e no fim, as borboletas no estômago eram só fome.
o Marcelo estava me rodopiando pelo jardim. nós dois estávamos descalços e rindo muito enquanto o vento batia e balançava meus cabelos.
— pare o tempo, baby...
— que hoje eu vou dançar contigo até o planeta congelar. — eu e ele dizíamos em uníssono.
ele me coloca deitada em seu colo quando sinto meus pés cansados. eu adormeci rapidamente, com uma sensação estranha no peito. eu sonhei. vou te contar como foi.
— eu entrava escondida na tua casa e esperava do lado de fora do teu quarto pra você vir me rodopiar pela sala, e os meus cabelos molhados deixando um rastro pelo corredor, e tudo parecia certo. — a minha voz estava distante.
eu estava vestida com um vestido longo tomara-que-caia preto, e tinha uma tiara de girassóis pendida na testa. estava sentada em frente à alguém, que eu ainda não sabia. tudo à minha volta parecia distorcido.
— tu sentava no meio do sofá e eu me jogava no teu colo, e tu dizia que amava tudo em mim, até mesmo meu dente tortinho que eu sempre tive implicância desde pequena. — eu falo. — e então a gente discutia sobre aquela série que eu te mostrei e virou a tua favorita e que agora dói toda vez que eu tento assistir.
o estranho solta uma risada abafada.
— quando o relógio marcasse dez pras duas — eu digo, segurando um sorriso. — eu levantaria e você tentaria me convencer de ficar só mais 5 minutos naquela nossa bolha, mas no final se daria por vencido, e então pegaria minha mão — dou um sorriso — e a gente atravessaria aquela avenida movimentada, na esperança de que meus pais não estivessem passando pelo teu bairro nesse momento.
o estranho pega a minha mão e começa a fazer pequenos círculos, e aquele toque é familiar.
— sabe — digo. — eu ainda não fiz muitas coisas nessa vida, mas ao menos eu amei. e acho que por hora isso é o bastante.
o estranho abre a boca e solta um suspiro alto, e eu sinto um perfume que me embrulha o estômago e quase me faz gorfar. era o cheiro do Rafael. era o toque do Rafael. e aquilo era um sonho tão distante que me fez estremecer nos braços do Marcelo.
porém, eu não conseguia enxergar a fisionomia do Rafa em meio à chuva que de repente começou a castigar a tarde ensolarada do meu sonho. tudo era distorcido.
— eu te disse desde o começo que nós éramos diferentes demais, mas isso não queria dizer que não poderíamos funcionar. — ele diz.
aperto os olhinhos para tentar enxergar algo além do borrão que tapava o rosto dele. nada.
— você, toda certinha. eu, todo desregrado. você que cultiva os seus relacionamentos como quem cuida de um campo de morangos perfeitos. eu que mal aprendi a plantar. — a voz dele era dele, e eu tentava me esforçar para lembrar do seu rosto, mas não existia nada. me concentro apenas nas palavras. — sabíamos que seria difícil e mesmo assim a gente quis insistir.
agora o sonho focava na minha expressão confusa e atenta.
— você eu não sei por que. eu, porque sabia que você tinha exatamente o que eu precisava, do jeito que antes eu nunca tinha encontrado em outro alguém. — a voz dele era adocicada como seu cheiro, o que embrulhou meu estômago novamente. — por isso eu fui caminhando vez ou outra segurando nas suas mãos, com o meu passo incerto, inseguro, com medo de te derrubar da corda bamba que eu mesmo criei.
eu sentia meu coração bater mais forte, sentir que o ar já não era suficiente. como se eu tivesse sido sufocada.
— e você me olhando sorrindo — ele diz. — com o orgulho de quem já esteve aqui e já aprendeu a se equilibrar. deu certo. a gente se encontrou diariamente na nossa confusão de sentimentos que nenhum dos dois soube denominar.
ele dá uma risada gostosa.
— cê teve medo de que eu explodisse nas suas mãos, como uma bomba. — ele diz, agora sério. — e, eu explodi, Sol. eu quebrei cada molécula sua. te mostrei que furacões como eu não podem ser serenos.
ele se inclina para beijar a minha testa e a minha visão fica nítida. eu recuo.
o Rafael era um espelho me refletindo.
eu acordo tonta e sendo sacudida no colo do Marcelo.
— Ayra! tá tudo bem? cara, eu tive que te acordar... você estava tremendo muito, quando começou a gritar ainda de olhos fechados eu me assustei.
tento não abrir os olhos. tudo ardia. eu chorava.
— Marcelo, me tira daqui, por favor, me tira daqui.
continua [...]
cês acharam que eu ia excluir esse caralho aqui né?
hahahahhaha VORTEI MORIS
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Menina, maré.
RomanceEstar perdida nem sempre é sinônimo de adolescência. A vida fica um pouquinho mais difícil quando temos que lidar com nossos sentimentos e com os sentimentos alheios. Essa é a minha história. Se você também anda meio machucado (a) com algo, saiba q...