twenty one

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Ninguém tem o tom dos teus cabelos quando o sol os atinge.

            E ninguém aprecia o vento alvoroçando os fios como você quando fecha os olhos pelo simples prazer de sentir o nada te tocando.
  
            Ninguém tem o brilho dos teus olhinhos lacrimejando só porque você acha bonito demais os feixes de luz vazando, seja pelos prédios ou pelas árvores. Ninguém tem a tua luz vendo a luz vazando por qualquer vão. 

            Ninguém gira no meio da rua como você para gravar um vídeo de tudo rodopiando só pra comentar com alguém depois como é bonito também o caos.

            Ninguém sente as palavras como você, como quando você as ressignifica ou quando explica que algumas "deslizam", enquanto outras "tropeçam". Ou quando você fala da maneira que elas saem da tua boca. 

            Ninguém tem o teu tom de voz desafinado quando canta, nem o teu tom amável quando pede pra amiga te avisar que chegou em casa e que tá tudo bem. 

            Ninguém dança assim, tão despreocupada com a desaprovação quanto à tua falta de ritmo.

            Ninguém tem a tua risada engraçada. Ninguém captura a simplicidade como você, seja com fotografias digitais, ou só com a memória. Ninguém tem a tua poesia, crua, nua, honesta. Ninguém tem a tua morada.

            Ninguém existe assim, bonito, como você. Porque essa essência é tua.

            

Os dias começaram a passar mais depressa entre tantos momentos roubados, e, acredite, eu estava tão ocupada que mal percebi ele passar.

            Não que as coisas estivessem totalmente resolvidas, porque comigo sempre funcionou do mesmo jeito: tropeçar em mim mesma, nas minhas inseguranças e até nos meus gestos. E, felizmente, isso não podia ser mudado. Essa era a minha essência.

            Rafael parecia estar mesmo me levando a sério. O que era bom. Não tínhamos nada sério, mas a gente se levava a sério. É meio complicado? Sim. Eu queria descomplicar? Talvez.

            As coisas eram fáceis como andar de meia pela casa. Mas as vezes o chão estava molhado. E aqui vai a verdade mais clichê de todas: pela primeira vez, de verdade, eu queria namorar sério.

            E ele, bom, ele queria ir com calma. Caminhar suavemente sobre a terra, sem deixar marcas permanentes. O meu erro era ser intensa demais em um amor raso.

            Claro, isso não nos atrapalhava. Entre um beijo e outro, íamos nos completando...E entre uma briga e outra, nos perdendo. Fomos feitos para nos equilibrar.

            — Ei, ei, ei, linda. — ele me chama.

            Sorrio para ele e caminho em sua direção.

            — Oi!!!

            Ele beija minha bochecha.

            — Senta aqui com a gente. — ele pede. Olho pra ele e ele da uma piscadela.

            — Do que vocês estão falando? — pergunto.

            Em uma mesa estavam os amigos do Rafa e alguns amigos meus.

            — Batalha de rima. Quer participar? — Paulo, um amigo, me pergunta.

            — Ah, obrigada. Eu passo essa. — eu falo.

Menina, maré.Onde histórias criam vida. Descubra agora