Eu não sou psicologicamente preparada para nada.
Acho que na verdade, ninguém é psicologicamente preparado para alguma coisa.A diferença está em como vamos encarar as coisas a partir dali. E, eu sei, é realmente muito difícil acordar todos os dias com uma dúvida na cabeça e a sensação de não ter importância alguma neste mundo, porque ele nos confunde, mesmo.
As pessoas querem deixar marcas. Todas elas querem ser lembradas. E na maioria das vezes, elas acabam deixando cicatrizes.
Você é importante aqui. Se não para algo, para alguém. Não desista agora, tá bom? As vezes a gente só precisa de uma quedinha de nada, para aprender a levantar sozinhos.
Era meio dia. Eu tinha que cuidar do meu irmão, limpar a casa, fazer comida e ainda ouvir dele que eu era uma vagabunda. Do meu próprio irmão, que não saía da frente do computador!
Eu não me sentia bem. Só queria ficar deitada, mas meu pai me xingava por isso e me obrigava a fazer coisas. Para ele, eu estava sendo infantil.
Fui para o quarto nos fundos de casa e fiquei lá. Foi o pior dia da minha vida. Sentia uma dor muito forte, mas não sabia de onde vinha. Só queria que parasse.
Tomei duas cartelas de Fluoxetina, remédio que tomava na época para controlar a depressão. Mas a dor não ia embora de jeito nenhum. Comecei a me bater, a me arranhar, a arrancar tufos de cabelo da cabeça. Foi só quando vi um chumaço de cabelo na mão que percebi: eu estava me matando.
Meu maior medo é me sentir como no dia em que tentei me matar.
Eu tentei tirar a minha própria vida, e faz parte de uma estatística que só aumenta.
Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa realizada pela OMS, em 2015, mais de 800 mil pessoas se suicidam por ano no mundo. As causas são muitas, mas a doença é, na maioria das vezes, a mesma. Não é frescurite, não é a puberdade, não é uma fase.
A depressão não é uma tristeza isolada. Ela apresenta outros sintomas. Na adolescência, os mais comuns são irritabilidade, intolerância a situações que antes eram até prazerosas, piora no desempenho escolar, dificuldades com matérias que até então não eram um problema. Como aconteceu comigo.
Deu para perceber que aquela deprê que sentimos no dia a dia, aquela carência momentânea, não é depressão, certo? A doença vem acompanhada de uma série de sintomas que devem durar, no mínimo, duas semanas sem intervalos. Já fazia alguns meses que eu não sabia o que tinha. Era um eterno e irreparável vazio.
Falavam sempre que ia passar, mas não passava. Eu não tinha motivo nenhum para ficar assim. Mas é aí que a gente se engana, viu?
Sempre há uma razão, mesmo que você pense que não. Primeiro, descartamos doenças físicas que podem causar abatimento e os mesmos sintomas da depressão, como anemia. Depois, é descartado problemas envolvendo remédios e drogas, como maconha. Se as limitações físicas, mentais e psicológicas continuarem persistentes o diagnostico é feito.
Eu, por exemplo, não tive o apoio da minha família, até porque na maioria das vezes, eu não conseguia me abrir, ou a minha família me colocava ainda mais para baixo e agravava meu quadro depressivo.
Essa realidade é delicada porque, na maioria dos casos, pacientes com depressão não se sentem motivados a procurarem ajuda por livre e espontânea vontade. Em casos como esse, eu diria que: procure um professor que tenha intimidade, pois os pais tendem a acreditar mais nessas "autoridades" que nos próprios filhos.
É muito comum tratarem a automutilação como um sintoma e até como uma consequência da depressão, mas não é verdade. Esse comportamento, está mais caracterizado por instabilidade de humor, comportamento e relações sociais.
Em setembro, mês marcado pela conscientização e prevenção do suicídio, cada pessoa tem o seu diagnóstico. Eu queria lembrar também, que ajudar faz mais bem a que ajuda do que a quem recebe a ajuda. Abra os olhos! As pessoas pedem socorro. As vezes um: "quero sumir" pode ser mais do que só uma frase.
Isso pode acontecer com todo mundo, inclusive com VOCÊ. E toda a vez que sentir que o isolamento está chegando, ou que as coisas não estão bem, quero que leia este capítulo e se sinta abraçado, em um lugar lindo, cheio de flores, com um barulhinho de água ao fundo e um sol gigante e amarelinho brilhando no céu.
Amarelinho da cor de girassol, e tão brilhante quanto a sua vida!
Eu gostaria de esclarecer, que todas as pessoas que lêem esta história, com certeza já se perguntaram quem é a garota de quem você tanto fala, Ayra?
E bom, esta sou eu.
Eu já passei por inúmeras crises de depressão (que hoje graças aos céus, eu sou curada!) e também já pensei em sumir, sabia?
Eu demorei meses para falar abertamente sobre tudo o que eu falei aqui hoje, peço desculpas. Mas, é difícil para mim, entendem?
Uma coisa que eu queria dizer: a vida não acaba hoje. Nem amanhã. Nem no dia da tua e da minha morte. Eu não sei da tua crença, não sei se você tem uma. Mas a nossa vida é como uma fonte de energia que não é criada e nem pode ser destruída. Ela renasce em outras formas.
Assim como eu, você vai servir para alguma coisa quando não estiver mais nesse corpo, que também já formou outra coisa antes. Vamos voltar para onde surgimos. Do pó ao pó.
Se você quer ser lembrado por algo, seja lembrado por ter tido uma vida maravilhosa. Não importante, até porque quem somos nós se não um bando de babuinos bobocas balbulciando em bando? EU NÃO RESISTI, ME PERDOA KKKKKK. (pra quem não entendeu a referência: Harry Potter e o Cálice de Fogo.)
A vida passa de modo inconstante. Rápida. E nós somos jovens demais para morrer cedo assim.
Eu venci a depressão, o bullying, falsas amizades, pai tecnicamente ausente, críticas, e tudo o mais. E hoje, eu só quero ser a escritora que vai te fazer terminar de ler com um sorriso no rosto.
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Menina, maré.
RomanceEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...