talvez estejamos insistindo em lugares que não nos cabem mais.
e quando falo de lugares, não são apenas ambientes concretos, mas também relações. (e nem sei se realmente algum dia eu coube numa relação com o Rafael, ou se era apenas a força do nosso desejo projetando um espaço maior.)
esses lugares não nos favorecem, não nos vemos mais. são lugares em que estamos sempre fazendo muita força para pertencer. e em alguns momentos você fantasia dizer qualquer coisa como "eu não estou aguentando mais isso", ou "será que você pode me dar mais um espaço de forma que caiba meu corpo inteiro?"
e quando eu falo corpo inteiro, no campo das metáforas, digo sobre quem eu sou de verdade. com todas as minhas marcas, neuroses e medos. com aquilo que eu não posso deixar do lado de fora porque, de alguma forma, já está dentro de mim. e por mais que isso não me descreva por completo, narra uma parte da minha história.
vejo que continuamos a insistir nesses lugares porque acreditamos que em algum momento haverá conforto. ou, pior que isso, supomos que não há outros lugares melhores que esse. que se sairmos, ficaremos à deriva enquanto todos os outros estão bem acomodados.
e, eu me senti assim quando o amor que eu achei essencial tinha ido por água abaixo. mas, pasme: isso não é verdade. com o tempo eu entendi que se não me encontro nesse lugar, eu posso criar o meu. e em alguns meses, o Rafael já não fazia mais parte do que eu era.
você consegue.
eu acredito em você.
todas as estrelas do céu torcem por você.— achei que não viria mais.
Lucas me dá um abraço e tira meus pés do chão, me rodopiando pela praça de alimentação do shopping.
eu sorria e podia captar entre flashes rápidos da expressão dele enquanto me rodava, como se estivéssemos sozinhos ali.
— eu quase esqueci das suas bochechas rosadas. — ele fala, e me põe no chão.
— me desculpa a demora. eu tive um imprevisto. — esclaresço.
— hmmmm, posso saber qual? — ele pergunta.
ele percebe que hesito em falar de primeira e dá um sorriso calmo para mim, me incentivando a dizer a verdade.
— o Rafael queria me ver. conversar comigo, nada demais.
e então, o sorriso no rosto dele desaparece, dando lugar a uma expressão incomodada.
— e o que ele queria?
— ah, ele estava com problemas e precisava ouvir umas verdades. só.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Menina, maré.
RomansaEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...