forty one

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quem é o teu amor-cometa?

            — com o que você estava sonhando?

             Marcelo me coloca sentada em um banco com vista para a avenida, e o movimento dos carros quase me faz vomitar.

            — eu... eu não lembro, Marcelo. — minto. — só foi... ruim.

            ele assente com a cabeça, parado à minha frente com ar assustado.

            — por quanto tempo eu dormi? — pergunto.

            ele dá de ombros.

            — pouco mais de 40 minutos. você começou a ter espasmos leves... alguns segundos antes de eu te acordar, você começou a me bater, gritando umas coisas... então eu te acordei.

            — o que eu gritei?

            ele parece hesitar em me falar.

            — você... você disse: "não, Rafael!, volta, volta!"

            enterro a cabeça nas mãos.

            — foi tão ruim assim? — ele pergunta. — o teu sonho?

            — é. não está na lista dos melhores. 

            ele dá uma risada curta.

            — você não tira ele da cabeça nem enquanto está dormindo. haha. — Marcelo parecia estar levemente incomodado

            encaro ele.

            — acha que eu pedi para sonhar com ele, Marcelo? acha que eu quero ficar trazendo a lembrança dele à minha memória?

            Sim, digo mentalmente.

            Marcelo balança a cabeça negativamente.

            — você é um idiota. — desabafo.

            — que? — ele diz, confuso.

            — é. você. cara, eu acabei de te mostrar o quanto eu estou despedaçada e você diz como... como se eu quisesse isso. Marcelo, eu disse que estou me esforçando. 

         — bom, então se esforce mais. — ele diz, indiferente. — já vi você fazer coisas piores, coisas maiores.

            balanço a cabeça.

         — Ayra. você sabe que eu só quero o seu bem. eu faria de tudo por você. eu acredito no seu potencial. — ele fala, passando o braço pelos meus ombros.

           descanso a cabeça nos ombros dele.

           — tá sendo tão difícil eu me sentir feliz ultimamente. momentos como hoje, por exemplo. estão se tornando tão raros, Marcelo. — desabafo. — eu peguei pavor de algumas músicas, e desespero de alguns perfumes. escondi alguns livros, e guardei as cartas em uma caixa empoeirada. mas ainda dói tanto. 

          ele concorda com a cabeça.

           — às vezes a vida nos quebra e a gente é obrigado a seguir em frente mesmo assim.
e seguir em frente mesmo estando em um caminho estreito e sem flores diz muito sobre quem nós somos. eu te admiro por seguir em frente mesmo estando quase que sem forças. e eu estou aqui caso a vida seja pesada demais para os teus ombros. eu divido o peso dela contigo. — Marcelo diz.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora