Sol.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora