thirty seven

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a ida é dura porém clara: eu não sou boa em dar certo.

            eu sempre achei impossível alguém entender minhas manias, admirar meus gostos e apreciar meus planos.

            porque eu sou intensa, ácida e sarcástica. sou humana e meus vértices são agudos.

            eu sou uma coisa vermelha e pontiaguda que ninguém nunca soube amar.

       
o dia da Lua

            tudo doía. haviam minutos em que eu pensei que não fosse aguentar, e sempre haviam mais. ela já não pertencia mais a esse mundo, e uma boa parte minha também não. 

            Henrique correu em minha direção e nos abraçamos no chão do hospital enquanto os médicos desligavam os aparelhos que mantinham a minha Lua viva.

            no dia seguinte nós comparecemos ao enterro. levei os girassóis que ela tanto gostava, e havia arrancado uma folha do Coragem das estrelas para ela.

            ajoelho em frente ao túmulo.

             — você não me disse que era assim, Lua. — digo. — é tão ruim morrer?

            Alice me abraça por trás.

             — sua mãe está no carro, amiga. ela disse que se você estiver pronta para ir... — ela diz, com voz gentil.

            me levanto do chão.

            — não queria que ela se sentisse sozinha. — eu falo, ainda olhando para o túmulo com o nome da minha bisavó.

            — eu sei que não. você é um desses girassóis. ela nunca vai estar sozinha.

            — eu tentei fazer de tudo, Alice. eu quis que aquela fosse a melhor noite da vida dela. não a última.

            Alice segura minhas mãos, acariciando-as com o polegar.

             — eu aposto que foi. — ela responde. — vou estar na salinha com o teu irmão. estou aqui com você, Sol. fica bem.

           assenti com a cabeça e me ajoelhei novamente.

— não gosto do teu silêncio, bisa. sinto que vou passar a odiá-lo ainda mais.

            dou um sorriso triste imaginando a resposta que ela daria... daria. pego um girassol daqueles e lasco um beijo. em seguida, o coloco novamente junto a pilha.

             — eu não vou te dizer adeus e nem todas aquelas coisas clichês, embora eu seja a garota mais clichê do mundo. eu não vou te dizer adeus porque eu não posso. eu não quero viver sabendo que isso foi um adeus. — despejo as palavras molhadas de lágrimas. — eu nunca vou te esquecer. prometo fazer valer a pena. prometo ser a Sol que você queria. prometo ser forte. prometo, prometo, prometo.

            enxugo algumas lágrimas, abaixo a cabeça e fecho os olhos. levanto alguns segundos depois, e vou em direção ao carro onde minha família me aguardava.

            naquela noite eu não dormi. nem nas 3 noites depois disso.

— tampinha, o pessoal do facebook está preocupado com você. por que não responde eles, hein, hein? — Henrique me fala, fazendo cócegas em mim e me fazendo soltar algo parecido com uma risada.

            eu não havia pegado no celular desde a noite que minha bisavó havia morrido.

           — vamos, vai. você tá legal? — ele pergunta.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora