Menina, maré.

twenty two

            Rafa: "Ayyyy, preciso falar com você!" 

            Rafa: "Quando chegar em casa, me chama, tá?"

            Rafa: "Beijos, se cuida, menina." 

Alguns finais são certos. Precisos, para um começo novo e ainda melhor.

            Eu pouco sei sobre existência e vida, e tudo o que aprendi está baseado no meu livro favorito, então sou suspeita a falar. Algo que aprendi, foi que por mais que as nossas partes conhecíveis um dia deixe de existir, uma outra parte maior do que esta continua aqui, emanada no mundo como energia. Essa parte de nós não morre, nem pode nascer; apenas mudar de forma, tamanho e manifestação. A vida, de uma visão precisa, não passa de um labirinto. E labirintos, infelizmente, um dia chegam ao fim.

            Era dia das mães. Como sempre, almoço na casa da vó Maria.

            Ay: "Oi, amor!!! Estou na casa da minha avó, me perdoa pela demora à responder."

            Ay: "Tá tudo bem?"

            Ay: "Feliz dia das mães pra tua mãe, um beijo pra ela!"

            Alguns instantes depois, vem a resposta. 

            Rafa: "Aaaah :("

            Rafa: "Igualmente para a sua, neném." 

            Rafa: "Queria tanto estar com a minha mãe hoje, cara..."

            Ay: "Eu sei que de onde ela está, ela olha por você. É coisa de mãe! Você é uma parte dela à alguns quilômetros de distância, só."

             Rafa: "Que bonito."

            Ay: ":) <3. "

           Rafa: "Como foi de noite? Sonhou com algo?"

            Rafa: "Cara...eu tô sentindo que vou precisar muito de você hoje... Que estranho."

             Ay: "Ahhh, acredita que eu sonhei com a tua mãe? Ela estava fazendo carinho no meu cabelo KKKKK! Foi ótimo..."

            Ay: "Não vejo a hora de conhecê-la." 

            Ay: "Meu anjo, eu vou estar bem aqui quando precisar. Para sempre. Respira fundo, isso aí é só um sentimento ruim..."

            Algumas horas depois, envio mais mensagens. 

            Ay: "Rafa, tá tudo bem?"

           Ay: "Estou preocupada..."

            Ay: "Grrr, atende essa droga!" 

            Ay: "Me liga quando der. Te amo muito."

           

 Rafael me ligou às 3h da madrugada, e as notícias não eram nada boas.

            — Alô?

            — Rafa! Cara, o que aconteceu? São 3h da madru. Eu estava surtando...eu...

            Ouço alguns soluços do outro lado da linha. Alguém estava chorando.

            — Ei, tá tudo bem? Onde você está? — pergunto.