eleven

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We gonna let it burn, burn, burn.

           Procuro a voz. Ele levanta a cabeça, e consigo ver pela primeira vez os olhos verdes e o cabelo loiro escuro. Uau. Que? Hã? Eu, hein. Uau nada. Senhor.

          — Quer ouvir? Sabe, tem um fone sobrando e você está triste...

          — Okay. — sento ao lado dele. — Tem Ed Sheeran aí?

            

Estou distraída.

            Se passaram algumas semanas desde a minha conversa com o Miguel, e ele me chamou para sair! AHHHHHHH.

            Meninas ficam empolgadas assim quando são chamadas para sair? É um encontro, ou não? MEU DEUS. É um encontro!!!! Lógico que é. Meu Deus, socorro. O QUE FAZER EM UM ENCONTRO?

            Nós marcamos as 15h. Okay. Respira fundo, chuta perna, banco, morde dedo, arranca cuticula de lá e de cá.

            Grr.
            15h01.
            Ah, tudo bem. Poxa, eu estava ficando paranóica. Risos.

            15h30.
            Okay. Eu deveria começar a me preocupar, né? Porque eu já estava mega preocupada.

            16h.
            Ele poderia estar me procurando e gente estar se desencontrando! Era isso, mano!

            Quando deu 17h, eu deixei algumas lágrimas escorrerem.

            Olhei para um vitrô de loja de sapatos. Meus olhos estavam marejados, minhas pernas contraídas com o peso que eu estava carregando para não desabar, ali mesmo.

            Aperto meus dedinhos, gelados. Guardo o celular com mensagens não respondidas no bolso e vou embora.

            No caminho, chorei mais um pouquinho.
            Burra. Burra.
            E o bolo? Estava uma delícia, viu?

            Na rua de casa, tirei os sapatos e amarrei os cabelos em um coque alto, e encarei os últimos 100 metros. Meu coração latejando. Forte.

            Ouço uma risadinha. Mas que diabos...

            Lorena.
            Miguel.
            Se beijando. BEIJANDO? Ela tava é engolindo ele!

            Dou meia volta sem que eles me vejam (com sucesso!) e entro pela porta dos fundos.

            Deito na cama com a roupa que estou e fico ali pelos dois dias seguintes, tentando juntar cada pedacinho meu.

            As vezes, na maioria das vezes, a gente não sabe dizer o que está sentindo. Eu sei, eu sei. Tem dias que eu não aguento o peso que é sentir demais.

            

Querido diário,

            Eu não sei o que fazer. Não sei mesmo. Sério. Existe uma bagunça tão grande aqui dentro. Eu pensei que fosse mais fácil gostar de alguém. A verdade é que a vida é isso mesmo: você se esforça para andar devagarinho, na pontinha do pé para não machucar ninguém. Aí vem alguém e pisa no seu coração como se ele fosse o chão da avenida no carnaval. Haha.
            Bom, é só isso. Dia ruim. Se eu parar para pensar, eu choro. Parece que as constelações aqui dentro estão morrendo.

                                                                         Ay.

           

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora