Encaro a mim mesma no espelho, frustrada.
Maldito cabelo, que simplesmente não me obedece, e maldita Alice que resolveu ficar doente e me submeter a essa tortura que era me arrumar sozinha e sem ajuda.
Eu deveria estar estudando para as provas finais, que são daqui a uma semana, mas estou tentando amansar meu cabelo com a escova. Não dormir com o cabelo molhado.
Reviro os olhos, exasperada, e fito o menino de cabelos castanho escuro e olhos encantados que me encarava na porta com os olhos fixos nas curvas do meu corpo. Quanto tempo eu aguentaria dentro daquele vestido, justo demais? Seria uma tortura.
Minha única opção com relação aos meus cabelos era prendê-los em um coque despojado, deixando alguns fios caírem nas laterais do meu rosto. E torcer para que eu estivesse o mais apresentável possível.
Rafael ainda mantinha os olhos em mim, como esperado. Lanço um olhar para ele pelo espelho.
— É demais? — pergunto.
Ele sorri, maravilhado.
— Não. Você está incrível, senhorita Marchesini.
Me viro para ele.
— Estou nervosa.
— Com o quê? — ele diz, e se aproxima para que ficássemos frente a frente.
— Esse jantar. Esse vestido. Esse cabelo. Tudo. — confesso.
— É apenas um jantar de formatura. — ele diz, rindo diante de meu desespero. — E sinceramente, você está linda.
Dou um sorriso.
— Vai dar tudo certo. Temos que ir. — ele fala.
Rafael estava usando seu melhor terno, aparentemente se sentia confortável com sapatos sociais e gravata borboleta. Dou um sorriso mentalmente, analisando o quão estranho era ir a um jantar com ele depois de tudo que passamos no espaço de um ano.
A minha escola havia proposto um jantar de formatura para os 2º anos, apesar de que esse tipo de evento seja realizado quando se é o último ano na escola. Queriam comemorar nossos avanços com relação ao ano; e a escola estava bem financeiramente. Logo que lançaram o aviso do jantar, deixaram claro as principais ideias: fazer com que os alunos impressionassem os Secretários do governo que também estariam presentes.
Todas as turmas foram submetidas a aulas de etiqueta e línguas estrangeiras. Queriam que fôssemos o mais perfeito possível. Se conseguíssemos impressionar os Secretários, a escola ganharia mais verbas para intercâmbios e passeios. Obviamente, estávamos todos muito entusiasmados com a ideia.
Rafael me convidou para ir com ele na quinta, logo após minha conversa com a Alice. Aceitei de primeira.
— Você está bonito. — digo, assim que cruzamos a porta do meu quarto, ajeitando com cuidado a gravata dele.
— O.k. — ele diz.
Sorrimos.
— O.k. — repito.
— Pare de flertar comigo! — ele diz, fingindo irritação.
Penso em falar "o.k." de novo, mas apenas dou um sorriso e apago a luz, conduzindo Rafael até a porta da frente da minha casa.
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Menina, maré.
RomanceEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...