Capítulo 10 - As rochas douradas

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 Capítulo 10 - As rochas douradas

          Malévola desembaraçou os cabelos com os dedos enquanto assimilava tudo o que James havia informado. Em sua poltrona de veludo vermelho, bateu os dedos sobre o apoio de braço, pensando se deveria se vingar de Eli, ou se raptar a menina já seria o suficiente. O fadem ainda seria útil, então era melhor se aquietar e obter mais informações com o pirata.

- Você viu a tal alternadora?

- Não. Como eu disse, há muitos guardas vigiando a região. Fui cauteloso.

- A menina vai voltar de madrugada, vestida de menino ou de animal. É espertinha. Pode usar seu pó contra os guardas, então isso não irá afastá-la. Retorne, observe, seja discreto. Deixe o gancho comigo. Isso talvez até te motive. Quanto mais rápido você trouxer a garota, mais cedo terá seu gancho e sua barba de volta.

- E minhas roupas.

- Nem um pedinte iria querer aqueles trapos, mas não farei objeção ao seu gosto peculiar. – Malévola sentiu-se aliviada por Edgar se vestir com classe. - Enquanto estiver lá, seja útil. Descubra que tipo de relacionamento a alternadora tem com a menina e com o rapaz.

- Relacionamento? Com a menina eu já disse e não há nada a acrescentar. Quanto ao fadem, suponho que Vossa Majestade o conheça bem. Sua intenção é saber se a alternadora é bonita. É o que quis dizer com relacionamento, certo?

- Você é um homem inteligente, James. Admiro essa qualidade, quando me beneficia. Também a vigio quando percebo que pode ser nociva.

          James circundou o salão, inquieto. Não conseguiu deduzir o que ela podia ler nele, o que ela percebia. A rainha das trevas observava cada movimento dele. Era como estar preso numa teia de aranha. Não dava para escapar. Ela era melhor estrategista dentre as estrategistas.

***

            Anco beijou a tampa da bandeja do "almotar" de Úrsula, originalmente conhecida como Pérola. Ela havia tomado o desjejum, mas na ausência da rainha, não houve informação a respeito do almoço, logo, a refeição noturna teve de ser reforçada, com direito a tangerina de sobremesa.

           Ele se aproximou da cela onde a bruxa apertava a barriga de fome, deitada, e anunciou com a voz animada:

- Amanhã você vai comer três vezes! A minha rainha liberou suas comidas todas.

- Obrigada, Anco.

- Se você comesse baratas, não ia ficar com fome. Sempre tem muitas por aqui.

- Eu as entendo. É um lugar muito bom de se morar. Confortável e cheiroso.

          Úrsula ficou de joelhos perto da grade e atacou o arroz e o frango, roendo a carne das coxas e das asas. Chegou a lamber a ponta dos dedos.

- Posso ficar com os ossos? – Anco pediu, com água na boca.

- Come aí. – Ela entregou a ele.

- Uhmm! São a melhor parte. E as tripas dos leitões. Tripa é uma iguaria!

          A bruxa arregalou os olhos, limpando a boca com a mão. Ogros deviam gostar de tudo o que os outros seres não gostavam.

- E o tal pirata ainda serve a sua rainha?

- Sim – Anco respondeu de má vontade. – Ele passou o dia não sei aonde e depois foram conversar sobre assuntos particulares. A rainha está esperando alguma coisa e ele ainda não fez o que tem que fazer. Se a minha rainha manda, eu faço na hora. Sou o melhor servo. Sou "mervo"! Melhor que os gigantes e que esse pirata boboca.

O Conto dos Contos 2 - A Lenda do Era Uma VezOnde histórias criam vida. Descubra agora