forty nine

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— sabia que sentir amor por alguém que não sente o mesmo é a maior anedota? — pergunto à Alice, sorrindo.

            ela dá um sorriso triste.

            — você sabe que eu nunca gostei de alguém. mas, se serve de consolo, o Rafael não é lá essas coisas, não. olha para você, Ay. — ela abre os braços na minha direção. — você é uma menina linda. você é mais do que ele pode carregar, em todos os critérios.

            — eu sei que não se trata de um amor que tenha contraposição à eloquência de querer amar alguém só por amar. eu realmente acreditei que ele pudesse me amar. — falo, desapontada com as minhas expectativas.

            — você acreditou que pudesse mudar ele, Ayra. mas ele não quer mudar. você tem que entender isso. — ela segura meus punhos. — ele gosta de ser assim. de pagar de pegador, de desapegado. mas eu garanto, isso é só pros amiguinhos dele. você poderia ter mudado tudo para vocês darem certo, mas se ele não deu um passo sequer, não é culpa sua.

            — ele preferiu a fama que os amigos queriam do que o amor de uma menina que estava disposta a fazer tudo por ele. que grande babaca.

            — sabe o que isso me lembra? — ela pergunta, com um sorriso misterioso no rosto.

            — o que, Lice?

            — existem pessoas que fariam de tudo por você. e elas não estão muito longe...

            Alice me lança um olhar malicioso.

            — tá falando do Marcelo, Lice? — pergunto, rindo.

            ela dá de ombros, sorrindo.

            — bom, então pode ir parando. ele está em Londres. Londres, amiga!!! — nós sorrimos. — e... Marcelo é um amigo. não vê quantas vezes eu já tentei dar certo com ele? e todas elas falharam humilhantemente.

            Alice assente, um tanto perdida em pensamentos.

            — ele pensa em você. ele faz o que puder por você, Ay. até mesmo te ligar de Londres e ficar mais de 3 horas na ligação contigo. — sorrio. — você já se perguntou o que vocês poderiam ter sido se você não tivesse escolhido o Rafael? — ela pergunta, encarando o nada.

            abaixo a cabeça, com um sorriso triste no rosto.

na verdade, eu nunca pensei muito nas escolhas que eu quase, mas não fiz. 

            o Rafael me perguntou como, mesmo com a dor, o medo e as incertezas, eu conseguia permanecer amando e me permitindo sentir. e eu olhei no fundo dos olhos dele, enxergando a criança que ele era.

            eu não me permito sentir amor. eu sou amor.

            eu disse à ele que a minha bagunça continuaria minha bagunça e que eu não havia de ser salva porque não há salvadores nem grandes feitos em nossa própria história. nós somos heróis de nós mesmos. nada mais, nada menos.

            eu disse que a gente pode até ser importante pra outra pessoa, mas no final o mérito de ter sobrevivido a mais um dia e sobrepassado mais uma montanha é dela e é bom a gente lembrar disso porque elas são muito mais do que acreditam.

            eu disse que talvez ninguém nunca tenha paciência com os meus nós, mas eles vão permanecer porque fazem parte de quem eu sou e um dia alguém pode desamarrar eles comigo. ou não, e vai ficar tudo bem; porque eu ainda vou ser eu no fim do dia, no fim da vida. e isso vai ter bastado. isso tem que ter bastado.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora